A “reforma” do ensino médio, na visão de um estudante


*Por Júlio Câmara

Se a educação pública de nível médio atual já contribui para um verdadeiro apartheid social, que joga a grande parte dos estudantes de escola pública para empregos precários e com salários baixos e arremessa os estudantes de escolas particulares e cursinhos para dentro das universidades (principalmente as públicas), o Governo do Estado busca asseverar esta realidade com a reforma do Ensino Médio.

O Novo Ensino Médio, que o Governo pretende implementar no próximo ano, reduzirá drasticamente as chances, que já são mínimas, do estudante da escola pública estadual de ensino médio, ingressar na universidade. O argumento para esta afirmação é simples e de fácil entendimento: os alunos do ensino médio das escolas estaduais deixarão de estudar grande parte da matéria que cai nos vestibulares e ENEM. As horas que hoje são dedicadas a essas, serão revertidas para matérias de ensino técnico (Contabilidade, Agropecuária e Secretariado, por exemplo).

A escolha ao curso técnico que o aluno fará com o ensino médio, será bem reduzida. Na hora da matrícula, haverá apenas as opções relacionadas a base produtiva da região. Ou seja, a escolha será entre os ramos que os empresários da região mais precisam. E, depois de formado, a liberdade do cidadão diminui ainda mais, pois estará formado para atuar apenas no mercado da região e, sendo a única possibilidade de serviço junto com todos seus colegas, a mão de obra certamente será desvalorizada.

O Rio Grande do Sul é um estado onde a educação jamais é tratada como prioridade. Onde são raros os laboratórios de química, física e biologia com as mínimas condições de uso. Onde as bibliotecas possuem acervos ultrapassados e acesso burocrático. Onde os alunos precisam trabalhar em grupo nos laboratórios de informática porque os computadores são, além de antigos, escassos. E para reverter esta situação, a Secretaria de Educação pretende instaurar o Ensino Politécnico. Dizem que o sistema atual está "dissociado do tempo social, cultural, econômico e dos avanços tecnológicos da informação e da comunicação"

É hipócrita ou mal caráter quem discorda que o Ensino Médio Público não está bom. É fato que precisa de mudanças, mas que sejam mudanças que colocarão o estudante da escola pública em condições iguais para disputar uma vaga na universidade com o aluno da escola particular e que não amplie o apartheid social expressado no acesso à universidade.

Os estudantes independentes de entidades governistas dirigidas majoritariamente por quem defende apenas os seus interesses pessoais (Como a UGES/UBES/UMESPA), estão conscientizando seus colegas e organizando a classe estudantil para lutar contra este projeto nefasto do governador que nem sequer paga o Piso Nacional dos professores, que já é garantido por lei.

Perguntas e respostas:


As mudanças do Ensino Médio serão aplicadas também nas escolas particulares que funcionam no Rio Grande do Sul?
Resposta: Não. As escolas particulares continuarão preparando os seus alunos para o vestibular.
As universidades adaptarão as suas provas para o conteúdo do Novo Ensino Médio?
Resposta: Não. Quem estuda em escola pública e visa entrar na universidade, terá que estudar por conta própria ou recorrer aos cursinhos.
O Ensino Politécnico exigirá Estágio Obrigatório?
Resposta: Sim. Os alunos serão obrigados a cumprir 400 horas de estágio obrigatório.
O Estágio Obrigatório será remunerado?
Resposta: Nenhuma empresa é obrigada a pagar salário pelo Estágio Obrigatório.
E no próximo ano já estará tudo reformado?
Resposta: O objetivo do Governo é reformar gradualmente, em 2012 o 1º ano, em 2013 o 2º ano e em 2014 o 3º ano. Se o plano será executado, dependerá da nossa luta.

Júlio Câmara é estudante e Presidente do Grêmio do Infante Dom Henrique

0 comentário(s):

Postar um comentário

Deixe sua sugestão, crítica ou saudação juntamente com seu contato.

 

© 2009-2012 movimento contestação