O engodo da técnica

Um termo que não é novo, mas que muito tem surgido dentro da mídia e que me chama muito a atenção é o de governo técnico. Há pouco utilizou-se esse termo quanto à Dilma e muito se tem utilizado nos governos europeus, principalmente os que estão sendo mais afetados pela crise e as medidas de austeridade, como um sinônimo de boa governabilidade.

Vamos primeiramente pensar um pouco na palavra técnica. Podemos definí-la como um conjunto de procedimentos para se fazer algo. Há a técnica militar, a médica, a artística, a esportiva e tantas outras.
Esta palavra quando utilizada, costuma vir imbuída de uma conotação de apessoalidade, de neutralidade. Se pensarmos abstratamente, sim, técnica é algo neutro, afinal é apenas um "como fazer", uma funcionalidade. Ela, em si, não pertence a ninguém, pois qualquer um que a domine, que compreenda os seus passos, utiliza-a.
Agora vem o ponto em que quero chegar. Algumas palavras, pelo seu uso, contaminam outras com o seu uso comum. Indo direto ao exemplo, quando pensamos em governo técnico, este "técnico", adjetivo, imbui governo como algo quase automático e funcional. Um governo técnico, por extenção, é um governo apolítico. Esse conceito é vendido pela mídia como um motor que não possui outra função senão resolver os problemas que os outros governos deixaram. Neste processo, a orientação política é apagada, técnica aliás comumente utilizada pela direita como um dos elementos para enraizar-nos o pensamento de que a natureza da sociedade é como vivemos e que as coisas são como são, sem outra opção.
Entretanto, devemos sair da abstração do termo para algo mais a ser analisado, que é: nenhuma técnica entra em funcionamento sozinha. Para que uma técnica seja utilizada, há a necessidade de alguém executando-a e, esse alguém, como um indivíduo, nunca será politicamente neutro, e é isso o que se tenta apagar.
Vamos aproveitar as notícias desta semana e pensar em um exemplo que está aparecendo bastante: Lucas Papademos. Representante de um governo neutro, técnico, recebemos o mito de que ele, pela sua posição, irá resolver os problemas econômicos da economia grega. Se lermos sobre nele, o usuário da técnica, saberemos que ele foi vice-presidente do Banco Central Europeu, um dos três membros da troika que negociaram as condições de resgate da Grécia. O resto que eu poderia escrever, que é o motivo pelo qual justamente Papademos assumiu o governo grego, deixarei apenas para as conjecturas dos leitores deste texto.
A direita se utiliza de um "novo" artifício para a justificação de medidas pesadas para solução de um problema que ela mesma criou, a crise financeira, e quem está pagando é o povo. A técnica - reforçando - sempre dependerá de pelo menos uma pessoa.

Vicente
Estudante de Letras
Movimento Contestação

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