Diligência discute os impactos de Belo Monte com comunidade local

De iniciativa da senadora Marinor Brito (PSOL/ PA), titular da Comissão de Direitos Humanos no Senado, uma diligência - formada por promotores do Ministério Público do Pará, especialistas e movimentos sociais - esteve hoje em Altamira, um dos municípios que serão atingidos com a construção da hidrelétrica de Belo Monte.

O município conta com cerca de 106 mil habitantes e as condições são precárias: o atendimento nos hospitais públicos é caótico e cerca de 70% da população não conta com serviços de saneamento básico, água tratada ou coleta de lixo. “Com o empreendimento, cerca de mais 100 mil pessoas devem migrar para a região na promessa de emprego, e acabar submetendo-se a condições desumanas de trabalho e habitação”, alertou a senadora.

Segundo Sônia Magalhães, da Universidade Federal do Pará (UFPA), várias razões levam especialistas a rejeitarem o projeto de Belo Monte, como por exemplo a falta de estudos sobre o impacto no lençol freático, a perda da biodiversidade e a proporção do desmatamento. Estudos que deveriam ter sido realizados muito antes do licenciamento para a construção da usina.

Outro ponto é a viabilidade econômica, tendo em vista que o rio Xingu sofre com oscilações no inverno e, conseqüentemente, a potência da usina ficaria 60% aquém do anunciado pelo governo federal. Além disso, segundo a especialista, mais de 100 milhões de peixes devem morrer imediatamente, principal fonte de sobrevivência de ribeirinhos e povos indígenas da região.

Mas, provavelmente, a questão mais grave se refere às famílias que deverão ser remanejadas da área de cerca de cinco mil quilômetros quadrados que será alagada, na promessa de receberem uma indenização que possibilite à essas pessoas reconstruir suas vidas em outro lugar.

Dona Raimunda Gomes da Silva, moradora do bairro Açaizal, sabe bem o que é isso: o local onde vivia foi totalmente alagado com a construção da barragem de Tucuruí. A família, assim como tantas outras, foi obrigada a se retirar, e até hoje aguarda a prometida indenização. Agora, novamente será retirada de sua casa para a construção de Belo Monte.

Antônia Melo, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, fez um apelo para que as famílias não assinem os papéis cedendo suas casas e exijam seus direitos. “Estão invadindo nossas vidas e não podemos aceitar isso. Temos que ir ao Ministério Público e à justiça”, disse.

Para Sônia Abreu, professora da UFPA e moradora local, “Belo Monte vem como um cavalo de Tróia, pois o que é alardeado pelo governo é que o projeto irá trazer desenvolvimento, mas isso não é verdade. Pelo contrário, não trará nenhum benefício para a população”, afirmou.

A diligência contou com o apoio do deputado Edmilson Rodrigues (PSOL/ PA): “Estou feliz porque vejo a resistência, a luta por um tipo de desenvolvimento que não seja esse de que um pequeno grupo se perpetua a partir da miséria, da violência contra o povo. Não podemos permitir que ninguém meta o pé na nossa porta e nos tire da nossa casa. Isso é inviolável, é um direito constitucional”, afirmou.

A frase de Lucinha, coordenadora do conselho tutelar de Altamira, resume bem o sentimento de todos aqueles que se preocupam com o que deverá acontecer com as famílias que estão sendo pressionadas a abandonar suas casas, em detrimento de um modelo equivocado de desenvolvimento: “Esta luta já se tornou uma luta de lágrimas, daqui a pouco será de sangue”.

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