Chama-se "Orvil" - a palavra "livro" escrita de forma invertida - e será lançado como "uma resposta do CD-ROM Direito à Memória e à Verdade, produzido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e distribuído em escolas públicas", segundo informa o jornalista Lucas Figueiredo, em seu blog.
Militares golpistas vão lançar livro de mil páginas contando sua versão da história - Ovril, o livro secreto
Movimento Contestação
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domingo, 10 de abril de 2011
A edição do Orvil é uma resposta do CD-ROM Direito à Memória e à Verdade, produzido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e distribuído em escolas públicas. “Considerando provocação e uma verdadeira agressão aos militares brasileiros, os autores tomaram a iniciativa de publicá-la [a obra o Orvil]”, anunciou, na sua última edição, o Jornal Inconfidência, importante canal de expressão dos militares de extrema direita.
Um dos editores do Orvil será o coronel Lício Maciel, veterano dos combates à Guerrilha do Araguaia.
Lucas Figueiredo ganhou um Prêmio Esso por sua reportagem sobre o livro publicada nos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas e que pode ser lida na íntegra aqui.
Há mais de 30 anos o Exército nega ter informações sobre as condições em que morreram e/ou desapareceram centenas de pessoas ligadas a organizações de esquerda durante a ditadura militar (1964-1985). Em pelo menos 23 casos, contudo, é falsa a versão de que do Exército nada sabe. A prova está no livro secreto produzido pela Força entre 1986 e 1988. A obra do Exército desmente o próprio Exército ao relatar o destino de 16 guerrilheiros do PCdoB na região do Araguaia (Pará) e de outros sete militantes — três do Movimento de Libertação Popular (Molipo), três da Vanguarda Popular Revolucionário (VPR) e um da Ação Libertadora Nacional (ALN) — em diversos pontos do país e até o exterior.
Os relatos contêm informações corretas e falsas. O Exército omitiu, por exemplo, o dado de que vários foram mortos quando se encontravam presos. Mas, quando se ateve a colocar no papel informações verídicas, chegou a dar detalhes. É o que acontece, por exemplo, no relato da morte de seis guerrilheiros no Araguaia (Ciro Flávio Salasar de Oliveira, Manoel José Nurchis, João Carlos Haas Sobrinho, Francisco Manoel Chaves, José Toledo de Oliveira e Antônio Carlos Monteiro Texeira). Ao descrever os últimos momentos dos seis guerrilheiros, o livro informa a quais batalhões pertenciam os militares que os mataram (6º e 10º Batalhão de Caça).
No livro, o Exército também narra a prisão de Boarnerges de Souza Massa (Molipo) e Kleber Lemos da Silva (PCdoB), cujos corpos nunca foram encontrados. O fato reforça o indício de que ambos foram assassinados quando se encontravam presos. O caso de Boanerges é ainda mais revelador. Sabia-se apenas que ele treinara guerrilha em Cuba e que desaparecera ao voltar clandestino ao Brasil em 1971. Desconhecia-se, porém, se tinha sido preso, se morrera em combate ou se simplesmente deserdara. Sabe-se agora, de acordo com a página 607 do livro secreto do Exército, que naquele ano ele “foi preso em Pindorama, em Goiás, utilizando nome falso”, e que passou por interrogatórios.
Outro trecho revelador do livro refere-se a Wânio José de Mattos, integrante da VPR que desapareceu no Chile em setembro de 1973, após o golpe militar que depôs o presidente Salvador Allende. Só em 1992, quando os arquivos chilenos foram abertos, a família foi informada pelas autoridades daquele país que, por falta de atendimento médico, Wânio morrera de peritonite aguda no Estádio Nacional, onde se encontrava preso. Contudo, pelo menos quatro anos antes da abertura dos arquivos chilenos, o Exército brasileiro já tinha conhecimento da versão, como mostra a página 788 do livro secreto. O trecho em que se lê “Wânio José de Mattos morreu no Chile, em 1973, com `peritonite´”, é mais uma prova de que, a partir do início da década de 1970, as ditaduras latino-americanas atuavam em estreita sintonia na guerra suja que travavam sobre seus opositores, parceria que ficou conhecida com o nome de Operação Condor.
Das 23 mortes relatadas no livro secreto do Exército e que ainda não tinham sido assumidas oficialmente pela Força, 22 corpos nunca foram encontrados. Se o Exército tem uma versão para essas 22 mortes, é presumível que tenha informações do que foi feito com os corpos.
O livro foi escrito a partir de pesquisas feitas por militares, com seus salários e benefícios pagos pelo estado brasileiro, para produzirem material contra este mesmo estado. Exatamente como fizeram no golpe militar, quando se utilizaram de treinamento, uniformes, armamentos, combustível (e salários d benefícios) para derrubar um governo democraticamente eleito.
A instalação da Comissão da Verdade dará a esses senhores uma excelente oportunidade de contarem sua versão da história (o que eles nunca permitiram enquanto estiveram no poder). E de que essa versão seja confrontada com outras, para que cheguemos à verdade sobre o que aconteceu no país naqueles anos que se iniciaram no Dia da Mentira ou dos Tolos - cada lado colocando mentirosos e tolos onde quiserem.
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