Editorial de Zero Hora defende propriedade cruzada na mídia. Por quê?


A imprensa deve operar em defesa da sociedade ou de seus interesses privados? O interesse financeiro e empresarial dos veículos de mídia deve estar acima do interesse público? Estes interesses empresariais devem ser omitidos da sociedade? A mídia, com sua função irrevogável de instrumento de educação e conscientização, tem ou não a obrigação da transparência? Estas são algumas das perguntas que se impõe quando, em seu corpo de reportagens ou em seus editoriais o jornal Zero Hora defende seus próprios interesses comerciais sem apontá-los como tais.
Nesta segunda-feira, mais um editorial corporativista, e que não admite qual a corporação que defende. Defende diretamente os interesses do próprio Grupo RBS e empresas de mídia similares, que concentram a informação da mesma forma que acontece em tantos outros setores da economia capitalista, mas com um agravante: os elementos educacionais, informativos e ideológicos que fazem parte da comunicação. O texto é uma defesa aberta da propriedade cruzada dos meios de comunicação, em um texto que não explica as implicações desta prática, e, menos ainda, explica os interesses do Grupo RBS que estão em jogo nesse debate.
O primeiro parágrafo do texto diz assim:
Ao que tudo indica, sairão de cena velhos ranços ideológicos, entre os quais a campanha pelo veto à propriedade cruzada de veículos de informação e a obsessão pelo controle social da mídia, e entrarão em discussão temas objetivos como a própria liberdade de imprensa, a qualidade dos conteúdos e o cumprimento rigoroso dos preceitos constitucionais.
Depois de ser definida como “ranço ideológico”, a ideia das limitações à propriedade cruzada é classificada como “discurso radical que flertava com o autoritarismo”, “impasse ultrapassado” e “visão retrógrada”. Depois, o editorial afirma, se referindo à internet, que “ao mesmo tempo em que torna urgente a revisão do marco regulatório do setor, já propicia a tão falada democratização dos meios, que é regulada pelo próprio mercado”. Ah é?
Segundo o site do Grupo, a RBS é formada por “18 emissoras de TV aberta, duas emissoras de televisão comunitária, uma emissora segmentada focado no agronegócio, 25 emissoras de rádio, oito jornais diários, quatro portais na internet, editora, gráfica, gravadora, empresa de logística, empresa de marketing e relacionamento com o público jovem, participação em empresa de mobile marketing, e fundação de responsabilidade social”. Por que será que defende a propriedade cruzada dos meios de comunicação? AQUI no Jornalismo B tivemos, em 2009, um post sobre uma audiência pública chamada pelo Ministério Público para discutir o monopólio da RBS no Rio Grande do Sul. O fim da propriedade cruzada acabaria com boa parte do problema rapidamente.
Nos EUA, na França e no Reino Unido a propriedade cruzada é limitada (leiaAQUI como funciona por lá). São países que a grande imprensa brasileira adora usar como exemplos de sociedades civilizadas para afirmar coisas como “se lá é assim, por que não aqui? Estamos atrasados”. Porém, nesse caso, é claro que o editorial de Zero Hora esqueceu de contar como funciona em outros países.
Finalmente, sobre as implicações gerais do fim da propriedade cruzada, omitidas pelo tal editorial, podem ser resumidas em uma palavra: democratização. Outra expressão sempre distorcida pela mídia dominante também explica bem o caminho que o fim da propriedade cruzada pode ajudar a trilhar: liberdade de expressão. O raciocínio é muito simples: comunicação descentralizada -> mais vozes no espectro midiático -> mais gente com liberdade para falar -> mais democracia.
Postado por Alexandre Haubrich

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