Revista Norte entrevista Carlo Ginzburg

Para que atenda a uma função social mais ampla, é importante que uma revista de jornalismo cultural que se propõe a tratar do que é costumeiramente chamado de “alta cultura” consiga dialogar com camadas sociais que não as elites intelectuais. Essa necessidade é ainda mais aprofundada quando a publicação é de distribuição gratuita. Nesse caso, o acesso de quem não costuma ter acesso à informação e a certos tipos de cultura é facilitado, e é importante que a publicação explore essa possibilidade.

Mesmo a revista sendo distribuída prioritariamente em livrarias – locais aos quais a maioria das pessoas não tem acesso costumeiro – um veículo de comunicação pode ser um elo a mais para tentar fazer com que esses não-leitores e não-frequentadores de livrarias se tornem interessados em novas formas culturais. O outro lado também é verdadeiro, o outro sentido também é possível e importante. Uma revista destinada prioritariamente a um segmento mais elitizado da população pode exercer o papel de intermediador cultural, levando a “alta cultura” a quem ela não costuma chegar e levando a “cultura popular” a quem não costuma interessar-se por ela.

A edição 16 da Revista Norte, de Porto Alegre, levou o popular às elites, com uma excelente matéria sobre o escritor e jornalista João Antônio, comentada aqui no Jornalismo B. A edição 17, de dezembro e janeiro, faz o inverso. A capa é uma entrevista com o historiador italiano Carlo Ginzburg. O historiador defende a ideia de que a forma dos textos não deve ser simplificada para atingir um público mais amplo, mas a entrevista consegue, em sua maior parte, chegar a um leitor não familiarizado com Ginzburg ou com a historiografia. É quando não consegue fazer isso que ela derrapa.

A entrevista foi concedida a Rodrigo Bonaldo, e a formação do entrevistador – historiador – fica clara no profundo conhecimento que demonstra na condução da conversa. As primeiras perguntas são mais gerais ou factuais, tratando de um livro recém relançado no Brasil, o reconhecimento dos brasileiros ao trabalho de Ginzburg, o mercado editorial, o “fascínio pelo passado” e a dificuldade de escolher a forma certa para os textos de História.
Em seguida, três perguntas mais técnicas, essas sim totalmente incompreensíveis para quem não está acostumado com os trabalhos de Ginzburg. Ainda que se crie aí o ônus de tornar, por três momentos em sequência, a entrevista chata para quem é leigo, o entrevistador contempla também, por esses momentos, quem está mais ambientado com o entrevistado. Depois, voltam questões de interesse geral, mas muito bem colocadas, ligando a trajetória de Ginzburg com questões brasileiras, como a abertura de arquivos da Inquisição – conseguida por Ginzburg junto ao Vaticano – e a discussão sobre os arquivos da Ditadura Militar no Brasil.
Postado por Alexandre Haubrich
jornalismoB

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