Marcha das Vadias em Porto Alegre

Não poderia passar por mais essa edição da Marcha das Vadias sem partilhar algumas considerações.

 Foto de Jocassia Motta, no facebook 
 
 
Foi uma bonita Marcha! As gaúchas devem ser reconhecidas por isso, pois o vento gelado da Redenção soprando 18°, e as vadias de sainha, calcinha, sutiã ou mesmo peitos a mostra, merecem o reconhecimento geral. Mostrar o corpo em alguns locais é um grande desafio, mas no frio é demonstração de comprometimento com a causa!
Infelizmente, essa foi uma das menores edições da mesma. Talvez pela alteração da data, pelo frio, ou mesmo pelos problemas com divulgação... Mas certamente tivemos uma equipe de organização que, já experiente, demonstrou coerência e responsabilidade. 

Mas do local onde estava com as companheiras do Movimento Contestação, pudemos observar alguns setores que não conseguiram dialogar: comissão de frente (organização), anarquistas, negras e LGBTs – pra quem estava sensível, percebeu que as diferenças eram gritantes. 

Nem mesmo a presença de mascus não foi visível, só mesmos os comentaristas do machismo (de quem não conseguimos nos livrar). 
 
As meninas do Coletivo Negração, fizeram uma intervenção muito bonita, bem articulada e politizada reivindicando um feminismo negro. 
 
Os LGBTs gritavam que um feminismo transfóbico fortalecia o patriarcado. 
 
E as anarquistas queria a morte dos héteros. Isso mesmo.
 
Lamentamos a posição das anarquistas e autonomistas, que tiveram uma atitude inconsequente e “racharam” a marcha, rumando à Cidade Baixa, para um escracho a bares acusados de violência contra a mulher e homofobia. 
 
A organização, junto com o cachão do feminicídio, seguiram à Delegacia da Mulher, para a leitura e reivindicação de que as políticas para mulheres sejam aplicadas de forma real, protegendo as mulheres que mais necessitam. 
 
O escacho tem a sua função, mas alegar que não protestariam em frente a delegacia “porque a polícia é opressora” soa como a maior falta de argumento. Todxs sabemos que a polícia é opressora, que a delegacia não funciona 24h, que os profissionais não estão qualificados para atender as vitimas, que a Lei Maria da Penha não garante a segurança a vida das mulheres. E por isso precisamos ir até a delegacia exigir que isso aconteça.

No entanto, se deu mais importância a ir xingar o dono do bar e os seus frequentadores, quando a maioria das mulheres e LGBTs proletários e que são vítimas das mais diversas formas de violência não frequentam esses locais. Triste ver algumas pichações sem fundamento algum, do tipo “morram héteros”.
 

Com quem isso dialoga?

 Marlise Paz, ironizando: morre mais um hétero em POA 




A Marcha das Vadias vem para chocar, mas precisa dialogar com a população (não com os machistas e homofóbicos, mas com as pessoas de senso comum). Precisamos parar de frequentar esses lugares e fazer que nossos amigos também o façam. Mas sobretudo é necessário um debate político consciente e coerente, que não discuta amenidades, mas intervenções que possibilitem mudanças reais para as mulheres, trabalhadoras, negras, lésbicas, trans, que abortam, que se prostituem, que usam transporte público, que são mães, que são oprimidas, que são vadias: que querem e precisam ser livres!
 

A luta não se impõe, se ensina. Marlise e Duda no facebook


 
Por MARIA, L.P.

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