DCE da PUCRS é alvo de desconfiança e protestos há mais de uma década


Sexta-feira (10) à tarde, em frente à sede do DCE: manifestantes mais engajados seguem acampados (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
Felipe Prestes
Desde a última quarta-feira (8), estudantes da PUCRS protestam em frente ao Diretório Central de Estudantes (DCE) da entidade. As manifestações chegaram a reunir centenas de pessoas nas noites de quarta e quinta-feira. Os mais engajados acamparam em frente à sede do DCE. O estopim foi a eleição para enviar representantes da universidade ao Congresso Nacional da UNE (Conune), que será realizada no mês de julho, em Goiânia. Os manifestantes querem saber por que foi negada a participação de chapas de oposição no pleito e dizem ter sofrido agressões ao pedirem explicações. Mas o enredo principal é outro, que remete a várias gerações de estudantes: desde meados dos anos 1990, alunos da PUCRS denunciam que um mesmo grupo político domina a direção do DCE e se perpetua com pouca transparência na condução das eleições.
Estudantes como Pâmela, de Serviço Social, e Rafael, do Direito, estudam há mais de três anos na universidade e afirmam que nunca conseguiram votar para uma eleição ao DCE. “Há mais de 20 anos não há eleições livres no DCE”, diz Pâmela. Os estudantes apontam que um mesmo grupo, ligado à Juventude do PDT, se mantém no poder há vários anos. Na década de 1990, as críticas já eram as mesmas quando, por exemplo, o atual vereador de Porto Alegre pelo PDT, Mauro Zacher, presidiu o DCE.
Protesto de Estudantes na PUC/RS
Protesto reuniu multidão na quinta-feira. BM precisou fazer segurança (Foto: Divulgação)
Em 2004, denúncias de fraudes em uma eleição para o DCE geraram forte repercussão, mobilizando imprensa, Ministério Público e até uma investigação da Assembleia Legislativa. Após recolher diversos depoimentos, deputados concluíram que as eleições não eram livres e democráticas, que havia indícios de que a Reitoria interferia nas entidades estudantis e tentava censurar as manifestações dos alunos, e que havia indícios de ação de quadrilha, com ameaças, violência e coação física. O relatório apontava até mesmo que a política estudantil poderia ser a causa da morte do jovem Fabio da Silva Borba, assassinado em 1997.
“Todos os trâmites são realizados”
Apesar das investigações, novas gerações vão ingressando na PUCRS e seguem ocorrendo denúncias e tumultos, eleição após eleição. Alguns alunos apontam, por exemplo, que nos prédios onde há maior concentração de estudantes de oposição não aparecem urnas, o que teria ocorrido na última eleição para o DCE. A atual gestão do diretório afirma que a última eleição foi realizada com apoio de todos os centros acadêmicos da universidade e registrada em cartório. “Tudo foi devidamente registrado em cartório e passado também para a direção da PUCRS. Foram realizados todos os trâmites necessários. As urnas são colocadas nos locais corretos. Cada um pode protestar como quiser”, afirma Adriano Weinmann, tesoureiro do DCE e estudante de Direito. Quanto à não-homologação de chapas para o Conune, o DCE alega ter dado prazo maior para que as chapas adequem sua documentação.
Adriano nega que o grupo que dirige o DCE tenha vinculação partidária, como acusação uma pichação na parede da sede com os dizeres: “Fora PDT”. “Há grupo muito grande de pessoas que dirige ou apoia o DCE. Algumas delas são filiadas a partidos, mas o DCE não compra qualquer causa partidária”.
Integrantes do DCE (à frente) e um manifestante (no fundo) trocam insultos (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
Protestos e intimidações
Até quinta (9), manifestantes obstruíam a entrada na sede do DCE, acampados em frente ao local. Uma liminar obtida na Justiça fez com que a administração do diretório pudesse retomar o local. Os estudantes contrários à gestão, contudo, apenas deslocaram suas barracas alguns metros mais longe da porta do diretório e permanecem ali cobrando explicações, o que motivou os membros do diretório a se instalarem em outro prédio. Quando a reportagem do Sul21 chegou em frente ao DCE, no campus central da universidade, eles transportavam computadores e documentos para uma sala em outro prédio. No caminho até a nova sala, estudantes dos dois lados opostos procuravam intimidar os adversários filmando uns aos outros com câmeras portáteis e trocavam acusações, quase partindo às vias de fato.
Algumas jovens que protestam contra o DCE dizem ter sofrido agressões na quarta-feira (8), ao irem cobrar explicações sobre o indeferimento de sua chapa na eleição para escolha dos delegados do Conune. “Uma menina foi empurrada e eu fui jogada no chão”, conta uma delas. Em um dos protestos, os manifestantes acusam integrantes do DCE de jogarem gás de pimenta contra eles.
“São movimentos pacíficos de ambos os lados, com agressões verbais. Apenas alguns dos manifestantes a gente vê alterados pelo uso de álcool”, diz Adriano, do DCE. Ele também afirma que no maior dos protestos, realizado na quinta (9), havia, entre os manifestantes, pessoas que nem eram estudantes da PUC engrossando o protesto.
Os manifestantes, por sua vez, apontam certo apoio da PUCRS à direção do DCE. “Os seguranças da PUC fazem segurança para o DCE e se portam de forma omissa para com as agressões. A universidade atua de forma tendenciosa”, diz Pâmela.
A PUC recebeu na quinta-feira (9) os manifestantes e ouviu suas reivindicações. Os estudantes pediram que a instituição acompanhe o processo de escolha dos delegados da universidade para o Conune. A universidade  afirma que está acompanhando o processo e mediando o conflito entre os estudantes.

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