Hoje o Estatuto do Nascituro foi aprovado na Comissão de Finanças.
Ainda falta ser aprovado na Comissão de Justiça a no 
Plenário. Mas não duvido nada que seja. Nunca ouviu falar do Estatuto do
 Nascituro? Basicamente é o seguinte: um ÓVULO FECUNDADO vai ter mais 
direitos do que eu, do que a sua mãe, do que a sua irmã e do que a minha
 filha e todas as outras mulheres do Brasil. Se, digamos, minha filha de
 nove anos fosse estuprada e engravidasse, não teria direito a fazer um 
aborto; teria de manter o filho do agressor. Se caso não tivesse 
recursos para sustentar a criança (!!!), o Estado se responsabilizaria 
com a apelidada BOLSA ESTUPRO até os 18 anos do filho - isso caso o 
estuprador não fosse identificado e RESPONSABILIZADO. Aborto de 
anencéfalo? Esquece. Risco de vida pra mãe? Foda-se a mãe. Trauma? 
Foda-se a mãe. 
O aborto ilegal já causa 22% das mortes maternas. Com essa
 monstruosidade aprovada, é provável que esse número dobre, triplique. 
Criminalizar o aborto não é solução. Já falei sobre isso aqui. 
Mas isso é muito, muito pior. Até o "aborto culposo" 
querem inventar. Sabe homicídio culposo, onde a pessoa não tem a 
intenção de matar? Então. Vai ser a mesma coisa se a mulher abortar 
acidentalmente. Ela será investigada. Imagina só perder um filho e ainda
 ser suspeita disso? 
Se a mãe correr risco de vida e precisar de um tratamento 
que coloque em perigo a vida do feto, ela será proibida de se tratar. 
Afinal, a vida de um amontoado de células que ainda não nasceu, não tem 
personalidade, não tem consciência, é evidentemente mais importante do 
que a de uma mulher formada. 
Vejamos alguns dos artigos dessa aberração: 
Art.1º Esta lei dispõe sobre a proteção integral ao nascituro.
O embrião, você quer dizer. O amontoado de células.
Art. 2º Nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido.
Pff.
Parágrafo único. O conceito de nascituro inclui os
 seres humanos concebidos “in vitro”, os produzidos através de clonagem 
ou por outro meio científica e eticamente aceito.
 Quer dizer, ATÉ UM CLONE é mais importante do que a vida da mãe.
Art. 4º É dever da família, da sociedade e do 
Estado assegurar ao nascituro, com absoluta prioridade, a expectativa do
 direito à vida, à saúde, à alimentação, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar, além de colocá-lo a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão.
SENHORES, NÃO SEI SE VOCÊ SABEM, MAS ELE AINDA NÃO NASCEU.
Art. 9º É vedado ao Estado e aos particulares 
discriminar o nascituro, privando-o da expectativa de algum direito, em 
razão do sexo, da idade, da etnia, da origem, da deficiência física ou 
mental ou da probalidade de sobrevida.
E a mãe que se foda.
Art. 10º O nascituro deficiente terá à sua 
disposição todos os meios terapêuticos e profiláticos existentes para 
prevenir, reparar ou minimizar sua deficiências, haja ou não expectativa
 de sobrevida extra-uterina.
E a mãe que se foda, depois de ter passado uma gestação inteira sabendo que o filho não sobreviveria. 
Art. 13 O nascituro concebido em um ato de 
violência sexual não sofrerá qualquer discriminação ou restrição de 
direitos, assegurandolhe, ainda, os seguintes:
I – direito prioritário à assistência pré-natal, com acompanhamento psicológico da gestante;
II – direito a pensão alimentícia equivalente a 1 (um) salário mínimo, até que complete dezoito anos;
III – direito prioritário à adoção, caso a mãe não queira assumir a criança após o nascimento.
Parágrafo único. Se for identificado o genitor, 
será ele o responsável pela pensão alimentícia a que se refere o inciso 
II deste artigo; se não for identificado, ou se for insolvente, a 
obrigação recairá sobre o Estado.
 Quer dizer: se uma menina for estuprada pelo próprio pai e
 engravidar, ela vai ter que carregar o filho/irmão, parir, criar e 
ainda ter que lidar com o pai de ambos, ou colocar o filho para adoção, 
como se os orfanatos fossem lugares bacanérrimos, como se o processo de 
adoção fosse algo fácil, como se isso tudo tivesse alguma conexão com a 
realidade. Se uma mulher for estuprada por desconhecido, até parece que 
vão caçar o cara para que ele dê pensão. Não sei o que é pior, o Estado 
oferecer a pensão ou sugerirem que o ESTUPRADOR pague pensão. Ele 
deveria estar preso, não deveria? Se encontrado, o estuprador não seria 
preso, mas obrigado a sustentar um filho? Vão querer visita obrigatória 
também? É completamente fora da realidade. Completamente. É de uma falta
 de empatia que eu nunca vi nessa vida. Obrigar uma mulher a carregar o 
fruto de uma violência é acabar com a vida dela. Ou seja, mais uma vez: 
FODA-SE A MÃE.
É basicamente isso que diz o Estatuto do Nascituro: 
foda-se a mãe, foda-se a mulher que sofreu violência, foda-se a vida 
delas. O que importa é a vida que foi gerada. 
E isso é baseado em que, mesmo?
Crenças. Crenças de que DEUS mandou essa vida. Gente, olha
 só, eu sou atéia, eu não tenho DEUS ALGUM. Se você tem um deus e ele 
não quer que você aborte, apenas NÃO ABORTE. Mas tire as suas idéias, as
 suas crenças e essa violência toda do corpo das outras mulheres. Das 
mulheres. De todas as mulheres. 
O Estado não pode mandar em nossos corpos. 
Não podemos aceitar. Não podemos nos calar. Não podemos deixar que os fundamentalistas religiosos tomem assim esse país.
O
ESTADO
DEVE
SER
LAICO.
Se não lutarmos por isso, se não fizermos barulho, 
retrocederemos mais e mais e mais até, sei lá, não podermos usar energia
 elétrica ou remédios. 
Conto com vocês pra fazer um escarcéu. 
Texto disponível em Clara Averburk, em 05 de junho de 2013. 
 
 



 
 
 
 
 


 
 
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