A educação no tempo do pós-tudo.

Pós-modernidade. Fim da história. Tempos líquidos. Tempos em que a economia, que sempre viveu para a sociedade, vive com a sociedade. Tempos em que a produção tem por função o acúmulo do capital por si mesmo, longe da esfera humana. Por fim, tempo em que corre solta a falácia de que a economia não é social, é técnica – o mostram os recentes governos espanhol e grego -, um ser autônomo, e a política, grande e verdadeira centralizadora imanente do social, nada mais é do que um sufrágio a cada quatro anos e um caminho de acordos duvidosos entre a esfera pública e a iniciativa privada.
O valor máximo, nada mais que o acúmulo, a desumanização contínua, como no tempo em que o fordismo era uma novidade, tão contrario à utopia do Estado de Bem-estar social.
Em um tempo em que as teorias e os valores, os limites, esfarelam-se num pós-qualquercoisa, o que devemos fazer da educação? Num momento em que as próprias alternativas ao tecnicismo, monstro que ameaça atacar o ensino médio no nosso estado, como o ensino deve agir no corrente século XXI?
Hoje a mídia fala da crise. A conservadora, principalmente da econômica. A alternativa, da política e social. Vivemos em um momento em que a última utopia, a do Estado Liberal de Direito, começa a declinar. Entretanto, as diversas esquerdas vivem em um estado fragmentário, sem liga entre si e mesmo – por que não dizer? – muitas vezes sem proposta alternativa ao redemoinho que se aproxima.
Mas a crise não é algo negativo, ela é o momento chave da mudança, o decifra-me ou te devoro. Nesse contexto assim instável, repito, qual atitude deve tomar a educação?
Embora seja um momento de cuidado e reflexão, é possível acreditarmos que há caminhos bons que estão sendo trilhados. Um deles, que não é um décimo aplicado do que deveria, mas que contém excelentes ideias, é o atual PCN.
Vemos, pensando apenas nos objetivos gerais dos PCN’s, uma luz do que pode ser algo a enfrentar, as construções de areia do fim do Neoliberalismo, quando pensamos em algo como:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
• compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;
• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; (PCN’s. 1998).
Mas, infelizmente, como dito, um décimo – abstratamente falando - das orientações são aplicadas.
Vamos pensar em exemplos mais reais. Diz-nos os PCN’s de língua portuguesa que
Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes textos com os quais se defrontam, é preciso organizar o trabalho educativo para que experimentem e aprendam isso na escola. Principalmente quando os alunos não têm contato sistemático com bons materiais de leitura e com adultos leitores, quando não participam de práticas onde ler é indispensável, a escola deve oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e práticas de leitura eficazes. (PCN’s. 1998).
Aqui temos um dos problemas mais visíveis até mesmo para alunos dos níveis iniciais do ensino superior, que a discrepância entre as orientações propostas pelos PCN’s e a prática pedagógica vigente nas salas de aula do Brasil. Utilizando um exemplo de aulas de língua portuguesa, onde o parâmetro é a leitura, a fruição, a análise e o pensamento no documento, há o estudo sistemático tecnicista da gramática pura. A gramática é inútil? De forma nenhuma. Dos elementos para uma comunicação adequada a gramática é um dos pilares principais. O problema é quando a casa possui uma única viga.
É de uma importância capital que os professores e trabalhadores da educação em geral percebam que a função final da escola e da educação não é ensinar o que é um substantivo, uma paralaxe, um rizoma, a data da tomada da bastilha francesa, um degradé, uma síncope ou a fórmula de Báscara, mas a formação de um indivíduo, apto socialmente a ser um agente formador e transformador da sociedade. Eu não me torno melhor, não me movo do meu lugar por saber quem foi Durkheim ou Gauguin ou Che Guevara ou Miles Davis. Dou um passo à frente quando esse conhecimento acumulado é utilizado como energia para que eu seja um cidadão ativo. Não há sentido na educação que não esse: o humano.
Entretanto, em observação às aulas atualmente dadas por outros professores e por eu mesmo, utilizando uma linguagem quase Freudiana, não encontramos nada que não seja a castração intelectual dos alunos. Quem são os culpados? Os alunos? Os professores? Os pais?
Há um conjunto de erros, oriundos de diversas fontes, que fazem da educação hoje – e reforço que cada vez mais próximo – um “tecniquês” de teorias ortodoxas, perdidas no vácuo, e os professores, por terem ferramentas como os PCN’s e não utilizarem, por perceberem os ataques do Estado quanto à educação – que o diga o Tarso – e não lutarem pela classe, são dos maiores responsáveis sim pela educação estar respirando nos aparelhos para sobreviver. Temos ótimos exemplos de lutadores da classe, mas precisamos de uma força maciça e do uso da maior parte de ferramentas adequadas para um ensino que tenhamos disponíveis.
Devemos todos, professores, professoras, estudantes e sociedade em geral, lutar até o fim. O único modo de enfrentar o técnico e o útil por empirismo e razões mercadológicas é com uma educação humanista.


Referências:
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Terceiro e quarto ciclo do ensino fundamental – Língua Portuguesa. In: Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília. MEC/SEF, 1998.


Vicente
Estudante de Letras da PUCRS
Futuro educador

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