Freixo vê Rio mais violento: 'milícia vai voltar a eleger gente'

O pré-candidato do Psol à prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, afirmou nesta segunda-feira, em entrevista ao programa Roda Viva, que, apesar da política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a violência na capital fluminense vem aumentando porque os braços econômico e territorial das milícias não têm sido combatidos. Segundo o deputado estadual, na época da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) presidida por ele na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), eram 170 as áreas dominadas por milícias, contra mais de 300 hoje. E alertou que, neste ano, "a milícia vai voltar a eleger gente. Depois de eleito, é mais difícil correr atrás".

Militante dos Direitos Humanos desde a juventude, Freixo vê nas UPPs uma "retomada militar de territórios estratégicos para um projeto de cidade" cujo critério de instalação "não é o da criminalidade". Embora reconheça avanços no trabalho do secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame, Freixo vê na política o problema da violência. "A polícia (do Rio) sempre foi o braço sujo da política", sustentou, ao descrever as milícias não como um poder paralelo, mas como um "Estado leiloado" que "tem projeto de poder e interfere em eleições". "Eles dominam todo o sistema de transporte alternativo no Rio de Janeiro. Quem é que domina todo o sistema de vans? É a milícia. Quem é que domina a distribuição de gás nesses lugares? É a milícia."

"Antes do Beltrame, você tinha figuras ali que foram presas. Quem estava à frente da polícia estava à frente do crime (...). Hoje, eu entendo que o governo (Sérgio) Cabral (PMDB) tem um processo de corrupção mais sofisticado, relacionado às empreiteiras, às áreas de saúde", afirmou, reiterando que, maior que o controle pelo terror exercito pelo tráfico, as milícias têm o braço do assistencialismo e que "se não tirar o domínio territorial e econômico, você não resolve".

Delta
Segundo o pré-candidato do Psol, "o governo (de Cabral) não tem coragem para abrir investigação sobre a (empreiteira) Delta porque aí o governo desmorona". O governador do Rio tem sido alvo de denúncias de favorecimento à construtora, e imagens suas ao lado do empreiteiro Fernando Cavendish em jantares e shows na Europa chegaram a ser divulgadas pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR). A Delta é investigada em CPI no Congresso Nacional por envolvimento com o grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira.

"Cabral vai acabar investigado na CPI de Brasília. Estão tentando blindar, mas tem que ir", afirmou Freixo, qualificando as fotos e vídeos de Cabral com Cavendish de "aviltante, uma desqualificação moral absurda". As críticas sobraram também para a administração municipal de Eduardo Paes (PMDB). Freixo lembrou que o Maracanã, reformado em 2007, "foi todo destruído em 2010" a preços inflados em relação aos orçados. Para ele, na construção da Linha 4 do Metrô também há favorecimento a particulares: o mapa da ampliação seria uma "linha", ao contrário do desenho de metrôs de outras cidades, porque, assim, "não precisa de licitação. A mesma concessionária continua administrando. Contraria todo o interesse da população para beneficiar uma empresa".

"O prefeito virou um síndico e despolitizou a política. Você não pode privatizar o espírito público. (...) É ótimo que (a cidade) tenha investimentos, ótimo que tenha empresários, mas não pode ser o investimento pelo investimento. Qual foi o legado do Pan-Americano (de 2007)? Nenhum. O sistema hospitalar melhorou? O saneamento básico melhorou? O sistema de transportes melhorou? Não", respondeu.

Campanha
Ao defender o financiamento público das campanhas eleitorais, Freixo lamentou que elas tenham virado "mercado" e garantiu que "quem nos doar, vai ter que dizer que doou" e que não aceitará o apoio de entidades como bancos e empreiteiras.

O pré-candidato também comentou uma suposta tendência de se valer de dramas e feitos pessoais para se promover. Após presidir a CPI das Milícias, que indiciou 225 pessoas e pediu investigação de mais mil, arrastando à prisão 500 acusados, o deputado passou a ser jurado de morte, em ritmo que teria chegado a uma ameaça a cada quatro dias no mês de outubro de 2011. Na época, recebeu convite da ONG Anistia Internacional para ir à Europa, oferta que ele alega ter aceitado para dar vazão às notícias de que sofria ameaças. Freixo rebateu as críticas afirmando que "jamais brincaria com a própria vida", lembrando que o crime organizado assassinou o seu irmão em 2006.

Em sua chapa para disputar a prefeitura do Rio, Freixo terá como vice Marcelo Yuka, ex-baterista da banda O Rappa. A ideia é compensar o pouco tempo de TV com o apoio do eleitorado jovem e de artistas como Wagner Moura e Marcelo Serrado. Sobre o seu posicionamento ideológico, o pré-candidato, petista de 1986 a 2005, quando migrou para o recém-fundado Psol, foi suscinto: "Sou socialista, mas vou disputar uma eleição, não fazer a revolução."

Drogas e jogo do bicho
Consultado pela comissão de juristas que elabora o Novo Código Penal - e para quem ele sugeriu a tipificação do crime de milícia -, Freixo se manifestou "a favor da descriminalização imediata das drogas e de um amplo debate sobre a legalização das drogas", argumentando que as práticas repressivas fracassaram em outros países.
Freixo também se posicionou a favor da criminalização do jogo do bicho, alegando que a prática esconde crimes mais severos.

Disponivel no TERRA

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