Os negócios da violência no México

Para Ana Esther Ceceña, os massacres que vêm ocorrendo no norte do país têm estreita ligação com o projeto militarista de sociedade implementado nos últimos anos
07/06/2011
Sílvia Alvarez
da Cidade do México
Em agosto do ano passado, 72 imigrantes vindos das Américas Central e do Sul tentavam cruzar o México para chegar ao país que se autodenomina “América”. O sonho de trabalhar nos Estados Unidos foi interrompido quando os jovens foram assassinados, no estado de Tamaulipas, perto da fronteira.

Nesse mesmo local, em 2011, foram encontradas fossas clandestinas que guardavam 183 cadáveres. Notícias sobre assassinatos, sequestros e torturas são cotidianas desde que o presidente Felipe Calderón declarou “guerra ao crime” e colocou o exército mexicano nas ruas.
Frente a esse projeto militarista de sociedade emergiu, nas últimas semanas, um movimento nacional que culminou na Marcha pela Paz, da qual participaram 20 mil zapatistas. O ato denunciou o assassinato de 40 mil pessoas e exigiu um outro projeto de segurança para o país, baseado no respeito aos direitos humanos.
Mas, quais são as reais raízes da violência no México? Fizemos essa pergunta à pesquisadora mexicana Ana Esther Ceceña, do Observatório Latino-Americano de Geopolítica, da Universidade Autônoma do México (Unam). A pergunta é simples, mas se desdobra em muitas reflexões: “De onde vem essa violência, eu não sei dizer ao certo, pois vem de muitos lugares. Precisaria fazer uma radiografia”, refletiu modestamente.
No entanto, ao longo da entrevista, a pesquisadora fez justamente essa radiografia, ou um início dela. “São muitos negócios que estão em jogo no México e todos implicam num enorme uso de violência”, apontou. Ao final da conversa, o que ficou claro é que em todos esses negócios estão envolvidos os Estados Unidos da América.
A pesquisadora explica que, após a crise do Partido Revolucionário Institucional (PRI), criado como desdobramento da Revolução Mexicana, de 1910, e a chegada do Partido de Ação Nacional (PAN) ao poder (em 2000), o México teve uma mudança de papel importante no continente americano. “Além da incorporação voluntária do neoliberalismo, há a aproximação física com os Estados Unidos. Nossa economia está imbricada com a deles, somos muito dependentes não apenas da dinâmica da economia estadunidense, mas também da política”. Para Ceceña, a política de reordenamento militar dos EUA para o seu território se estende até o México. E é na fronteira norte desse país onde começamos a radiografia:
A fronteira  com os EUA
“É uma fronteira muito vistoriada, mas eles seguem dizendo que é porosa. De algum modo é porosa, porque passam imigrantes, drogas. Mas eu creio que não passam sem serem reconhecidos. Ou seja, me parece que aí tem uma cumplicidade que não sei se só de máfias ou dos próprios governos locais. As passagens de imigrantes, armas e drogas são grandes negócios. Isso começou a ter quase um caráter estrutural, digamos. Essa droga que vem da América do sul, que tem que passar por aqui pra chegar aos EUA, pode chegar também por mar, mas chega mais por terra. Então, essa fronteira se torna chave para isso, mas também se torna chave para muitas outras coisas, por exemplo, para o mercado de trabalho irregular estadunidense.
Há dez anos, começaram a dizer que é um risco, o problema de segurança nacional número um para os EUA. Então, começaram com todas as ideias de construção do muro, de como controlar a fronteira, de que é preciso trabalhar com o corpo de segurança mexicano. Estabeleceram um acordo que é parecido com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), um acordo de 'segurança e prosperidade'  que, na verdade, é como um complemento do Nafta. Ou seja, a América do Norte passou a ser não só uma área econômica comum, mas também uma área de segurança comum, o que permite que os corpos de segurança dos EUA possam estar na fronteira sul com o México. E aí é onde começou a ideia de Plan México, que depois passou a se chamar Iniciativa Mérida.”
O negócio da droga
“O negócio da droga já estava no México desde antes. Não é verdade que começou recentemente. Ou seja, havia gente que cultivava maconha desde antes. Então, não é uma novidade. A novidade é como o mercado da droga começou a ser organizado, já de maneira mais estrutural, mais transnacional. Eu, evidentemente, penso que não podemos imaginar que são atores locais os que movem esse grande negócio, que é, além disso, planetário. Ou seja, não podemos pensar que um mexicano de uma comunidade aí perdida de repente decidiu que ia começar a vender a droga em grande escala: 'vou levar a maconha até os EUA para ver quem compra'. As coisas não ocorrem assim no capitalismo. Existem circuitos estabelecidos e são circuitos muito controlados. Estamos em um momento da história do capitalismo em que temos grandes monopólios, oligopólios. O funcionamento das economias não é, de nenhum modo, de livre mercado e de pequenos produtores. E não pode ser dessa maneira em nenhum tipo de negócio, muito menos no da droga, que é um grande negócio. No das armas, tampouco funciona assim. Como vamos pensar que isso é um negócio pequeno? Aí tem que estar grandes capitais. E os maiores capitais estão nos EUA.
Os grandes bancos onde o dinheiro do tráfico é lavado são estadunidenses. Também são de outros lugares, mas são dos grandes capitalistas, dos grandes banqueiros do mundo. O tráfico não é um negócio diferente, em muitos sentidos, dos outros negócios. É um economia ilegal, mas é uma economia que tem regras de jogo muito parecidas com a dos outros setores.”
A violência e o projeto militarista de sociedade
“O que faz a ilegalidade? Conecta-se com a violência. Justamente porque é ilegal, tem que se relacionar de outro modo com as instituições. Tem que se relacionar de outro modo com a população. A competição se dá em outro terreno. Então, parte disso é o que tem causado essa violência desatada. Não somente no México, mas em muitos lugares.

Eu creio que o continente, em seu conjunto, está muito mais violento do que antes. Mas essa violência vem servindo para desarticular os tecidos comunitários. Então, não deve ser uma violência tão espontânea. Ou seja, foi dirigida de algum modo. O caso da Colômbia é muito ilustrativo, temos que ver com uma lupa. O que se fez muito lá com os paramilitares é que eles se dedicavam a plantar o terror. Voltamos a essa ideia de comoção e pavor, que eu acredito que seja um critério básico que se repete em muitos níveis distintos. Plantar o terror é desestruturar a comunidade. Como as desestruturam? Bom, assassinam os homens e provocam um problema de sobrevivência da comunidade, não somente econômico, mas intergeracional; matam os jovens, lhes destroem o futuro, violam as mulheres etc. Ao mesmo tempo, paralisam as pessoas, porque elas ficam com medo, como não vão ter medo? São coisas horríveis que acontecem. Como não vai ter medo se decapitam teu vizinho na sua frente? Um vizinho que não tinha nada a ver com negócios ilegais? Ou seja, se mataram uma pessoa comum e você também é comum, então tem que ter medo.
Então, essa é a dinâmica que se estabelece com a violência.
No México, o que eu vejo é que isso  vem crescendo a partir de 1994. Nos primeiros anos do zapatismo, o gasto e a infraestrutura militar foram triplicados. Mas, sobretudo a partir dos anos 2000, isso vem ocorrendo de maneira  muito mais organizada. Depois de 1994, foi uma reação ao levante zapatista. Mas, agora, já é um projeto militarista da sociedade mexicana. Felipe Calderón triplicou o salário dos militares em quatro anos. É impressionante. Ele entrou e o primeiro que fez foi aumentar o salario dos militares. Porque, claro, entrou pelas mãos deles, senão não teria entrado. Por que Calderón ganhou? Quem colocou esse candidato tão débil? Como um candidato assim chegou a ganhar? Porque seus credores o colocaram para que ganhasse e lhes pagasse a dívida. A quem ele está pagando a dívida? Em grande medida, a essa política militarista.”
O exemplo da Cidade Juárez
“Cidade Juárez é uma cidade na fronteira com os EUA que é muito perto do lugar onde operava Pancho Villa [um dos comandantes da Revolução Mexicana de 1910]. Sempre foi um lugar muito importante na história do México. De lá, Pancho Villa invadiu os EUA. Mas, nessa cidade começaram a ocorrer sequestros de mulheres jovens. Pegam uma mulher e a torturam, violam, matam... e seu corpo aparece por lá. É uma cidade onde há muitas indústrias de maquila [indústria de confecção, famosa pela superexploração do trabalho], nas quais trabalham muitas mulheres, que são mulheres sozinhas, mães solteiras, estilo 'mulheres indefesas'. Começou com uma, depois com outra, depois outra... começou a ser algo reiterado. E até agora são casos que não foram nem investigados. Muitas organizações de direitos humanos dizem que há provas de que o exército está envolvido. A polícia não investiga nada nem nunca encontra um culpado.
É uma coisa muito grande e muito difícil de entender, mas que serve para o outro lado fazer declarações. Os Estados Unidos se sentem ameaçados por uma situação dessa em sua fronteira. Então, querem colocar um muro. Fazem declaração de que isso [a violência] é um risco para a segurança nacional e de que eles tem que tomar posição no assunto, porque o Estado mexicano não está podendo controlar essa cidade falida. Se é uma cidade falida, então você tem o direito de se defender dela, porque ela está te colocando em risco. Essa é a política que nos vem desde lá.
Essa situação de violência começou a ser estendida a diferentes cidades fronteiriças. Em Tamaulipas, mataram o chefe da polícia. Nomearam outro e em duas horas o mataram. Nomearam outro e ocorreu o mesmo. Ninguém mais quer ser chefe da polícia. Então, o que acontece? Cidade falida outra vez. E começaram a ter muitas cidades falidas por aí. Os EUA passaram a insistir muito em que a Justiça mexicana é questionável e a dizer que aqui não podemos julgar aos delinquentes vinculados ao narcotráfico, e que, então, temos que entregá-los à Justiça estadunidense. Foi muito grave quando entregaram o primeiro porque, independentemente de quem tenha sido o fulano, que não era nem tão importante, abriu-se um precedente de perda de soberania judicial neste país.
Houve alguns outros incidentes. Mataram um estadunidense em Cidade Juárez. Uh! Isso foi o escândalo total. Porque aí, sim, os EUA – depois que já mataram tantos mexicanos – podem intervir aqui.
Ou seja, ocorrem essas coisas que uns teóricos da conspiração diriam: 'foram fabricadas para permitir a intervenção e para ir fazendo as bases dessa intervenção'. Há pouco tempo, teve outra morte de um estadunidense em Cidade Juárez. Então, a força de segurança dos EUA entrou e decidiu fechar uma rodovia para investigar. Uma rodovia mexicana. Fechada por autoridades estadunidenses.”
O negócio da guerra
“O tipo de violência no México mudou a partir de 2006, quando começou a famosa guerra contra o narcotráfico. E essa guerra tem sido muito produtiva em termos dos negócios, que são justamente os ilegais: das armas, da droga, das máfias. Ou seja, ser máfia é um negocio. Não somente os produtos são vendidos, mas também os serviços. Que podem ser serviços de software, de organização administrativa, mas podem ser também serviços de matadores de aluguel, mercenários.

Uma das empresas mais ricas nos Estados Unidos, que é a Blackwater, por exemplo, produz tropas de elite e capacita o exército dos EUA, ou seja, está acima do exército, capacitando-o. É algo muito particular. A guerra hoje é muito privatizada e, às vezes, esquecemos disso. Então, um banqueiro que tem muito dinheiro e tem medo de ser sequestrado contrata um serviço de proteção privado. O problema é que esses serviços são armados. Podem matar. Isso, em princípio, rompe com o monopólio da violência que o Estado tem que ter e não tem nada a ver com o Estado de direito. Existem atores soltos que, além disso, por segurança, são relativamente encobertos. Porque você não pode anunciar: “eu sou Juan Pérez, matador de aluguel, contrate-me, meu telefone é este”. Não! Ou seja, é uma companhia que não revela seus dados, porque são 'confidenciais'.”
O negócio da imigração
“Como fazem pra convencer um imigrante a pagar um 'pedágio'? Imagine, um imigrante é um trabalhador muito pobre que sai de seu país porque não lhe resta opção e que consegue, como quer que seja, um pouquinho de dinheiro pra pagar todos esses pedágios que lhe vão cobrando até chegar onde tem que ir trabalhar, que é o sul dos EUA, geralmente. Imagine o que é o esforço da família para mandar esse jovem, que às vezes é o filho mais velho, ou seja, um jovem no qual a família deposita toda a esperança e que desde que sai de seu lugar é maltratado: por gangues, matadores de aluguel, policiais de imigração de diferentes lugares, todo mundo o maltrata.
Como o maltratam? Por exemplo, há um grupo de 30 imigrantes que vem num mesmo meio de transporte da América Central aos EUA. Então, pegam um deles, torturam-no diante dos demais, ou o matam, ou o mutilam, qualquer coisa dessas, para que os demais se convençam de que é melhor lhes dar o dinheiro. Ou seja, é uma violência vinculada a negócios ilícitos diversos, mas que nos está dizendo que não pode ocorrer se não há uma colaboração de autoridades, em nenhum desses lugares, incluindo EUA. Há uma colaboração de autoridades, há um problema de institucionalidades, um problema de Estado de direito.
Na última fossa que encontraram, os quatro últimos cadáveres eram de pessoas que estavam custodiando as fossas e morreram defendendo-as. Ou seja, são quatro mortos mais, mas que não pertenciam à fossa. Quem são? Quem cuida dessas fossas? Uma coisa que é forte também nessa história da implantação da violência é que, igual ao que acontece na Colômbia, os cadáveres muitas vezes não são escondidos; ao contrário, são expostos. Na Colômbia, uma das coisas que mais me impressionou é que pegavam jovens de uma comunidade, o decapitavam, e, no dia seguinte, apareciam estacas com suas cabeças na mesma comunidade. Imagina o que isso significa? Bom, aqui começaram a fazer coisas desse tipo. Os sequestradores te mandam um dedo, uma orelha, expõem cabeças, mas, sobretudo, te mandam os mortos. 'Teu morto, aí está'. Isso já é outra coisa, me parece que não é uma violência comum, e sim uma violência pensada, com propósitos explícitos: querem atemorizar, paralisar.”
Quem lucra com a imigração
“A migração responde, muito elementarmente, a duas coisas: necessidade de trabalhadores baratos de um lado e uma carência de condição de reprodução do outro lado. Isso no México e nos Estados Unidos é velho, mas tem crescido muito. O México começou a perder autossuficiência. Sempre foi um país autossuficiente, ou seja, tínhamos um campo muito rico, fértil. Alimentos em abundância. Com a Revolução Verde e com muitas outras coisas, como a industrialização, isso começou a mudar. Essa realidade acentuou a dinâmica econômica que havia entre essas duas economias. A partir de certo momento, também começou a existir uma indústria da migração. A rota dos migrantes é um negócio, como já falamos.
Além disso, há o Western Union [banco que faz transferência de dinheiro entre países] e as remessas, que são ao mesmo tempo um negócio e um elemento de interesse nacional. No México, em certos anos, o valor recebido em remessas é maior do que o de petróleo vendido ao exterior. E somos um país exportador de petróleo. Nos países centro-americanos, nem se fala, as remessas são um pilar das economias. E, claro, com essas remessas, tem todas as comissões aos bancos, que é um negócio derivado disso.
Há também a mudança do padrão de vida. Na fronteira dos EUA, em época de Natal ou Dia das Mães, ou as pessoas vêm carregadas de presentes ou, então, os mandam. Aqui tem uma loja, que se chama Elektra, que faz esses envios de dinheiro, mas também vende eletrodomésticos. Então, a família do migrante vai lá buscar a remessa e ali mesmo tem as ofertas de tudo o que supostamente necessita para a sua casa.”
“Nem tudo tem cor verde-oliva”
“Efetivamente há uma visão militar e militarista do processo em seu conjunto. Hoje, a reprodução do planeta está pensada militarmente. Mas, isso não quer dizer que tudo tenha cor verde-oliva e que tudo seja base militar. Há modos de pensar a partir desse projeto militarista, de pensar a estratégia de disciplinamento social que tem que ver  com políticas culturais e não com bases militares. E isso é algo que, de repente, não se percebe bem. 
Eu penso que temos que fazer uma ampla reflexão sobre o que é o âmbito de ação dessa estratégia militarista em todos os espaços da vida social. E em cada um deles, ir identificando os mecanismos que efetivamente tem a ver com essa estratégia. Não militarizam a universidade quando se muda os planos de estudo. A militarizam quando os militares a ocupam. Mas a mudança dos planos de estudo é parte de uma estratégia pensada sob a perspectiva militar.  
Na maioria dos lugares, o que  ocorre é que não são os militares, mas sim a polícia, que vai fazer a repressão, o disciplinamento. Ou são forças privadas, às vezes, esses corpos de segurança contratados. O disciplinamento é feito também através dos códigos penais. Então, quem são aí os atores? Os deputados. Ou seja, não é um ator militar, mas sim um político, de representação social. Então, é muito importante nos darmos conta de que talvez seja mais perigoso, por exemplo, o trabalho que a Usaid [Agência Estadunidense para o Desenvolvimento Internacional] faz com comunidades indígenas de transformação de mentalidades, porque é isso o que trabalham muitas vezes.
Aqui havia uma instituição que se chamava Instituto Linguístico de Verão. Trabalhava com a CIA e esteve muito tempo na zona de Chiapas e Oaxaca. Trabalhava com os indígenas e era curioso, pois havia muitas regiões onde os indígenas falavam algumas das diferentes vertentes dos idiomas maia e inglês. Não falavam espanhol, por exemplo. Ou seja, esse tipo de trabalho é mais perigoso, pelo que implica em termos de construção de mentalidade, do que a instalação de uma base militar diretamente.
A base militar tem seus efeitos, é também algo sobre a qual temos que colocar muita atenção, mas não é o mais perigoso. O mais perigoso é que essa base militar é um ponto fixo para articular muitas outras coisas. Às vezes, a base militar pode afetar menos uma zona próxima e afetar mais uma mais longe, porque pode ser uma base pensada em termos de estratégia mais ampla. É preciso analisar todas as peças desse mecanismo de dominação. Nem tudo é militar.”


Investigadora do Instituto de Investigações Econômicas da Universidade Autônoma do México (Unam), a mexicana Ana Esther Ceceña é membro do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), coordenadora do Observatório Latino-americano de Geopolítica e integrante da Campanha pela Desmilitarização das Américas (Cada)

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