Não há vida digna para as mulheres com violência e sem direitos

As mulheres vão hoje às ruas, em mais um Dia Internacional de Luta das Mulheres. Mais uma vez, terão de manifestar publicamente a sua indignação, a sua revolta com as diversas formas de violência que ainda enfrentam justamente pelo fato de serem mulheres. É assim desde os anos 60 e, desde então, houve conquistas importantes. Mas por muito tempo ainda será necessária essa luta por uma sociedade menos sexista, menos machista, menos violenta, menos cerceadora da liberdade feminina, enfim, uma sociedade mais igualitária.
Parece incrível, mas ainda persiste na nossa sociedade essa lógica sexista, resultante da ideologia machista e patriarcal, que considera a mulher um ser menor, sem direitos, subalterno. É essa lógica que temos de denunciar e desnaturalizar. Porque não pode parecer natural essa violência cotidiana que viola o corpo, a mente e a alma das mulheres.
A violência física, simbólica, patrimonial e institucional contra as mulheres também se expressa na fragilidade das políticas públicas de saúde, educação, moradia e previdência social, entre outras. Tudo em nome da manutenção do lucro, como se esse fosse um valor que pudesse se sobrepor ao valor da vida. É o que explica cortes de orçamento em áreas sociais importantes para a vida das mulheres ou a consolidação de uma política de saúde da mulher vinculada meramente à sua função procriativa, com, inclusive, a criminalização do aborto. É por isso que pautas das mulheres e do movimento LGBT costumam ser utilizadas como moeda de negociação do governo com a bancada conservadora.
É nesse contexto que se observa o índice inaceitável de crimes relacionados à violência machista em nosso país, com o aumento de assassinatos de mulheres vítimas de seus companheiros ou de homens da família, assim como os casos de estupro de mulheres em transportes públicos e de lesbofobia.
Torna-se urgente a realização de um Pacto de Enfrentamento à Violência contra Mulher. Assim como é preciso tornar eficaz a aplicação da Lei Maria da Penha, para que se possa garantir a vida e integridade física de milhares de mulheres brasileiras.
A violência contra a mulher é problema estrutural e trás, consigo, um viés de gênero e de raça. Nos movimentos de luta por moradia e nas comunidades e territórios apropriados pelo setor privado, assim como pelo poder estatal, a maioria que luta é de mulheres negras e indígenas. São essas mulheres que enfrentam o aparato policial e judiciário de repressão a sua militância. Essas mulheres são a maioria entre aqueles que perdem suas casas e meios de vida nas remoções forçadas para atendimento dos interesses empresariais relacionados à Copa do Mundo, ao PAC e às obras de especulação imobiliária por todo o país.
Com as mulheres, a nossa militância vai hoje às ruas mais uma vez reivindicar uma nova lógica na sociedade que respeite o protagonismo feminista nas lutas e na denúncia das violências sofridas pelas mulheres e pelo conjunto da classe trabalhadora brasileira. Mas até quando será necessário reconhecer a atualidade do Dia Internacional de Luta das Mulheres, inaugurado pelas mulheres russas em 1917? É preciso que lutemos todos juntos para enfrentar todo tipo de desigualdade de classe e entre homens e mulheres, para que enfim cessem, um dia, os efeitos brutais da violência contra as mulheres em nosso cotidiano. É preciso sonhar e lutar para que as diversas formas de violência contra a mulher se tornem apenas um tema de estudo em aulas de História. Por enquanto, ainda precisamos avançar muito em nossa luta por socialismo e liberdade!
Dados estatísticos da violência contra a mulher:
· Das vítimas de estupro, segundo o ISP-RJ, 81,2% são mulheres;
· As mulheres são vítimas em 65,4% dos registros de ameaça no Estado do Rio de Janeiro;
· As mulheres são vítimas de 62,9% dos crimes de lesão corporal no estado;
· De acordo com o BID, homens ganham em média salários 30% maiores do que mulheres no Brasil;
· Segundo o Ministério da Saúde, a mortalidade materna vem caindo, mas o índice ainda é absurdo no país: morrem, por causas obstétricas, ainda 68 mulheres em cada 100 mil nascidos vivos;
· O abortamento é a quarta causa de óbito materno no país

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