TOLERÂNCIA ZERO PARA A INTOLERÂNCIA

 

Estação de metrô Belém, SP, 17 de abril de 2012


Cartaz pra comprimido de dor de cabeça: “Seu cartão de crédito estourou. Mas sua mulher ficou linda”. Precisa explicar? É o mesmo clichê do comercial da Hope com a Gisele, em que ela estoura o cartão de crédito do marido e precisa usar seu charme de brasileira pra contar a notícia pra ele. É o mesmo clichê de um anúncio gaúcho que uma leitora me enviou uns tempos atrás. A ideia é que mulher não tem sua própria renda. E, como mulher é um bicho ultraconsumista, gasta toda a grana do marido/namorado em futilidades. Mas pelo menos ela fica linda e arrumada -– que é, afinal, a única coisa que importa em se tratando de mulheres. A dor de cabeça do marido provedor é compensada.
Mas você notou, lá no meio do cartaz, uma seta azul com os dizeres “O machismo nosso de cada dia”, apontando pra frase “sua mulher ficou linda”? Isso foi obra da Gabriela, de 24 anos, e sua namorada. E aconteceu anteontem, na estação de metrô Belém, em SP. Gabi me enviou o email: “Segue uma singela, porém necessária, atitude minha e da minha namorada. Se quiser e considerar pertinente, divulgue para nós! Pretendemos continuar com as intervenções; acho que ainda ouvirá falar de nós por aí!”.Alguém pichou este outdoor. Não sei quem, nem quando, nem onde.Isso me lembrou uma matéria que vi recentemente na revista americana Ms. (a LisAnaHD me deu uma assinatura da revista feminista que agora completou 40 anos anos), sobre Irmela Mensah-Schramm, uma senhora alemã que há 25 anos apaga pichações de ódio. Ela risca adesivos nazistas ou grafita por cima. Apesar de sua missão louvável, ela recebe caras multas da polícia por depredação de propriedade, além de ser perseguida por grupos neonazistas, que não gostam de ter suas criações vandalizadas.
Lógico que vai ter gente que apoia Irmela (vandalizar pichações tudo bem) e condena Gabriela e a namorada. Porque uma coisa é grafite, e nazista, ainda por cima, algo que nem deveria estar naquele muro em primeiro lugar. E outra coisa é colocar papéis em cima de (ou pichar!) inocentes outdoors que pagaram pra estar lá. Pichações nazistas estão pregando ódio, então tá certo se rebelar contra elas. Mas propaganda que só é machista pros olhos sensíveis das feministas radicais não está pregando nada. Só quer vender, tadinha! E vem duas lésbicas e não deixam?Guerrilha urbana! O outdoor diz: “Se [o carro] fosse uma mulher, levaria um beliscão no bumbum”. Uma mulher pichou: “Se essa mulher fosse um carro, te atropelaria”.


Ou talvez nossa sociedade encoraja tanto o machismo e a misoginia que já nos anestesiamos contra eles? Nem o percebemos mais? Não é tão gritante como uma suástica?
Parabenizo e apoio a ação de Gabriela e namorada. Se o capitalismo tem dinheiro pra comprar espaços públicos (e como tem!), nó
s temos o direito de protestar contra o que é veiculado nesses espaços comprados.

E lembre-se: o problema não é a gente ver machismo em tudo. O problema é você não ver.
Não somos tímid@s. Somos contagios@s. E leitoras muito rápidas já começaram um Google Group de combate, o Machismo Nosso de Cada Dia. Entre lá!
Disponivel em http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/04/tolerancia-zero-para-intolerancia.html

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