Faz um tempo que o debate sobre segurança pública vem me incomodando muito. Seja por conta do genocídio da juventude negra e das mulheres da periferia, seja por conta da volta ao cenário eleitoral da política de tolerância zero como saída para segurança pública em nosso país.
Digo
isso por que para mim recrudescimento da violência policial,
consolidação de um estado penal afeta diretamente a vida das mulheres -
sabe como é, mulher faz parte da sociedade e não é um anexo, por isso
pensar e refletir as políticas gerais que aí estão colocadas como afetam
as nossas vidas é fundamental.
Uma
política de segurança que pense o encarceramento em massa e
militarizada só ajuda a manter o status quo, ou seja, ajuda a manter a
opressão machista, homofóbica e racista, pois necessita manter a cidade
organizada da forma que está e reprimir mudanças reais de organização
social, inclusive das mulheres.
Falência evidenciada, também, no tratamento dado as questões sociais. A polícia do governo tucano não sabe enfrentar uma simples passeata de estudantes em defesa do passe escolar, ou uma manifestação de grevistas, sem usar cassetetes, bombas de gás, cães e balas de borracha. A síntese dessa truculência e desumanidade contra a população pobre se materializou na ação policial contra os usuários de crack, na região central da capital, e no despejo das famílias do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Não é por outra razão que os governos tucanos, tanto do José Serra quanto o do Geraldo Alckmin, sofreram denúncias na Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). (A segurança pública tucana)
Não
é possível pensar vida digna para as mulheres, combate a violência
sexual, física e psicológica sem pensar em como hoje tem se organizado o
estado de maneira geral. Uma lógica de encarceramento em massa que
ajuda sim a oprimir as mulheres, seja por conta da situação e negação de direitos das mulheres presas e até mesmo o enorme número de denúncias que se ouve sobre revista vexatória nos presídios e fundações casa.
Sempre
falo que algumas questões só passam a interessar aos homens (cis,
brancos e héteros) quando a água bate em suas bundas, o problema é que
quando a água bate na bunda dos homens é por que já afogou as mulheres
em geral (cis, brancas, negras, LGBTs). É assim quando analisamos a
política salarial no Brasil e no mundo, é assim quando analisamos saúde,
educação, segurança pública e qualquer política dita geral da
sociedade. Por que elas nos afetam diretamente e é necessário debater o
como afetam, se vale a pena ou não arcar com consequências muitas vezes
nefastas para nós em no de um bem maior. Mas qual bem maior? O bem maior
do status quo? Da opressão? Da manutenção das coisas como estão?
Em
São Paulo o que vemos é um recrudescimento conservador tremendo. Está
nos debates televisivos, nas políticas públicas para mulheres, negrxs e
LGBTs. Organiza-se novamente um discurso do medo por aqui. É o medo da
idade das trevas, onde antes o protagonista era Serra e hoje se chama
Russomano. Uma época em que a violência policial será recrudescida, onde
os direitos das "minorias" serão desrespeitados. É praticamente um
cenário pré nazi-facismo e isso nos afeta diretamente, seja por conta do
papel social que nos é imposto historicamente retornar, seja pelo
recrudescimento da nossa criminalização e culpabilização.
Um
estado autoritário é também um estado que não respeita os direitos de
suas minorias. São Pinheirinhos, Carajás, Sabra e Chatila, Guarani
Kayowaá, incêndios criminosos em favelas e tantas outras coisas que
limpam a cidade para que quem tem dinheiro possa usá-la. Não é esse
partido ou aquele, mas sim o colocar em prática uma política de
organização do estado que não beneficia a liberdade, mas sim a repressão
e quem primeiro sofre com isso são as pessoas que tem menos direitos:
os pobres, as mulheres, LGBTs, negrxs.
Ser
feminista e se dizer apolítica, ou corroborar com políticas públicas
que nos afetam e nos sucumbem ao status quo não deve ser o almejado. Não
quero um mundo menos pior para as mulheres, mas isso não passa apenas
por acertar um voto, isso passa por que espaços conseguimos organizar
para discutir e pensar qual mundo queremos. Uma andorinha só não faz
verão, mas ela pode acordar o bando inteiro.
Texto de Luka, disponivel em Blogueiras Feministas
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