A minissaia que virou São Paulo

Por Juremir Machado

"Somos bárbaros com um verniz de civilização", comenta o blogueiro

A minissaia que virou São Paulo- Crédito: AE

O futuro nunca está garantido. O caso da minissaia da guria da Uniban mostrou que estamos sempre a um passo da pré-história. Somos bárbaros com um verniz de civilização. Vivemos no limite. Que os paulistas são atrasados e machistas, no entanto, já se sabia. Basta lembrar que adoram brincar de faroeste caipira e usam aquelas botas e chapéus ridículos. Mas agora eles passaram do aceitável e arranjaram lugar perpétuo em quadros de humor. Ultrapassaram facilmente o machismo gaudério. Um estudante da Uniban alegou que as pernas da menina o impediam de se concentrar na aula. É o velho argumento da provocação. O corpo feminino tiraria os homens do sério e os faria perder a cabeça. Uma boa solução seria impor o uso da burca na Uniban. Poderia ser inventada a burca paulista, com filtro para poluição.

A poluição maior, obviamente, é da cabeça de uma gurizada retrógrada e sem vergonha de expor o atraso mental. Outra solução seria mandar a gurizada da Uniban para um estágio no Rio de Janeiro, onde eles passariam seis meses só de calção e vendo milhões de garotas seminuas. O que eles fariam quando encontrassem uma mulher de biquíni na Visconde do Pirajá, em Ipanema, distante umas três quadras do mar? A Uniban agiu como os velhos diabolizadores da mulher: expulsou a serpente do campus. Teve de voltar atrás. Não teria sido mais justo mandar embora aqueles machistas que se comportaram como trogloditas ou talibãs? Aí doeria na conta da respeitável instituição. As meninas da Uniban deviam ter reagido cruelmente. Deviam ter ido às aulas de microssaia.

A guria ficou 40 minutos num ônibus antes de sacudir a Uniban com seus bumbum provocador. A massa do coletivo comportou-se adequadamente. Já a turma universitária perdeu a compostura. Sinal dos tempos. Nossas elites já não se dão o respeito. As mulheres, pelo jeito, vão ter de voltar a queimar sutiãs nas praças visto que os homens estão querendo queimar minissaias nas salas de aula. Os machões da Uniban alegam que a guria ainda levantou o vestido ao subir uma escada para afrontá-los. Bem pensado, era a única coisa que podia fazer. Era a única arma de que dispunha para enfrentar uma horda de selvagens em disparada moralista carregada de hipocrisia.

É incrível como uma calcinha ainda pode chocar o mundo. Em 2009, estudantes universitários ainda ficam embaixo da escada para se chocar com a visão “obscena” de um sexo sempre tão desejado. Bunda pode vender cerveja na televisão. Mas deve ser escondida nas universidades paulistas para evitar tumultos. É a crise dos 40. A crise dos 40 anos de 1968. Claro que os estudantes da Uniban nunca ouviram falar em maio de 68. Aposto, no entanto, que levam as namoradas para dormir em casa. Pelo jeito, no entanto, os guris da Uniban devem ser contra que suas irmãs levem os seus namoradores para dormir em casa. Afinal, homem da Uniban é homem. Mulher é outra coisa. Os guris da Uniban não poderiam olhar o ranking das universidades da Playboy. Tem mulher pelada. Que horror!

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