A violência contra a mulher na era virtual: as redes sociais a serviço dos criminosos

Esta semana, escrevi um post sobre a naturalização da violência contra a mulher fazendo uma denúncia social às comunidades do Orkut que encontrei numa tarde de domingo navegando pela internet. Em ocasião, fiz algumas citações a algumas músicas do pagode baiano que fazem abordagens explícitas à violência contra a mulher, bem como as exaltam. Tão logo venho novamente denunciar esta violência, porém com enfoque nas comunidades do Orkut.
Para iniciarmos esta conversa prosaica, digo que a violência contra a mulher se faz presente nas diversas instâncias da nossa sociedade. Por isso, é tão propagada nos meios de comunicação de modo tão banal. Para dar mais propriedade ao que digo, basta olharmos os casos de abuso de poder a uma escrivã dentro da corporação da Polícia Civil , do estado de São Paulo, em que ela, após ter sido acusada de receber propina para facilitar a vida de alguém, foi algemada, despida e revistada à força por policiais homens, quando a lei determina que ela deveria ser revistada por policiais femininas. O mais intrigante de tudo é que isso aconteceu dentro da Corregedoria da Polícia Civil (órgão responsável por investigar e punir os desvios de conduta dos policiais), e que nenhum policial (inclusive os delegados que comandaram a operação) foi punido pelo que fizeram. As instâncias superiores foram enfáticas ao dizer que eles agiram “dentro da legalidade”.
Após ver esse vídeo, fiquei pensando: se eles fizeram isso com uma policial dentro da Corregedoria, na frente de uma câmera, eu nem quero imaginar o que eles são capazes de fazer com uma mulher qualquer, na rua, e sem ninguém filmando.
Vale analisar a questão com um olhar crítico e perspicaz para poder entender de onde, de fato, partem os grandes feitos violentos dos quais as mulheres são vítimas diariamente. Não falo isto para justificar as atitudes violentas cometidas pela sociedade civil como um todo, inclusive se esta é tão disseminada nos grandes veículos de comunicação, a exemplo da internet. Mas acredito que a brecha é mais que válida para que se possa esclarecer de fato o que está por trás de corporações que deveriam proteger o cidadão como um todo. Que neste caso é a cidadã que sai para trabalhar todos os dias, deixa seus filhos em casa, cuidam da casa e do marido, estudam, enfim são mulheres que são jogadas à cova dos leões todos os dias quando enfrenta o mar de preconceitos que estão aí estabelecidos muito antes de esta sociedade moderna pensar em existir.
A historiografia mundial está aí e nos dá provas cabais da forma como a mulher é vista e tratada aos moldes e ideais patriarcais. Podemos observar isso inclusive nas Sagradas Escrituras, em que a imagem da mulher está sempre em condição inferior ao homem. Ou vocês por acaso não lembram que Eva foi extraída da costela de Adão? E que também foi Eva a culpada por todos os pecados do mundo ao oferecer o fruto proibido a Adão, como se este não tivesse autonomia nenhuma para recusá-lo mesmo sabendo de antemão que não poderia consumi-lo?
A própria comemoração do Dia Internacional da Mulher ganhou aspecto comercial nos dias atuais, devido ao consumismo desbragado estimulado pela sociedade capitalista. Ao contrário das rosas vermelhas e do caráter festivo que esta data adquiriu, encontra-se velada a revolução pela qual se deu o significado desta. Manifestações por melhores condições de vida e trabalho representaram o mote do rebuliço. A data surgiu em 1857 no massacre de quinhentas trabalhadoras que foram assassinadas num incêndio criminoso dentro de uma fábrica em Chicago por lutarem por melhores condições de trabalho, mas a data só foi efetivada em 1910.
Em meio a tudo isto que vem sendo exposto, ainda há quem diga – entendam-se, comunidades do Orkut – que o movimento feminista nada mais é do que uma Fábrica de Putas. E que uma escritora e feminista americana,Valerie Solanas, é descrita como “esquizofrênica, prostituta, mendiga e projeto de assassina por tentar defender os direitos das mulheres como direitos a serem igualados numa sociedade em que se preza no Estado soberano e machista”.
Para tudo isso que falei, até então, é que presto meu repúdio, minha aversão, meu descontentamento, enfim, todo o meu desprezo aos usuários destas redes sociais, que além de fazerem o mau uso do serviço, fomentam a aversão às \”merdalheres\”, onde fala-se da misoginia moderna com descaso infame, e para isto se fazem valer da liberdade de expressão como quem convalidasse o pleno direito de repudiar o semelhante.
Estas comunidades falam da submissão da mulher não como algo condenável, mas realista.  O direito de pensar de modo retrógrado que a mulher ainda é submissa ao homem é corriqueiro (apesar de injustificado e inaceitável), e por isso repudio o direito de expressar o ódio como uma ação natural ou comum do livre arbítrio, da tão defendida liberdade de expressão. Se é que liberdade de expressão, no seu conceito amplo, garanta a preservação da máxima do repúdio, da discriminação e da dominação de um determinado grupo frente a outro.
Como anteriormente falei do ideário de conquista dos direitos das mulheres, o que gerou uma data comemorativa, que, hoje, não rememora ao que de fato se deu o acontecido, é que questiono o que de tão semelhante há no ódio veementemente expresso pela conquista do direito ao voto feminino. Direito este que só nos fora concedido em 24 de fevereiro de 1932 pelo Código Eleitoral Provisório (conseqüência das medidas modernizadoras tomadas por Getúlio Vargas após a ascensão deste ao poder com o Golpe de 1930). Até então não vi nada de tão aviltante quando se trata do ódio figurado pela sociedade em si, quando se busca equidade social, visto que este direito nos foi outorgado diante ao estado de cidadania que nos cabe como tal e não como mera concessão.
Ainda se tratando da violência, só que agora em aspecto físico, sem esquecer-se dos seus efeitos psicológicos, é que abro o leque de considerações a serem feitas a respeito do estupro como um ato consensual. E o pior é que sua concessão parece pública. Falo isto porque ainda há quem pense que o estupro é provocado na maioria das vezes pelas mulheres porque estas mulheres, segundo a comunidade que vi: “1)Vestem-se como putas; 2)Andam como putas; 3)Falam como putas; 4)Usam calçados de salto alto, que impede a corrida; 5)São promíscuas e imorais; 6)Bebem, drogam-se até cair; 7) Elas defendem marginais e criminosos; 8)Elas simplesmente gostam de apanhar; 9)Fazem Tatuagem/Carimbo de Puta”. Querem mais exemplos da representação nada figurativa do pensamento destas pessoas em relação às mulheres? Acredito que tudo que expus até aqui é mais que suficiente para demonstrar o modo como as mulheres ainda são vistas e o pior é constatar que há mulheres que defendem esta ideia. Ou vocês já não se lembram do caso Geisy Arruda?
Casos como este só nos remete a pensar qual é a base fundadora da incitação veemente do ódio às mulheres e todas as formas de maus tratos e violências a que estas são submetidas. Seja nos espaços de socialização, na mídia, nas agremiações. Por que não falar das agremiações? Se o que vejo nestas comunidades é nada mais do que pequenos grupos em grandes redes que fomentam a violência contra a mulher em nome do livre arbítrio. E volto a dizer que nada tem sido feito para mudar este cenário, pelo contrário, o que vemos são as correntes simbólicas que se põem cada vez mais imbricadas no desenvolvimento de atitudes vis contra as mulheres. E prova do que falo está aqui. Esta comunidade reproduz o argumento do senso comum de que o estupro estará justificado se a mulher sair às ruas vestida com roupas curtas ou decotadas. E ainda afirmam que “Aqui defendemos o direito de escolha, o direito que o homem tem sobre o próprio pênis”. Não acreditam no que digo? Visitem o blog de Silvio Koerich, um dos membros e vejam o que ele diz a respeito.
Posso parecer extremista na minha fala quando me refiro aos atos violentos praticados às mulheres, há quem pense que sou. Mas, extremistas são as formas como estas comunidades se representam, e a conjuntura sócio-antropológica em que ela está embutida. Posso transparecer a ideia de que sou feminista empedernida, que seja. O que de fato condeno são as ações agressivas a que muitas mulheres são postas e que são cotidianamente naturalizadas pelos homens, pelas instituições, pelo poder público que se representa no Estado e na sua soberania. São de fato estas críticas sem qualquer ressalva que faço. E por isto, me faço representar nas minhas ações cotidianas, que dizem mais do que penso, e tão logo, senão em caráter de urgência, que venho através da minha fala, do meu grito de socorro, da minha chamada de alerta vos convocar para em ato público e num efeito cadeia pedir a denúncia destas comunidades que abrigam soldados que defendem a ideia de violência e submissão contra as mulheres, sustentam suas teorias fundadas em preconceito e no sexismo.
Sem a menor cadência, proponho que organizemos um ato público de repúdio e denúncia a tudo que se pode representar e que fere a própria Constituição. Os direitos existem, mas nos são negados a todo o momento, quando nos constrangem e nos submetem ao mais baixo nível na escala social em que nos encontramos estratificadas, em que nossos direitos a todo o momento tende a ser negado em detrimento de um Estado soberano e de ideais machistas.
Estou dando a minha contribuição, espero pela sua.

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