Pela imediata responsabilização da TV Globo no caso BBB12

Dois fatos muito graves ocorreram esta semana envolvendo o Big Brother
Brasil. O primeiro foi com a participante Monique, que pode ter sido vítima
de crime praticado por outro integrante do programa. O segundo foi a
absurda atitude da TV Globo frente ao ocorrido. Em relação ao primeiro,
cabe à polícia apurar e à justiça julgar, buscando ouvir os envolvidos,
garantindo que eles estejam livres de pressões e constrangimentos. Já em
relação ao segundo, é preciso denunciar a emissora e os anunciantes que
sustentam o programa, e cobrar as autoridades do setor.

Frente a indícios de um possível abuso sexual contra uma mulher
participante de um de seus principais programas, a Globo, além de não
impedir a violência no momento em que ela poderia estar ocorrendo, tentou
escamotear o fato, depois buscou tirar de circulação as imagens e
finalmente assumiu o ocorrido sem nomeá-lo. Na edição de domingo do
programa, após todas as denúncias que aconteciam pela internet, ela
transformou a suspeita de um crime em uma cena "de amor". O espírito da
coisa foi resumido pelo próprio apresentador Pedro Bial: “o espetáculo tem
que continuar”. A atitude é inaceitável para uma emissora que é
concessionária pública há 46 anos e representa uma agressão contra toda a
sociedade brasileira.

Pelas imagens publicadas, não é possível dizer a extensão da ação e saber
se houve estupro. A apuração é fundamental, mas o mais importante é o que o
episódio evidencia. Em primeiro lugar, a naturalização da violência contra
as mulheres, que revela mais uma vez a profundidade da cultura machista no
país. No debate público, foram inúmeras as tentativas de atribuir à
possível vítima a responsabilidade pela agressão, num discurso ainda
inacreditavelmente frequente. O próprio diretor do programa, Boninho, negou
publicamente que as imagens apontassem para qualquer problema.

Em segundo lugar, o episódio revela o ponto a que pode chegar uma emissora
em nome de
seus interesses comerciais. A Globo fatura bilhões de reais anualmente pela
exploração de uma concessão pública, e mostra, com esse episódio, a
disposição de explorá-la sem qualquer limite nem nenhum cuidado com a
dignidade da pessoa humana. O próprio formato do programa se alimenta da
exploração dos desejos e das cizânias provocadas entre os participantes e
busca explorar situações limite para conquistar mais audiência. Assim, o
que aconteceu não é estranho ao formato do programa; ao contrário, é
exatamente consequência dele.

Em terceiro lugar, fica evidente a ausência de mecanismos de regulação
democrática capazes de apurar e providenciar ações imediatas para lidar com
as infrações cometidas pelas emissoras. Como já vem sendo apontado há anos
pelas organizações que atuam no setor, não há hoje regras claras que
definam a responsabilidade das emissoras em casos como esse, nem tampouco
instrumentos de monitoramento e aplicação dessas regras, como um Conselho
Nacional de Comunicação ou órgãos reguladores.

Uma das poucas regras existentes para proteger os direitos de crianças e
adolescentes – a classificação indicativa – está sendo questionada no STF,
inclusive pela Globo. A emissora, que costuma tratar qualquer forma de
regulação democrática como censura, é justamente quem agora pratica a
censura privada para esconder sua irresponsabilidade. É lamentável que
precise haver um fato como esse para que o debate sobre regulação possa ser
feito publicamente.

Frente ao ocorrido, exigimos que as Organizações Globo e a direção do BBB
sejam responsabilizados, entre outros fatos, por:

• Ocultar um fato que pode constituir crime;
• Prejudicar a integridade da vítima e enviar para o país uma mensagem de
permissividade diante de uma suspeita de estupro de uma pessoa vulnerável;
• Atrapalhar as investigações de um suposto crime;
• Ocultar da vítima as informações sobre os fatos que teriam se passado com
ela quando estava supostamente desacordada.

É preciso garantir, no mínimo, multas vultuosas e um direito de resposta
coletivo para as mulheres, que mais uma vez tiveram sua dignidade atingida
nacionalmente pela ação e omissão da maior emissora de TV brasileira.

Os anunciantes do BBB – OMO (Unilever), Niely Gold, Devassa (Schincariol),
Guaraná Antártica e Fusion (Ambev) e FIAT – também devem ser entendidos
como co-responsáveis, e a sociedade deve cobrar que retirem seus anúncios
do programa ou boicotá-los. Suas marcas estão ligadas a um *reality
show*que, para além de toda a crítica sobre os valores que propaga à
sociedade –
da banalização do sexo e do consumo de álcool à mercantilização dos corpos
– , permite a violação de direitos fundamentais.

Finalmente, é fundamental que o Ministério das Comunicações coloque em
discussão imediatamente propostas para um novo marco regulatório das
comunicações, com mecanismos que contemplem órgãos reguladores democráticos
capazes de atuar sobre essas e outras questões.

Este é mais um caso cujas investigações não podem se restringir à esfera
privada e à conduta do participante suspeito. Exigimos que o Poder
Executivo cumpra seu papel de fiscal das concessionárias de radiodifusão e
não trate o episódio com a mesma "naturalidade" dada pela TV Globo.
Esperamos também que o Ministério Público Federal se coloque ao lado da
defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana e
responsabilize a emissora pela forma como agiu diante de uma questão tão
séria como a violência sexual contra as mulheres.

Brasil, 18 de janeiro de 2012

•  FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
•  Rede Mulher e Mídia
•  Articulação de Mulheres Brasileiras
•  Campanha pela Ética na TV
•  Ciranda
•  Coletivo Feminino Plural
•  Observatório da Mulher
•  Associação Mulheres na Comunicação - Goiânia
•  COMULHER Comunicação Mulher
•  HUMANITAS - Diretos Humanos e Cidadania
•  Marcha Mundial das Mulheres
•  Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
•  SOF – Sempreviva Organização Feminista
•  SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia

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