Quando a primavera chega aos desertos

Vivemos em um tempo barroco. Tecnologicamente, somos capazes de ir ao infinito. Há poucos dias, foi exibida na televisão o primeiro caso de um homem com um olho mecânico que podia filmar tudo enquanto e enviar as imagens para uma webcam; japoneses já criaram um exoesqueleto que aumenta em muitas vezes a força do usuário; temos um ensaio de cura para a AIDS; a informática avança em um ritmo que não conseguimos acompanhar, a internet liga pessoas de opiniões com centenas de quilômetros de distância através de fóruns, discussões e protestos em escala nacional e mundial.

Entretanto, para fazer a antítese à infinitude tecnológica, ainda persiste o discurso de que o mundo é como ele é, que não temos como mudar a natureza do homem, que sempre é competitiva voltada à posse. Que o progresso só é válido quanto é voltado à evolução econômica. Que realmente pode haver consciência ecológica empresarial e que, mesmo dentro do capitalismo, poderemos proteger a natureza e salvar-nos de uma hecatombe ambiental. É o contraste entre o "tudo podemos fazer tecnológico" e o "humanamente nada mais podemos fazer".

Mas esse início de século XXI tem mostrado o contrário disso. A primavera, que sempre chega após o inverno, chegou ao oriente médio. Hoje, centenas de jovens estão ocupando Wall Street, Washington D.C. e outros lugares do ninho podre do neoloberalismo exigindo mudanças políticas e econômicas, para que toda a produção e lucro não seja voltada apenas às megacorporações enquanto os cortes no social estão cada vez mais graves. Na Europa, jovens lutam contra as medidas de austeridade propostas por causa da crise do capitalismo, para que "governantes" - com vírgula mesmo - enriqueçam banqueiros e outros bilionários. Hoje, o povo se reune em 20.000 vozes contra a corrupção em um feriado em Brasília, outros tantos em outros estados há cerca de 30 dias. O povo chileno luta por uma educação pública e de qualidade depois de todo o processo de neoglobalização instalado desde Pinochet. Com o exemplo de Fukushima, os ambientalistas estão cada vez mais aferrados contra a energia nuclear, num cenário em que diversos países prometem a diminuição na produção deste tipo de energia.

Vivemos tempos difíceis, em que cada vez mais os direitos civís básicos estão sendo atacados no mundo inteiro e os governos cada vez mais nada fazem além de abrir as portas para a extorção realizada pelo corporativismo. Mas, meus amigos, como tantos socialistas e comunistas já falaram, o capitalismo não durará para sempre, como disse Mercedes Sosa, "Todo Cambia", e como todos nós sabemos, após o inverno, à exemplo do que acontece no Oriente Médio, sempre chega a primavera.

Valdemir de Souza Vicente
Estudante de Letras PUCRS
Trabalhador em Gravataí
Movimento Contestação

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