Amiguinhos Virtuais (Piccoli Amici Virtuali), Vittorino Andreoli*

Cada vez mais cedo as crianças navegam na Internet, seja para jogar Video Game ou se comunicar com os ‘amigos’, por exemplo. O risco, porém, é dos pequenos perderem o contato com a realidade e também de não saberem construir sentimentos profundos de afeto. Acaba se criando uma confusão entre o universo concreto e o universo de fantasia, e ainda mais, o risco de uma nova uma doença.

Vittorino Andreoli é um psquiatra
e escritor italiano
Muitas crianças navegam por horas e horas e se sentem perdidos quando um adulto desliga o computador. São pequenos siber-dependentes, incapazes de orientar-se num parque de diversões ou ao redor de sua casa; porém se saem bem no mundo da Internet. São protagonistas de games e populares nas redes sociais, mas sobretudo muito solitários. Este é um ponto bastante preocupante, segundo um pesquisa recente da Universidade Gregoriana de Roma os jovens fãs da rede tendem a ser mais depressivos e tem mais dificuldade iniciar qualquer tipo de relação.

O mundo virtual sempre existiu, de fato, e acompanhou a história do homem. No passado, cada individuo era autor do seu mundo virtual, que o ajudava a superar as dificuldades do mundo real. Adultos e crianças se sentiam protagonista de suas fábulas. Hoje, não somos nós que produzimos este mundo virtual, de imaginação, com a nossa mente, mas sim as novas tecnologias. Basta se conectar na rede para descobrir infinitos tipos de jogos e brincadeiras já prontas. É claro que podemos colocar a TV e a Internet na cruz, devemos buscar uma solução, uma saída. Mas mesmo assim se deve ter muita atenção, pois o problema é muito maior: o significado da relação entre realidade virtual e realidade concreta muda no curso da vida.

As crianças menores , entre 3 anos de idade, precisam ser proibidas de usar o computador pois nessa breve faixa de idade a criança começa a construir um processo de individualização -  de separação: a criança adquire pouco a pouco a noção de si mesmo, se separa do corpo da mãe e se torna um ‘adulto autonomo’. Aprende então a reconhecer o lugar que o cerca. É um período muito delicado e de difícil aprendizagem onde a criança vive num mundo de realidade e fantasia - o que pode dificultar o seu crescimento depois.

A partir dos quatro anos os pequenos começam a ter noção maior do que é mundo material e pode,  portanto, entrar em contato com aquele da fantasia. Também neste caso, é necessário que os adultos, em primeiro lugar os pais, acompanhem de perto o ingressar de seus filhos no mundo da imaginação. O maior risco, de fato, sempre é o da confusão. Se uma criança chora porque alguém desliga a televisão ou o computador, logo se sente perdida sem os seus “amigos eletronicos” e não consegue nem entrar em contato com a mãe, sinto dizer mas a criança não se sente bem no mundo real, pode ter a dança da ‘criança televisiva’, que se sente feliz, contente apenas num mundo que não existe.

Segundo pediatras franceses, as crianças entre os 3 e os 10 anos não deveriam estar mais que 2 horas e meia por dia na frente da tela de um computador ou televisor. São tempos de mudança presentes; uma coisa é navegar sozinho, outra é estar junto dos pais. O risco de uma exposição são muito altas até para o físico infantil, dado que a relação que se estabelece entre uma criança e um computador é do tipo emotiva, não sentimental. O sentimento é uma relação que se constrói e se cria segurança; já a emoção traz a raiva e o medo, por exemplo, é a resposta imediata a um estimulo, algo arrebatado que não traz fortaleza.

As crianças emotivas não sabem construir relações afetivas profundas e duradouras, tem necessidade de sentir-se estimulados. Essas crianças são frágeis e tendem a se isolar com os seus eletrónicos. Estes são depressivos, pelo menos numa visão clinica, sós. Tem tantos amigos virtuais, mas nenhum para brincar, jogar, brigar, discutir; porém não sabem dar afeto, e por vezes nem o recebem.

As crianças emovivas são como marionetes, só se alimentam de imaginação.

*Traduzido e adaptado por Josias Porciuncula.

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