Estudantes de todo o país protestam contra aumento das passagens

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe Prestes

Estudantes de várias cidades do país se reuniram na manhã desta sexta-feira (27) no Acampamento da Juventude para debater a nacionalização das lutas contra o aumento das passagens de transporte público. Após o encontro, eles fecharam por volta das 13h30 o sentido centro-bairro da Avenida Loureiro da Silva na esquina com a Augusto de Carvalho, sendo empurrados para fora da via por policiais.

Enquanto eles se deslocavam até o cruzamento, ocupando apenas parte da avenida, muitos veículos que passavam buzinavam em solidariedade. Mas quando obstruíram toda a via começaram as buzinas irritadiças e os gritos de “vagabundos”. Em questão de minutos o Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar chegou para acabar com o protesto. Doze policiais chegaram em dois veículos, impelindo os manifestantes liberarem a via:

– Estamos pedindo para sair quando o sinal abrir, senão o pessoal vai ser preso – ameaçou um dos policiais.

O sinal ficou verde, os motoristas grudaram a mão na buzina, mas os manifestantes não arredaram pé. Com a negativa, os policiais empurraram homens e mulheres, derrubando pertences de alguns, e levantaram os cassetetes para o alto, ameaçando usá-los.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


– Mãos ao alto, esse aumento é um assalto! – gritavam os manifestantes que, logo, acabaram deixando a via e o protesto continuou na calçada.


– A BM de Tarso segue sendo a mesma BM truculenta do Governo Yeda – bradou um dos estudantes em um carro de som. Os estudantes apontavam que nenhum dos policiais tinha a identificação à vista. Um dos policiais que coordenava a ação mostrou para a reportagem que as inscrições na farda com o nome deles ficavam embaixo dos coletes e justificou a falta de visibilidade afirmando que todos eram orientados a dizer seu nome, caso perguntassem. De fato, um deles repetia: “Quer saber meu nome? É Soldado Morais”.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Nacionalização de lutas contra aumento da passagem


Sentados em uma grande roda no Acampamento da Juventude, cerca de uma centena de jovens ouviram relatos de estudantes de vários cantos do país sobre as lutas contra aumento da passagem que se revezavam em um megafone. Chamava atenção a presença de jovens de Teresina, capital que teve os protestos mais acirrados neste início de 2012, mas também falaram pessoas de Porto Alegre, Belém, Rio de Janeiro, Vitória e Uberlândia.


Os problemas comuns relatados por eles são a falta de transparência das contas das empresas de ônibus, sempre grandes doadoras de campanha, e os aumentos sempre acima da inflação, que ocorrem geralmente nesta época do ano. “Qual é a base que justifica o aumento?”, questionou uma estudante. “Quando o nosso salário aumenta 5%, a passagem aumenta 10%”, relatou um rodoviário que participou do encontro.



Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Os estudantes debateram a escolha de um dia para um grande protesto simultâneo em todo o país. Eles também falaram sobre a necessidade de fazer um site único, uma identidade visual, mas mantendo a autonomia de cada cidade. Um exemplo citado foi o da Marcha da Maconha, que tem um site que divulga movimentos autônomos de todas as cidades.


Para os estudantes, a nacionalização deve ser uma mola de propulsão para os movimentos nas cidades. Uma estudante de Vitória, por exemplo, contou que na capital do Espírito Santo os protestos não reúnem mais que 150 pessoas e manifestou esperança de que a visibilidade dos protestos pelo Brasil fortaleçam o movimento capixaba. Opinião semelhante tem o paraense Zaraia Ferreira, integrante do DCE da Universidade Federal de Pará (UFPA).


“Nacionalizar significa fortalecer as lutas em nível local. Se você tem apoio de outros movimentos no país você tem mais força. A mídia também mostra mais a insatisfação das pessoas com o preço das passagens”, diz.


Para o estudante da UFRGS, Rodolfo Mohr, diretor de Movimentos Sociais da UNE, o movimento nacional deve ampliar o debate. “É uma forma de aumentar a força da população das cidades, de discutir no país o direito à cidade, ao transporte público”, afirma. Para a estudante de Direito da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Deborah Cavalcante, a nacionalização deve ampliar o número de pessoas que são contra o aumento das passagens. “Serve para massificar a identidade de estudantes e trabalhadores com esta luta”.


Deborah conta que estudantes gastaram R$ 15 mil em fianças para soltar os 51 presos nos protestos de Teresina | Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Realidade do transporte público em diversas cidades


Os estudantes relataram os problemas de suas cidades, que têm muito em comum, mas também suas peculiaridades. Em Uberlândia, por exemplo, os aumentos estão estabelecidos no contrato que a Prefeitura tem com as empresas que realizam o transporte. Os aumentos ocorrem anualmente, recentemente ele chegou a ser de 26% (de R$ 1,50 para 1,90). Os protestos dos estudantes não conseguem evitar estes reajustes, porque são automáticos.


Uma estudante da Grande Vitória relatou que o valor da passagem é de R$ 2,45, considerado muito alto para uma região metropolitana bem menor que outras pelo país. Todas as concessões estão vencidas há anos e o transporte público é controlado por duas famílias, que são contumazes doadoras de campanha. Não há nenhuma opção além dos ônibus e as linhas não funcionam após as 23h.


Em Belém, os estudantes conseguiram adiar por cinco meses um aumento de passagem, mas para 2012 estão previstos dois reajustes, um que está sendo justificado pela implementação do sistema de Bus Rapid Transit (BRT) e outro ordinário. Mais de 30 entidades, entre elas a OAB, criaram um Fórum em Defesa do Transporte Público. As entidades calculam que o valor que um trabalhador de Belém pode suportar é de R$ 1,65 e as passagens custam atualmente R$ 2,00.


“Com R$ 2,00 as passagens de ônibus consomem 1/3 de um salário mínimo para um trabalhador se deslocar. Se ele tiver que bancar o transporte de uma família então, fica ainda mais difícil”, afirma Zaraia Ferreira. Ele conta que nesta quinta (25) as entidades ocuparam o canteiro de obras do BRT, obra da Andrade Gutierrez que sofre denúncias de irregularidades.


Em Teresina, a forte repressão policial que correu o país acabou rendendo vitórias para os manifestantes. A Prefeitura recuou em vários pontos da recém implementada integração de linhas, que era contestada em vários aspectos pela população. No projeto original, o cidadão pagaria meia passagem do segundo ônibus se pegasse ele no período de até uma hora depois do primeiro. Agora, a Prefeitura aceitou que o período seja de 2h30min e que a segunda passagem seja gratuita. Ainda assim, a luta não acabou. A integração foi a justificativa para o aumento da passagem, de R$ 1,90 para 2,10. “Nossa principal luta continua a ser contra este aumento”, afirma Deborah Cavalcante.


As vitórias também tiveram seu preço. Um estudante de Teresina ficou cego e vários foram feridos. Além disto, 51 pessoas foram presas e tiveram que pagar fiança no valor de 10 salários mínimos. “Estamos com uma dívida no valor de R$ 15 mil”, conta Deborah.



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