Estadão distorce e admite distorção sobre Venezuela

30 setembro 2010

O boicote da imprensa hegemônica brasileira ao avanço da esquerda latino-americana é antidemocrático e mentiroso, e não para. A esquerdização da política da América Latina foi a única forma de, enfim, a mídia brasileira enxergar o continente do qual fazemos parte. Mesmo assim, apenas simula enxergar, vira o rosto de frente mas fecha os olhos, imagina uma realidade, e a coloca no papel.

As eleições venezuelanas e a cobertura que receberam do jornal gaúcho Zero Hora foram tratadas aqui nesse espaço no último post. Dessa vez, o assunto é uma pequena matéria publicada à meia-noite desta quinta-feira no site do Estadão, também sobre o pleito na Venezuela, que ocorreu domingo.

Com alguns dias de atraso, a matéria acha novas formas de tentar mostrar que o governo chavista está em baixa. Com 97 deputados eleitos, o partido do presidente, o PSUV, segue com maioria, contra os 65 parlamentares do principal partido da oposição e três candidatos de partidos menores. Mesmo assim, a imprensa hegemônica brasileira é criativa para achar formas de passar ao povo brasileiro a ideia de que os governos de esquerda são um fracasso.

O site do Estadão distorceu a interpretação da informação, e admitiu que distorceu. Comparou dois objetos incomparáveis. Compararia qualquer coisa para “provar” o erro que são, segundo eles, todos os governos populares, todos os governos de esquerda. Vamos nos ater ao final da matéria. Há um quadro, com o título “Queda livre”, assim:

7,2 milhões de eleitores asseguraram o terceiro mandato seguido de Chávez nas urnas, em 2006
6,2 milhões apoiaram a reforma de 2006, que deu a Chávez o direito de concorrer a novos mandatos de forma ilimitada
5,3 milhões votaram em candidatos oficialistas no domingo

Esse é o raciocínio do Estadão para dizer que o governo venezuelano, personificado pela imprensa em Chávez, está em queda livre. Não consideram que a reforma de 2006 era uma escolha diferente da eleição de Chávez no mesmo ano, e que talvez esse milhão de pessoas que votaram a favor de Chávez não votaram, depois “contra” Chávez presidente, mas contra o direito de um presidente concorrer ilimitadamente. Não consideram o mesmo tipo de diferença em relação às eleições desse domingo.

Na verdade, consideram, sim, mas essa constatação óbvia é escondida no título, no quadro, e em quase todo o texto. Apenas em uma pequena frase, assim como quem não quer nada, o Estadão admite que distorceu a matéria inteira. Não há encerramento melhor para este texto do que a admissão da manipulação pelo próprio jornal:

A comparação, entretanto, é feita com base em duas votações de caráter diferente – em 2009, tratava-se de um plebiscito em torno de uma proposta de reforma constitucional. No domingo, os eleitores foram às urnas escolher entre os candidatos do governo e da oposição para renovar o Parlamento.

Postado por Alexandre Haubrich

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Fonte: http://jornalismob.wordpress.com/2010/09/30/estadao-distorce-e-admite-distorcao-sobre-venezuela/

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