A Fundação Getúlio Vargas divulgou hoje o novo Índice de Confiança na Justiça, que mede também a opinião da população brasileira sobre as principais instituições do país. As Forças Armadas, mais uma vez, ocupam a primeira posição, com mais de 60% de aprovação.
A novidade, no entanto, fica para a segunda colocação, que foi arrebatada pela igreja, antes em um longínquo sétimo lugar. Não apenas a católica, mas todas, em especial as neopentecostais, que crescem em alta velocidade.
Já o Congresso ocupa a penúltima posição, ganhando somente dos partidos políticos – estes despencaram de 21% de confiança para míseros 8%.
Talvez essa pesquisa soe previsível após um segundo turno em que as posições conservadoras ganharam fôlego, em especial no que diz respeito à discussão sobre a descriminalização do aborto. Contudo, conforme esclarece sua coordenadora, Luciana Gross Cunha, os dados foram recolhidos em setembro, ou seja, antes que o debate se acirrasse tanto.
Além de ser lamentável saber que a população foi às urnas sem confiança em nossos políticos, isso me faz pensar que, talvez, a sociedade brasileira esteja mesmo mais conservadora e que o grau de extremismo de alguns discursos e ações durante o pleito seja reflexo disso, e não somente de uma disputa polarizada. Ou seja, o debate se espalhou de baixo para cima porque ele já estava latente. Claro, foi muito bem aproveitado pelas candidaturas, principalmente a de oposição, que se utilizou desse sentimento para tentar reverter uma derrota evidente. Mas, de certa forma, isso tudo já estava lá.
Junto com índices que pipocam por aí, como o aumento do número de casamentos formais entre os jovens, tendo a achar que o Brasil experimenta um retrocesso social, político e dos costumes que não é pontual nem momentâneo.
E por quê?
Bem, há se investigar. Muitos estudos já apontaram que o voto das mulheres tende a ser conservador porque elas pensam na manutenção do lar antes de decidir por determinada candidatura. Não confiam de imediato em promessas de grandes mudanças e fiam-se muito na família. Nessa linha de raciocínio e traçando um paralelo com o aumento da renda média do brasileiro e da distribuição da riqueza nacional nos últimos anos, arrisco-me a dizer que, quanto mais ascensão social tiver, mais crescerá o conservadorismo.
É um pouco o que André Singer, professor do departamento de Ciência Política da USP, vem dizendo sobre o lulismo, mas, quiçá, com uma preocupação maior de minha parte. Afinal, é possível que essa corda rompa para o lado (ainda) mais suscetível, como as mulheres e os gays. Se as Forças Armadas e as igrejas continuarem como as principais referências da população, isso significa que nos apoiamos no militarismo e na tradição doutrinária, que tem pouca ou nenhuma tolerância com os grupos que acabo de citar.
E daí para vermos jovens de classe média espancando pessoas na Av. Paulista, em São Paulo, é um pulo.
Escrito por Maíra Kubík Mano às 11h29
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