A política do medo

8 setembro 2010

A questão de como cuidar e aproveitar a orla do Guaíba, em Porto Alegre, volta à tona a cada projeto imobiliário ou ambiental pensado para a região. Com as votações na Câmara de Vereadores de Porto Alegre acerca do novo Plano Diretor da capital gaúcha, o assunto ganha importância mais uma vez. A oposição à prefeitura de José Fortunati (PDT) tenta derrubar o veto do prefeito a um artigo que define em 60 metros a área de preservação a partir da orla.

O jornal Zero Hora, sempre entusiasta dos grandes projetos imobiliários e pouco afeito à defesa ambiental, adotou, na cobertura do assunto, a política do medo. É algo semelhante à velha propaganda anti-comunista, que dizia (e ainda diz) que “os comunistas vão botar mais famílias para morar na sua casa”, ou aquela coisa toda sobre comer criancinhas. É algo semelhante às célebres peças publicitárias do PSDB nas quais a atriz Regina Duarte dizia ter medo do PT. Só que agora deveria tratar-se de jornalismo.

A reportagem é de Gustavo Azevedo e Maicon Bock, e traz como título “Mais um impasse para a orla do Guaíba”. A linha de apoio quase poderia ser usada em um daqueles túneis do terror, para assustar criancinhas ou, no caso, a classe média alta da capital:

Uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, a capital vive mais uma controvérsia em torno do uso da orla. O veto do prefeito à regra que impedia construções em uma faixa a 60 metros do Guaíba corre o risco de ser derrubado hoje na Câmara, o que afetaria projetos futuros e construções já existentes e geraria desapropriações milionárias.

Antes de mais nada, um comentário à parte: atentem-se ao uso que a imprensa hegemônica gaúcha e a estrutura que ela representa farão da Copa do Mundo de 2014 para tentar enfiar goela abaixo da sociedade qualquer projeto de infraestrutura, tenha ele os efeitos negativos que tiver, incluindo aí, especialmente, os relacionados ao meio ambiente. Já está virando, e vai tornar-se cada vez mais, o argumento chave.

afetaria projetos futuros e construções já existentes e geraria desapropriações milionárias – Ora, é alguma novidade que uma lei afete “projetos futuros”? Seja o limite de 30 ou de 60 metros, construções futuras serão afetadas, obviamente, e o fato de o serem não quer dizer que não deva haver lei. O objetivo das leis é exatamente esse.

Sobre as “construções já existentes” e as “desapropriações milionárias”, o vereador Airto Ferronato (PSB), autor da emenda, explica que poderia sem problemas ser “incluído posteriormente um parágrafo para evitar alterações nas áreas consolidadas”. Esse, aliás, era o teor inicial da emenda, mas esses parágrafos foram retirados pela Comissão que analisou a proposta.

As afirmações de Ferronato estão na reportagem de Zero Hora, mas restritas a um parágrafo em um pequeno quadro e à entrevista do vereador publicada abaixo do texto principal, onde não sobrou espaço para esse esclarecimento fundamental. Há espaço, porém, para dizer que “poderiam ser afetados prédios como o Museu Iberê Camargo, as instalações do Parque Gigante e centenas de imóveis situados nessa faixa”.

Postado por Alexandre Haubrich

Fonte: http://jornalismob.wordpress.com/2010/09/08/a-politica-do-medo/

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