Semana passada, o jornalista Aguirre Peixoto foi demitido do jornal A Tarde, o maior jornal impresso da Bahia. Fontes do veículo confirmam que o dono de uma empreiteira pediu a cabeça do jornalista por conta de reportagens assinadas por ele que denunciavam ilicitudes cometidas por grandes empreiteiras em obras da Tecnovia em Salvador. O jornal alegou que a exoneração se deu por conta de um "erro grosseiro" do profissional, sem dizer qual.
Até agora, somente um canal de TV - a emissora pública TVE - e alguns sites na internet comentaram o fato. Os leitores/consumidores do jornal mal sabem dos acontecimentos, mas a notícia acabou sendo bastante difundida em redes sociais na internet. Desde sábado, o site do jornal vem sofrendo ataques por DDoS de 'hackers' em protesto contra essa atitude do jornal. O site chegou a sair do ar diversas vezes e, até mesmo, a rede interna da empresa foi afetada.
Diante do fato, o diretor de jornalismo chegou a colocar o cargo a disposição, e colegas do jornalista demitido entraram em greve, suspensa nesta segunda (15/02) quando os proprietários do jornal readmitiram o jornalista e entraram em negociação com uma comissão dos jornalistas que se queixam da pressão interna que vêm sofrendo. Aguirre conseguiu voltar para o jornal garantindo seus direitos trabalhistas, sem ter sido descontados os dias que ficou afastado.
Aguirre era o responsável pelas reportagens do jornal sobre crimes cometidos na construção da Tecnovia (Parque Tecnológico de Salvador), onde o Ministério Público, além da aplicação de multa, pede a prisão do ex-secretário de Ciência e Tecnologia Ildes Ferreira, do proprietário da NM Construtora, Nicolau Martins, e dos quatro representantes da Saraíba: Carlos Suarez, Francisco Bastos, André Duarte Teixeira e Humberto Riella Sobrinho. Uma liminar que cassava a multa foi conseguida na 10ª Vara Federal, mas o periódico Tribuna da Bahia - conhecido por seus posicionamentos ainda mais conservadores que seus concorrentes - publicou que a ação contra as obras havia sido cassada.
Numa outra reportagem, Aguirre desmente a afirmação do Tribuna da Bahia ouvindo o Ministério Público (MPF) e mostrando que se tratavam de dois processos distintos. Foi suficiente para que o diretor geral do jornal, que havia liberado a reportagem, sendo, portando, também responsável pela publicação da mesma, cedesse à pressão dos empreiteiros e o demitisse. Detalhe que o MPF posteriormente publicou nota confirmando as informações dadas pelo jornalista.
Parte da atitude esdrúxula do jornal explica-se pela informação muito divulgada de uma suposta crise que o mesmo vem passando. O jornal recentemente perdeu a posição de mais lido para o seu principal concorrente - o Correio, da família do finado Antonio Carlos Magalhães, também donos do Tribuna da Bahia. Perdeu ainda parte de seus anunciantes, entre eles estão grandes empresas do setor imobiliário que, sentindo-se incomodadas com uma série de reportagens onde o jornal denunciou escândalos de crimes ambientais e contra o patrimônio público cometidos por estas empresas com a conivência de órgãos da prefeitura, deixaram de anunciar no jornal. Muitos acreditam ter sido essa uma tentativa do jornal se redimir com os antigos anunciantes.
Esse é só um fato mais explícito mostrando o poder de influência de corporações sobre a imprensa, que ainda assim, é vista como o espelho da verdade. Esse tipo de censura não parece preocupar muito os donos dos meios de comunicação, talvez porque ela recaia apenas sobre os seus funcionários e não sobre os jornais, que pela sua estrutura e relações com a sociedade, não deixam de ser empresas que produzem e vendem "verdades".
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