O feminismo quer acabar com a família!

Essa é uma acusação frequente que ouvimos em meios conservadores, especialmente religiosos. O feminismo como ameaça a uma instituição que é base da sociedade. E neste texto não pretendo negar isto. A questão importante é: que família?

Foto do flickr de More Good Foundation, alguns direitos reservados

Para os conservadores, só há uma família possível: heteronormativa, cissexual, formalizada em cartório ou igreja (melhor ainda se for em ambos), com crianças, em que o pai é sempre a liderança. A manutenção da unidade deste núcleo familiar é um índice de sucesso conservador. Assim, o divórcio é sempre um fracasso, e casais juntos há 50 anos são vistos como modelo a ser copiado. E, vejam vocês, as feministas são entusiastas da possibilidade de divórcio, de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, de uma união afetiva sem casamento formal, da formação de famílias sem filhos , das famílias monoparentais.
Não há entre feministas nenhum discurso que reprove a manutenção de uniões bem sucedidas de longa data. Ninguém é menos feminista porque é casada há 30 anos. Mas o que o temos em conta é que uniões duradouras muitas vezes são baseadas na anulação da individualidade de um dos cônjuges que, na imensa maioria dos casos, é a mulher. Não confundir individualidade com individualismo. Muitas vezes se critica o primeiro pensando criticar o segundo. Individualidade não é egoísmo, mas a manutenção de uma identidade para além de nossas relações. Porque não acreditamos que um casal passa a ter uma identidade única depois de sua união, embora esteja claro que muitas mulheres se esforçam para corresponderem a essa expectativa conservadora.
Sabemos também que essa família de comercial de margarina é, muitas vezes, o cenário de abusos violentos. Abusos emocionais, verbais e sexuais que são potencializados pela falácia de que a casa é sempre um lugar seguro. Não é essa a realidade pra muita gente. Há crianças que crescem vítimas de violências constantes, ou traumatizadas por testemunharem as agressões sofridas pela mãe porque o casal não quer/ não pode se separar.
Não negamos que há violência entre casais do mesmo sexo também, ou que os homens são eventualmente vítimas de violência por parte de suas companheiras. Mas as mulheres cissexuais crescem com essa expectativa de que sua realização depende de formar uma nova família, que por sua vez depende da manutenção do casamento.
Nós acreditamos que boa parte das pessoas prefere viver acompanhada a sozinha (mas não todas). Outra parte relevante quer sim ter filhos, apesar de defendermos que há quem não os queira. Por fim, acreditamos que é possível ser muito feliz no modelo heterossexual, monogâmico, com crianças. Mas essa não vai ser a escolha de família de muita gente. E, mais ainda, algumas pessoas vão descobrir que não se realizam no modelo conservador e buscar outras possibilidades. O que nós apoiamos também, claro. Então, desprezamos sim a obrigatoriedade de um modelo conservador para todas as pessoas como única possibilidade aceitável. A família como obrigação conservadora e pesada não tem nosso endosso.

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Agora, pra quem acredita que família é o conjunto de pessoas reunidas pelo afeto, que só o que importa é o respeito mútuo e o compromisso de colaboração e afeto, temos uma boa notícia. Nós, feministas, estamos com você.

Texto de Iara Paiva, disponivel em Blogueiras feministas

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