Nota da CEU sobre matéria de ZH contra estudantes da UFRGS

5 maio 2011


Após a publicação, do texto da última quarta-feira, que analisa matéria do jornal Zero Hora sobre a Casa do Estudante da UFRGS, recebemos dois emails cuja divulgação entendemos fundamental para fundamentar com ainda mais clareza a crítica feita anteriormente. O primeiro veio de uma estudante da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), que afirma já ter vivenciado em Pelotas o mesmo processo pelo qual passa hoje a UFRGS, e relata, no email, no que resultou a continuidade desse caminho. O segundo é uma nota emitida pelos moradores organizados da Casa dos Estudantes da UFRGS, enviada por Cristian Conrad, o mesmo estudante citado na matéria de Zero Hora que tratou do assunto.

Primeiro, o email de Francesca Azevedo:
Sou moradora da CEU UFRGS, faço mestrado em Sociologia (por ironia a dissertação é sobre a literatura brasileira no pós-64). Antes morei na CEU da UFPEL, quando estava na graduação de Letras e Filosofia. A CEU-UFPEL tem cinco andares e 204 moradores que dividem entre quatro um quarto, passou pelo mesmo processo de autoritarismo que vivenciamos também agora, em Porto Alegre, com um regimento que vem guela abaixo. Lá hoje, mesmo os familiares não podem pousar uma noite que seja no  quarto do morador, nem mesmo no dia da formatura, que para muitos é a primeira e provavelmente única vez que chegam em Pelotas.Proibidas as visitas, há câmeras filmando todos os corredores, acesso e saída, o visitante que já deixa seu número de rg no cadastro, ainda deve ser filmado…os moradores já estão todos com sua devida digital cadastrada  e toda santa vez que saem ou entram de sua casa, precisam parar e escanear o dedo na maquininha da portaria, chega a fazer fila…é triste isso tudo.
Outra vez, sinto-me criminalizada, difamada, enfim lesada moralmente, ao ler uma notícia falaciosa e claramente tendenciosa publicada pelo ZH, provavelmente escrita por um ser que nunca morou numa CEU ou a frequentou. Eu, q nada tenho contra o nudismo, vou para o banheiro de roupa até, lá me banho como todo mortal mediano e volto de toalha mediana ou roupão para o quarto. Trajes íntimos, ora, acho q vai sair uma fogueira de sutiãs e cuecas aqui, já que como o próprio ZH publicou, “acendeu novos protestos”, o fato é que não somos contra as regras sabemos que existe inclusive uma constituição, e que ainda não há lei seca no Brasil, e que a casa é um prédio público de acesso especial, embora por toda a UFRGS, sirva-se eventualmente um vinho entre uma palestra e outra, e isso é normal, e que bom que seja, mas só os escolhidos podem ter um momento de lazer, socialização, convescote.
Seguem em anexo, dois desenhos feitos por mim, aquele do AI-5 é uma síntese do que os estudantes vêm sofrendo, a cópia é livre. Só não gostaria que nos botassem pra marchar aqui também.
Francesca Azevedo
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Agora, a nota dos moradores da Casa do Estudante Universitário da UFRGS, sobre a matéria publicada em Zero Hora:
NOTA DE ELUCIDAÇÃO à matéria publicada no Jornal Zero Hora, dia 4 de maio de 2011.
Discordamos e rejeitamos o conteúdo da matéria sobre o Regimento da Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), veiculada pelo Grupo RBS (vide Zero Hora e Jornal Catarinense) no dia 4 de maio de 2011. Trata-se, como outrora bem definiu José Arbex Jr., de um “showrnalismo” onde as informações sobre um tema passam por um tratamento lingüístico e pelo crivo ideológico. É dessa maneira que o jornalista Carlos Wagner procedeu na distorção do assunto, conferindo-lhe um sentido diverso ao que realmente defendem @s moradores (as) da CEU. Entre suas adulterações, a mais grosseira é sobre o que distingue fundamentalmente as propostas. Nós, estudantes e moradores (as), somos irredutíveis em relação ao caráter democrático que deve prevalecer tanto no processo de elaboração deste documento quanto em sua aplicação, em particular, no que concerne ao Conselho Diretor.
Inicialmente, o texto da matéria busca forjar a opinião d@s leitores (as) de que a polêmica tenha se dado em torno das proibições (consumo de bebidas alcoólicas e uso, ou não, de trajes íntimos). Ora, em momento algum os moradores entrevistados citaram esse ponto. O fulcro da questão, em verdade, é sobre a participação e o consentimento d@s moradores (as) nesse novo Regimento. Até o momento as nossas tentativas de dialogo com a SAE foram frustradas porque ela não respeitou as instâncias pertinentes e recusou todas as alterações que propomos. Tanto que a demonstração estudantil mais insigne foi o Ato do dia 28 de abril. Na ocasião, dezenas de moradores (as) foram até a SAE entregar seu modelo de Regimento e pressionar o secretário para que se comprometesse, oficialmente, perante o corpo discente e as instâncias deliberativas da instituição. Porém, o prédio da SAE encontrava-se fechado, sob a guarnição de diversos seguranças que não permitiram nossa entrada. Não fomos prontamente recebid@s pelo Senhor Edilson, e saímos de lá apenas com um comprometimento oral de que ele participaria da próxima Assembléia Geral de Moradores (as).
Queremos igualdade para debater os assuntos relativos à Casa com a administração, seu funcionamento, seus problemas, as decisões que precisam ser tomadas. Afinal de contas, quem mora na CEU somos nós. Nunca apresentamos um modelo de autogestão como sugere o secretario da SAE. Aliás, isso é desdenhar nossa capacidade de entendimento sobre como se estabelecem as relações internas e externas de uma instituição pública e quais são seus marcos legais. O que estamos pautando é que a administração da Casa seja realizada por um Conselho Diretor, necessária e igualmente composto pelo corpo administrativo e por moradores (as). Por outro lado, o jornalista Carlos Wagner subestima a capacidade de raciocínio d@s leitores (as) uma vez que tenta articular um texto que desafia as próprias regras de um discurso lógico e coerente. Ressaltamos ainda que a maneira como foi abordada as proibições – circulação de pessoas em trajes íntimos e/ou despidas e a proibição de substâncias ilícitas – não passa de uma aberração midiática. amais houve um setor na UFRGS que, em seu conjunto de normas, permitia tais interdições. E nem vai haver. Existem leis federais que coíbem e punem esses tipos de práticas, e que permeiam preceitos legislativos de qualquer ordem.
Ao cabo de muito esforço continuamos, mais do que nunca, mobilizados nessa luta. Temos vontade e queremos participar da construção do Regimento Interno. Acreditamos e defendemos a necessidade de concretizar regras para a CEU. Mas, não abriremos mão sobre nossa efetiva intervenção em seus assuntos.
Cristian Conrad

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