Filho não é só da mãe

Hoje vi uma cena pouco comum, mas que acredito que não deveria ser. Um pai, com seu bebê no colo, sozinho dentro de um ônibus, todo desengonçado com a criança, o carrinho e a sacola do pequeno. Percebi que houve uma certa comoção dentro do ônibus. Homens e mulheres pareciam pasmos ao verem um pai carregando sozinho seu bebê, sem a ajuda da mãe. Ou melhor, pareciam pasmos com o fato da mãe não estar presente e caber àquele homem os cuidados com o filho.
Ninguém nasce sabendo ser pai, ou sabendo ser mãe. Se aprende a partir do momento em que se decide levar uma gravidez adiante e, principalmente, quando a criança nasce. No entanto, o filho parece ser somente da mãe.
Se a mulher decide pela interrupção da gravidez é uma vadia egoísta. Sobre o homem, que a apoiou na decisão ou que falou “te vira”, não existe qualquer julgamento.
Se a mulher decide ter o bebê, ao lado do companheiro ou não, cobra-se dela todos os cuidados com sua saúde e, consequentemente a saúde do bebê. O que é certo. E o que se cobra do homem? No máximo, que ele a leve ao hospital. Não incentivam que ele entre no consultório, que acompanhe a mulher, que tenha informações sobre a criança, que tome aquela gravidez como sua também.
Passam-se nove meses; o bebê nasce. Enquanto a mulher está parindo, sentindo a dor e o prazer de ver sua criança chegar ao mundo, o pai está lá na salinha de espera. Só vê o bebê pelo vidro do berçário. Não dá o primeiro banho, não corta o cordão umbilical. Fica ali de fora da festa.
A mãe tem licença maternidade de quatro a seis meses, dependendo do lugar onde trabalha. O pai tem cinco dias para ficar perto de sua criança. Há quem defenda que caso se estenda a licença paternidade, os homens vão para o boteco beber. Até porque homem não tem sentimento, não sente amor, não sente orgulho, acha que a companheira tem mesmo é que ficar sozinha cuidando do filho que é só dela.
Pois bem, nesse tempo enquanto as mulheres se dedicam ao seu bebê, criam laços amorosos, estreitam essa relação, os homens ficam de fora, trabalhando, levando dinheiro para suas casas. Afinal, eles são os provedores não é mesmo? Quem cuida de criança é mulher.
Até quando o Estado brasileiro vai continuar perpetuando a ideia machista de que filho é só da mãe? Até quando vão impedir que os homens cuidem de seus filhos? Criem laços amorosos? Demonstrem seu amor? Até quando o Estado brasileiro continuará enxergando o cuidado como algo só da mulher? Até quando os homens vão continuar alijados da sua paternagem?

Imagem do Ilustrador Marcos Roberto. Inspirado no quadro Son of Man de Magritte.

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