Uma semana depois de completar 16 anos fiz meu título de eleitor. Tinha uma ânsia enorme de poder exercer o meu direito ao voto - o direito de colaborar com as decisões políticas da nossa sociedade. Isso me inspirava de tal forma, que nem sei explicar o que senti no dia que cheguei em casa com meu título em mãos.
Foi em 2004, e naquele ano haveriam eleições municipais. Lembro que na minha cidade as eleições foram anuladas e ocorreram novamente em março do ano seguinte, e o resultado se repetiu: Jair Foscarini prefeito e, por sua vez, meu 'chefe', pois eu era estagiária em uma escola municipal.
Até então, eu era simpatizante do PT, partido político por quem eu, adolescente nutria uma certa afeição. Tive várias professoras petistas (petezonhas, como ouvi algumas vezes) apaixonadas, que me contagiaram de alguma forma. Eis que neste mesmo ano surgiu o PSOL. Inicialmente, essa mudança me causou certo estranhamento, pois mesmo não sendo militante, percebia que muitas coisas estava erradas naquele PT que desde criança acompanhei.
Como votava no Ralfe (vereador de Novo Hamburgo), resolvi acompanhar tal mudança.
Sempre acreditei que o voto além de um direito, fosse um profundo instrumento de mudança. Inclusive ficava revoltada com os colegas da minha idade que não faziam questão de votar, pois ainda não tinha 18 anos... Como alguém em sã consciência vai abrir mão do seu direito de escolha, por não ter isso como obrigação?
Claro, que hoje tenho o entendimento do descrédito que a maioria das pessoas têm pela política, e que o cenário atual não é favorável para essa relação mais estreita entre as decisões políticas e a sociedade.
Em 2007, quando entrei na universidade, então com 19 anos, conheci alguns militantes do PSOL. Militantes mesmo... pessoas que acreditavam e que realmente atuavam politicamente nos espaços onde estivessem. Passei a fazer parte do diretório acadêmico e me relacionei com pessoas de diferentes partidos políticos e tive a feliz oportunidade de conhecê-los mais de perto.
Em 2008, uma amiga, a Vanessa, foi candidata a vereadora em nossa cidade. Na realidade, estar em um partido político me parecia algo abstrado demais, até me deparar com uma amiga em campanha eleitoral, onde colaborei como pude. Desde então me senti mais próxima de uma intervensão política de fato. Mas sempre deixei claro aos companheir@s, que colaboraria sempre, mas só me filiaria no dia em que eu achasse que realmente devesse fazer isso.
Acontece, que discretamente, em 2011, enquanto todos jantavam, durante o Acampamento do Movimento Contestação, peguei a ficha de filiação e preenchi. Lembro que passei o fim de semana cutucando a todos, insistindo que a sociedade organizada não necessita de uma organização partidária. Muito embora nem eu acreditasse naquilo. Resolvi me filiar ao PSOL, devido a acontecimento muito pessoais (familiares), onde me dei conta de que apenas o meu voto era pouco... eu precisava fazer mais: construir a mudança na qual acredito.
Hoje, me dei conta que no dia em que o voto feminino completa 80 anos no Brasil, sou uma eleitora há 8 anos. Ao longo deste tempo, percebi que exercemos nossa cidadania não só nas urnas, a cada dois anos, mas na nossa militância cotidianda, nas nossas intervensões.
Queria comemorar mais do que o direito ao voto. Queria comemorar viver em um país livre, em uma sociedade consciente. Onde não apenas o voto, mas onde a mulher fosse realmente respeitada e ouvida, onde mulher negra tivesse os mesmos espaços e oportunidades dos homens brancos. Onde as diferenças religiosas não interferissem nas decisões políticas. Onde todos tivesse o acesso a mesma educação pública e de qualidade.
Talvez, comemoraremos uma coisa de cada vez.
Mas agora a minha função vai além do voto, está na luta. Espero que possa contar com quem leu esta postagem até aqui.
Letícia Pereira Maria
Mestranda em Ciências Sociais
Militante do Movimento Contestação e do Partido Socialismo e Liberdade
Disponivel também em http://letthyssia.blogspot.com/
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