Ontem o caso Eloá chegou ao fim. Lindemberg Alves foi condenado pela morte de Eloá, cárcere privado de quatro pessoas, tentativa de assassinato de mais duas ( a amiga de Eloá e um policial militar que cuidava das negociações) e quatro disparos com arma de fogo. Sua pena foi de 98 anos e 10 meses de prisão.
Pudemos acompanhar o caso e toda a imundície humana de perto desde o começo, a imprensa tratou a violência doméstica e, principalmente, de gênero que se instala na nossa sociedade como um fato isolado, um espetáculo que acontece somente nos confins de Santo André e que jamais poderia chegar às nossas casas pessoalmente.
Alguns chamaram Lindemberg de monstro, outros de pobre rapaz apaixonado que perdeu a cabeça, ninguém o chama pelo que realmente é: uma pessoa comum. Lindemberg não é um caso perdido que sociedade nenhuma aceita, um psicopata, louco ou qualquer uma dessas coisas. Lindemberg Alves só existe porque foi criado por essa sociedade que agora o rejeita.
Ele é um filho do machismo que objetifica e mata mulheres todos os dias. Este machismo segue dois pilares muito cotidianos: primeiro se objetifica a mulher. Ela é uma coisa, um enfeite. Algo que serve para ser bonito,jovem e sexy. Depois atribui-se a esta coisa um valor baseado na posse.
As mulheres são separadas entre aquelas que pertencem (santas) ou não (putas) a um homem. Todas as mulheres que não pertencem a ninguém pouco passam de gostosas de minissaia que estão disponíveis para qualquer um. É deste ponto que vêm as “cantadas de pedreiro”, as encoxadas no metrô, aquela revolta que faz o cara quebrar o braço de uma moça que diz não para ele na balada, estupros dentro do ônibus, assédio sexual, entre tantas outras formas de violência que nós, mulheres, sofremos todos os dias quando saímos de casa.
Já aquelas que pertencem a algum homem são coisas com disponibilidade exclusiva. Pode-se fazer tudo com elas, uma vez que lhe pertencem. Pode-se estuprá-las na festa de aniversário do seu irmão e, olha só que divertido, fazer disso um presente, pode-se agredi-la física e psicologicamente, destruir sua auto-estima, pode-se trancá-la em um porão, colocar fogo em suas partes íntimas e até matá-la se essa filha-da-puta-mal-agradecida for muito teimosa e não aceitar que é o macho da casa quem manda. Como ela pode ser assim mesmo depois de tudo o que você fez por ela, hein?
Lindemberg, e tantos outros , são filhos dessa lógica que, infelizmente, não é exclusiva de monstros fictícios que só existem na televisão. Eles estão em Santo André, na Paraíba, no Rio de Janeiro, na Áustria, no apartamento do lado e, quem sabe, dentro da sua casa.
Precisamos, queridos, parar de tratar esses casos como algo isolado de que a gente ouve falar que acontece somente na casa dos outros. Precisamos mudar essa lógica torpe, ensinar nossos filhos que o ser humano é livre, independente de sexo, gênero ou orientação sexual (três coisas bem distintas). Precisamos aceitar que o amor acaba, lembrar que ele não agride e nem maltrata, que saia não é convite e que mulher sozinha não está, necessariamente, disponível para você.
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