Zero Hora tenta isolar CPERS e desencorajar greves

É notória a falta de apreço do jornal Zero Hora e do Grupo RBS por qualquer tipo de movimento contestador. Os mais diversos movimentos e organizações sociais já foram atacados, criminalizados, ou simplesmente ignorados pelo grupo que detém o monopólio da comunicação no Rio Grande do Sul. Esse posicionamento muitas vezes ocorre de forma velada, já que em certos casos a manipulação midiática encontra limitações, e é preciso dar mais voltas para colocar uma sociedade contra um corpo social fundamental. Em outros casos, porém, os recursos utilizados são mais óbvios, mais costumazes e, portanto, mais facilmente identificáveis. Assim acontece com relação a todos os movimentos grevistas.
Foi aprovada na última semana, e teve início nesta segunda-feira, uma greve dos professores do Rio Grande do Sul, através do CPERS-Sindicato. A greve pede que o governador Tarso Genro (PT) cumpra imediatamente a lei que fixa o piso nacional em R$ 1187, e que o governo não confirme as mudanças nos critérios de promoção – que passariam a ter um caráter meritocrático – e a reforma do Ensino Médio – que daria aos últimos anos de escola uma linha mais técnica.
A edição desta segunda do jornal Zero Hora traz mais uma ação preparada para deslegitimar a greve e colocar a sociedade contra o movimento grevista. Sequer é lembrado superficialmente o fato de que a greve deste ano traz demandas voltadas para os próprios professores quanto para o conjunto da sociedade – caso, por exemplo, da reforma do Ensino Médio. O quadro que Zero Hora tenta pintar é de um movimento grevista isolado, em relação ao restante do corpo educacional e até mesmo em relação aos professores.
“Greve enfrentará pais e alunos”, diz o título da página 30. A linha de apoio explica: “Estudantes do Ensino Médio e entidade de pais prometem fazer campanha para esvaziar paralisação do Magistério no Estado”. A abertura da matéria confirma o sentido: “Além de enfrentar o governo estadual, tradicional adversário em períodos de greve, a partir de hoje o CPERS dará início a uma paralisação em que medirá forças contra dois outros oponentes”.
Na página seguinte há um quadro entitulado “o que está em jogo” que mostra “o que têm a ganhar” e “o que têm a perder” cada uma das partes envolvidas no embate. O cenário pintado por Zero Hora é de desastre total para pais, alunos e governo em caso de fortalecimento e eventual vitória do movimento grevista. Por outro lado, tenta mostrar que, para pais, alunos e governo, enfraquecer a greve será uma grande conquista política.
Vale se perguntar porque apenas agora a União Gaúcha de Estudantes (Uges) e a Federação de Pais e Mestres do Rio Grande do Sul apareceram como pautas no jornal gaúcho. A resposta está no segundo parágrafo da matéria do repórter Marcelo Gonzatto: “Associações de pais e alunos do Ensino Médio, que já apoiaram mobilizações anteriores do magistério, desta vez se insurgem contra a ameaça ao término do ano letivo e fazem pressão pública para que as escolas continuem funcionando”. Nos últimos movimentos grevistas, essas associações estiveram ao lado do CPERS, contra o governo (que então estava com Yeda Crusius, do PSDB) e contra o que defende o Grupo RBS. Tentando esvaziar os movimentos daqueles anos, Zero Hora não citou o apoio dessas associações, simplesmente ignorava sua existência. Agora, com a situação diferente, inverte-se o tratamento dado pelo jornal, que um dia ignorava e no outro legitima e fortalece as mesmas associações, que, intencionalmente ou enganadas pelas circunstâncias, emprestam suas vozes para legitimar as ações da RBS contra os lutadores sociais.

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