Homens que abortam seus filhos


Neste domingo, comemorou-se o Dia dos Pais. Embora seja contrária à comercialização desta e de outras datas, não pude evitar de pensar em cada criança que nunca teve o direito de comemorá-la, não porque o pai tenha morrido ou porque esteja longe ou doente, mas pelo grave motivo de seu pai não tê-la reconhecido como filho.
Young and pregnant - por William, no Flickr, em CC
O direito à paternidade responsável é garantido a todos os brasileiros pela Constituição Federal de 1988, no artigo 226, § 7º; no entanto, são inúmeros os casos em que o registro da criança é feito apenas com o nome da mãe. São os filhos de homens que não assumiram sua responsabilidade e, impunes à lei, simplesmente abandonam a mãe, que passa a conviver com o drama de portar uma certidão de nascimento do filho  com a expressão “pai não declarado”, diante de uma sociedade machista e discriminatória em relação às mulheres.
Infelizmente, muitos homens alegam não ter quaisquer responsabilidades na questão da reprodução. Evitar a gravidez e se proteger nas relações sexuais é, para tais homens, uma tarefa exclusivamente feminina. Embora haja homens que aceitam o uso de preservativos, e muitos que até se submetem à vasectomia, ainda é grande o número daqueles que não assumem os seus filhos ou os abandonam ao cuidado das mães ou à própria sorte.
Não se trata aqui de discutir os motivos que levaram milhares de meninas, adolescentes, jovens e até mulheres adultas a uma gravidez que culminou no não reconhecimento da paternidade pelo parceiro a quem se entregou e em quem confiou. A menina ou mulher que engravida, não concebeu sozinha um ser. Onde está o reprodutor? Por que ninguém discrimina o pai? Por que o pai também não assume as consequências? Por que tudo tem de recair sobre a mulher?
Responsabiliza-se exclusivamente a mulher por abandonar um filho, ou por interromper uma gravidez.  Porém, quando os homens não assumem a paternidade, não são responsabilizados, tampouco presos por abandonar o seu filho. Isto só acontece com a mulher. Cada  vez que um homem rejeita um filho ao negar sua paternidade, ele também comete um aborto. Para este homem, aquele filho não existe: está morto em sua consciência e irresponsabilidade: um aborto social.

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