7 fevereiro 2011
A mídia oligárquica brasileira não se cansa de colocar-se como legítima instituição fiscalizadora do poder público. É claro que a imprensa tem como função, em qualquer sociedade, informar e ajudar a construir um país democrático, no qual os cidadãos sejam tratados como tais, respeitados, ouvidos e enxergados. E é claro que nessa função está inclusa, necessariamente, a fiscalização crítica de tudo o que acontece à sua volta – e na própria imprensa –, incluindo-se aí o governo em suas mais diversas instâncias.
Porém, fiscalização crítica não quer dizer distorção. Para que a tal fiscalização seja bem feita, é preciso que o compromisso com a verdade factual seja cumprido, e que não se use dos fatos “fiscalizados” para, aparentemente de forma inocente, enganar a população através de ligações irreais entre situações ocorridas e projeções falaciosas. Foi isso o que fez o Estadão na última semana. De forma oportunista, usou a falta temporária de energia no Nordeste para amedrontar os brasileiros. Terrorismo não acontece apenas contra jornalistas. Às vezes são as próprias empresas de comunicação que, de forma terrorista, buscam causar o caos e o temor desmedido para favorecer seus interesses político-econômicos.
No fim da noite da última quinta-feira, sete Estados do Nordeste ficaram sem energia elétrica. Iniciado às 23h8min, o problema persistiu total ou parcialmente até às 3h de sexta-feira– como o Nordeste não tem horário de verão, leitores do restante do Brasil devem acrescentar uma hora a cada um desses horários. Foram, portanto, quatro horas de escuridão.
Conforme afirmou nesta segunda-feira Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, uma falha em um cartão de proteção de uma subestação teria desencadeado o efeito cascata que deixou toda a região sem luz elétrica. Ainda segundo Zimmermann, a manutenção estava em dia, e as causas da falha serão profundamente investigadas. Todos os principais veículos da grande imprensa brasileira aceitaram a justificativa do Ministério. Porém, nos dias anteriores…
Ainda na sexta-feira, o Estadão Online mostrou que não tem qualquer preocupação com a verdade factual, por qualquer ângulo que possa ser abordada. O blog Radar Econômico tentou induzir seus leitores a uma visão completamente distorcida do “apagão” no Nordeste. Na tentativa de alarmar e jogar a população contra o governo, usou dois eventos pelos quais obviamente o brasileiro médio passou a ter muito carinho: Olimpíadas de 2016 e Copa do Mundo de 2014.
Quinze horas depois do restabelecimento completo da energia elétrica, o citado blog botava no ar uma enquete: “Oito Estados do Nordeste sofreram um apagão na sexta-feira, 4 de fevereiro. Na sua opinião o País terá energia suficiente para a Copa e a Olimpíada?”. É impossível afirmar se o Brasil terá ou não energia suficiente para os dois eventos, mas, além da informação errada (oito Estados, em vez dos sete que realmente sofreram a falta de energia), relacionar o “apagão” com “energia suficiente para a Copa e a Olimpíada” é, no mínimo, leviano, como mostrou a declaração de Márcio Zimmermann explicando as causas do problema. Ou uma falha em um cartão pode ter alguma relação com “energia insuficiente”?
Postado por Alexandre Haubrich
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