Folha não é mais o maior jornal do país. E daí?

26 janeiro 2011


Foi muito comemorada na blogosfera e nas redes sociais a divulgação da notícia de que, depois de 24 anos, a Folha de S. Paulo deixou de ser o jornal de maior circulação do país. A Folha foi ultrapassada pelo jornal Super Notícia, de Minas Gerais, e a maioria dos comentários a respeito atribuiu a mudança de posições aos erros da Folha e aos ataques do jornal paulista à campanha de Dilma Rousseff. Me parecem enganos, tanto a atribuição de causa quanto a comemoração.

A verdade é que a circulação da Folha em 2010 manteve-se praticamente estável em relação a 2009. Passou – sempre arrendondando – de 295 mil para 294 mil exemplares diários. Queda insignificante. Enquanto isso, O Globo subiu de 257 mil para 262 mil. O Estadão teve grande crescimento: 213 mil para 236 mil. A impressão clara é de que o crescimento que a Folha poderia ter tido migrou para o Estadão. Isso muda muito pouco. Não torna a distribuição mais democrática nem melhora realmente a qualidade da leitura dos brasileiros. Dos três principais jornalões do país, apenas a Folha caiu, e muito pouco ou quase nada.
Apesar de duas alterações de posicionamento (Folha trocou com Super Notícia e Zero Hora ultrapassou Meia Hora), os dez jornais de maior circulação continuam os mesmos, apesar da grande queda do Lance, de 125 mil para 94 mil exemplares diários. No Rio Grande do Sul, crescimento também na circulação da Zero Hora, do Correio do Povo e do Diário Gaúcho (também veículo do Grupo RBS).
Os jornais populares que estão na lista tiveram, em seu conjunto, uma queda grande, de 30 mil exemplares diários, enquanto os jornais tradicionais aumentaram em 27 mil exemplares sua circulação. A grande queda dos jornais Meia Hora e Extra puxaram pra baixo a circulação dos populares, mas o Super Notícia cresceu a ponto de se tornar o maior jornal do país.
O Super Notícia não segue a linha da linguagem agressiva e preconceituosa de boa parte dos chamados “jornais populares”, mas a linha editorial passa longe de ser o que se costuma defender nos espaços que hoje comemoraram a “queda” da Folha de S. Paulo. Não é um jornal de esquerda. Não colabora para a emancipação de seus leitores, não os instrui, não os informa verdadeiramente sobre as questões de seu espaço e seu tempo. Ao mesmo tempo, a Folha não teve uma queda verdadeira. E O Globo cresceu. E o Estadão cresceu. E a Zero Hora cresceu. O cálculo do IVC não mede a situação dos veículos independentes. O que há para ser comemorado nessa pesquisa? Absolutamente nada. Entender ou fazer entender que esses dados mudam alguma coisa é um erro. A democratização da comunicação ainda está muito longe, e os dados do IVC não são passo algum.
Postado por Alexandre Haubrich

0 comentário(s):

Postar um comentário

Deixe sua sugestão, crítica ou saudação juntamente com seu contato.

 

© 2009-2012 movimento contestação