"Essa é uma coisa podre pra se dizer!"
Qual a
diferença entre o Testosterona e os mascus? Um tem patrocínio da MTV e
ganha dinheiro com um site misógino disfarçado de humor. Os outros
praticam sua misoginia diária se escondendo por trás do anonimato e de
avatares de super-heróis.
Outro dia publiquei
uns comentários tirados de um desses fóruns mostrando como os mascus
não gostavam do Testô e nem eram solidários aos ataques que o pobre vem
sofrendo -– ataques com os quais você pode e deve colaborar, assinando esta petição que será entregue ao presidente da MTV, pedindo que a emissora pare de patrocinar conteúdos preconceituosos, e esta também.
Mas eis
que descubro que existem mascus que gostam do Testô, apesar dos pesares
(eles não gostam da Acid Girl e de que o site “não adote posições
incisivas”): “Acontece que muitos descobriram a Real [como vários mascus
se denominam, Guerreiros da Real, ou guerreiros de um real, como são
mais conhecidos] por lá. Várias vezes, vi matérias sendo publicadas em
um fórum extinto nosso que dias depois saíam no blog supracitado. Às
vezes no dia seguinte. Não foram poucas não”.
Outro
acrescentou: “Também acredito que os 'humoristas' do Testosterona fiquem
parasitando o ambiente da real, os textos são chupados mesmo, quando
não é cópia literal, dá p/ ver que é a mesma ideia maquiada com outras
palavras”.
Quer dizer, o Testô copia mesmo o conteúdo de blogs e fóruns de misóginos, na maior cara dura. A gente já sabia. Lembra o blog de ódio
que recebeu setenta mil denúncias e cujos líderes continuam presos
(graças! Dois habeas corpus já foram recusados)? Testô vivia copiando
posts deles, compartilhando links, tuitando. Claro, mascus juram que o
blog original (que por sua conta copiava o conteúdo de blogs mascus
americanos) foi hackeado. Mas sempre foi misógino. É como eu sempre
digo: só muda a intensidade do ódio.
Em maio,
Testô promoveu um concurso no seu blog procurando um estagiário que
fizesse seu “estilo de humor machista”. Quem ganhasse se integraria à
equipe (claro que o Testô não é tocado apenas pelo Edu), teria que
produzir três a cinco posts por semana pro site e receberia 600 reais
por mês.
Alguns
mascus ficaram tentados a participar. O administrador de um dos fóruns
disse: “Pena q eu não tenho tempo, senão eu ia tentar me infiltrar lá”.
Outro moderador escreveu: “Eu curto muito as tirinhas, inclusive já
divulguei muitas delas aqui”.
Não é uma graça como um misógino fica alimentando o outro?
Mas o que fez o Testô ganhar moral entre os mascus foi o texto que ele publicou semana passada na revista Sexy.
Parece que ele é colunista da revista, e parece que pra ser colunista
de revista pode escrever mal pracarai e soltar todo tipo de
preconceitos. E, claro, plagiar os maiores fracassados da internet.
O nome
do texto publicado? “Como funciona a cabeça de uma feminista -– Quando a
carência e a TPM desencadeiam uma revolução”. Segue o texto, tudo sic:
“Outro
dia enquanto alternava entre pornografia e futebol na tevê, eu acabei
parando numa reportagem sobre os líderes revolucionários na Ásia e me
peguei pensando nessas pessoas insanas que querem mudar o mundo só pra
se livrar do seu trabalho. Veja bem, líderes políticos querem controlar o
seu povo e ficar rico às custas dele, é até compreensível, mas e as
feministas que querem mudar o curso natural da vida só pra se livrar de
lavar a louça na pia? Desde os tempos de Eva a mulher é responsável por
tarefas triviais, cuidar do seu lar e amar o seu marido, moleza né? Cabe
ao homem prover o sustento da família, lutar em guerras, tomar decisões
importantes e governar o mundo, justo. Aí alguma revolucionária de meia
tigela durante a TPM resolve lutar por direitos iguais e abdicam dessa
regalia. Mas não é só isso, mulher não dá ponto sem nó, elas só querem
os direitos iguais, mas não os deveres. Feminista não quer se alistar no
exército, muito menos consertar o chuveiro ou trocar o pneu do carro. A
feminista é só uma espertinha que ta com preguiça de varrer a casa e
fazer o almoço e que usa essa balela de direitos iguais pra fazer o que
elas mais gostam: encher o nosso saco. Então meu amigo, anote, além de
oportunismo, feminismo nada mais é do uma tentativa desesperada das
mulheres de chamar atenção dos homens, fique esperto.”
Né? Incrível como o cara saca tudo de feminismo. Foi exatamente
assim que aconteceu: a gente acordou num mau dia, cansou de lavar
prato, e decidiu sair pra fazer uma revolução! Somos definitivamente
ingratas com o patriarcado. E, de quebra, ainda diminuímos o bilau dos caras!
Óbvio,
todo mundo sabe que TPM e carência causam essa doença chamada feminismo.
Testô também podia nos informar o que causa a misoginia.
O
administrador de um fórum mascu gostou mais ou menos: “Isso aí deve ser
uma retaliação [ao Testô estar sendo “achincalhado por umas feminazis”].
Se bem que isso é bem feijão com arroz do anti femismo [sic]. Mera
análise superficial da praga q é o feminazismo. Mas tá valendo, se sai
numa revista de grande circulação”.
O que
Testô publicou na sua coluna é tudo que mascus e demais machistas sempre
falaram do feminismo. Não é apenas o básico do básico –- é tudo,
porque não têm mais o que dizer, só esses chavões de sempre. Aliás,
falavam a mesma coisa das sufragistas, as mulheres que conquistaram o
direito universal ao voto. Nem originais os caras conseguem ser.
Mas o
que me chama a atenção é o Testô ter que chupar tudo dos mascus. Tudo.
As mesmas ideias, muitas vezes os mesmos posts. Tá certo que os mascus
são hilários (não é intencional), mas, sei lá, se Edu e sua equipe
ganham dinheiro com o site e com a coluna, não poderiam pelo menos
tentar redigir algo que não fosse cópia? Por que a MTV e a Sexy
não se livram dos intermediários e contratam diretamente os mascus? Além
de serem mais engraçados, eles gastariam toda a grana com garotas de
programa, já que não recebem nem bom dia das “civis” (é assim que eles
dividem todas as mulheres do mundo, incluindo suas mães: entre
profissionais e civis).
E ontem
foi dia de outro humorista, Danilo Gentili, se destacar. Um tuiteiro
negro havia se incomodado com uma piada racista de Gentili (não sei
qual). E o ex-CQC decidiu responder assim:
Chamar negro de macaco é uma velha tática
de Gentili. Pra ele, isso não é racismo, porque raças não existem,
logo, racismo também não. Em 2009 ele comparou jogadores de futebol a
King Kong. Diante dos protestos, escreveu um longo texto em que falava
besteiras como "Peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só
porque sou branco que eu escravizei um negro" e "Alguém pode me dar uma
explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia,
branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?"
Gentili
tem uma legião de fãs (quase quatro milhões de seguidores no Twitter),
e, bom pra ser fã de um cara desses, tem que se pensar parecido. Muitos
deles foram azucrinar LasombraRibeiro,
o rapaz negro que o ídolo tinha insultado antes. Ele está colecionando
dezenas de printscreens de ofensas racistas, e promete denunciar todos
os "piadistas". Muita força pra ele.
E
isso que racismo é crime inafiançável desde 1989! Se as pessoas se
sentem tão à vontade para serem abertamente racistas em nome do humor,
não vão ter mesmo vergonha nenhuma de serem estupidamente
preconceituosos com mulheres, gays e trans*. Não é só que gente como
Testô e Gentili, entre outros, não sejam cortados por serem
preconceituosos. Eles são recompensados. Ganham dinheiro com o
preconceito. Não é que eles tenham espaço na mídia apesar de serem
preconceituosos. Têm espaço na mídia por serem preconceituosos.
Esta
sexta, 5/10, às 14 h, participarei da mesa Censura e Humor. Divulguei
erroneamente que o evento vai ser na ECA-USP, mas, na realidade, será no
Centro Cultural Marques de Melo (R. Joaquim Antunes, 711, Pinheiros,
SP). Faz parte do Seminário A Censura em Debate, iniciado ontem (veja aqui a programação e inscreva-se), organizado pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Censura, da ECA-USP. Acho que vai ser interessante.
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