Cadê a mãe dessa criança?

Sejamos sinceras: filho dá trabalho. Muito trabalho, a ponto de precisar de palavrão pra descrever o quanto. E aparentemente o mundo se esquece que agora a mulher trabalha fora de casa. As famílias mudaram – estão diferentes, existe mais flexibilidade nos papéis e responsabilidades. Mas tem gente parada no século passado, e a mãe que trabalha fora de casa é considerada o elemento desestruturador da família.

Por Jamila Maia no blog Memezinho da Mamãe

Se a mãe passa fora de casa tanto ou mais tempo que o pai (por necessidade de renda ou desejo da mulher), não chega a ser nem *minimamente* justo que uma criança seja responsabilidade apenas da mãe. Aliás, mesmo se não ela passar o dia fora, o pai é tão responsável quanto ela – talvez com menos tempo, mas ainda assim.
Por alguma razão obscura, acredita-se que um homem – aquele do sexo masculino – seja incapaz de cuidar de uma criança ou bebê. As explicações sempre beiram alguma infantilização (ou idiotização) do adulto em questão, ou então explicações duvidosas de origem supostamente biológica; essas justificativas passam também pela sacralização da maternidade: o Evento que transformará a mulher em uma Mãe, criatura dotada de onipresença, onipotência, onisciência, sabedoria, sensitividade e amor incondicional. Infelizmente o parto não faz o download do software soufoda.exe.
Isto não faz sentido. Somos mulheres, não super heroínas. É necessário repensar as divisões de tarefas, que devem ser mais justas e conforme as habilidades e/ou paciência e/ou disponibilidade de cada um dos dois, independente de ser “tarefa de homem” ou “tarefa de mulher”. O feminismo vem para ser igualitário com os sexos, e adivinhe, isso significa que o homem macho do sexo masculino pode ser pai. Pai não está fazendo favor trocando fralda, cantando, desenhando. Pai não está fazendo favor faltando ao trabalho pra levar no médico ou para cuidar de menino febril. Não é ser superpai sair sozinho com criança, levar na escola. É o mínimo.
Esta tal “família desestruturada” tem que ser revista. Desestruturada de que, mesmo? A culpa é da mulher, é? Como assim a mãe tem que ter dupla e tripla jornada? Acorda mais cedo pra fazer café da manhã, leva pra escola sozinha, trabalha, limpa sozinha. Aceitamos não. Quer dizer, o pai tem todo o direito de não cuidar da lição de casa e sair pra beber cerveja. A mãe tem obrigação de cuidar de tudo, é isso?
Por outro, muitas vezes são as mulheres – sim, aquelas do sexo feminino – que minam a pouca confiança que os papais poderiam ter antes de serem questionados. Pai precisa de confiança, pai precisa ter tempo pra aprender – igualzinho à mãe. Sim, pai não é igual mãe: vai cuidar diferente, assim como a mãe cuida diferente do que faz a avó, ou a tia, ou a berçarista.
Um sintoma clássico é que em várias escolas sempre vem na agenda da criança o recadinho “para mamãe”. Todos os pais já passaram por várias situações em que as pessoas perguntavam do paradeiro da mãe da criança. Velhinhas no ônibus, pediatras, além da geral mostrando surpresa porque, pasmem, um homem consegue fazer dormir, trocar fralda, dar comida sozinho. Com naturalidade e sem ser “ajuda”. Ao contrário do que se pensa por aí, homens não são incompetentes – eles não nascem sabendo e nem a gente, e eles podem ser ótimos cuidadores.
Precisamos mudar, precisamos de licença paternidade flexível e maior, precisamos dar oportunidade (e também cobrar!) atitude dos pais – sim, aqueles do sexo masculino. Eles não são idiotas e já são grandinhos o suficiente para assumirem sua parcela de responsabilidade da família.
Sabe onde está a mãe dessas crianças? Trabalhando, passeando, não importa. Importa que as crianças estão muito bem cuidadas pelo pai. E cada vez que você vir uma mãe cuidando sozinha de uma criança se pergunte: e cadê o pai dessa criança que não divide os cuidados?

Texto feito com pitacos da Deh Capella e um curtir da Amanda Vieira.

Dica de blog: Memezinho da Mamãe – humor de mãe para mãe.

Disponivel em http://blogueirasfeministas.com/2012/02/cade-a-mae-dessa-crianca/ 

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