UFRJ - A eleição que vai mudar a universidade de R$ 1 bi

POR MARIA LUISA BARROS
Rio - Economista, químico, engenheiro e escritor disputarão, de amanhã até quarta-feira, os votos de 68 mil alunos, professores e técnicos que vão às urnas escolher o novo reitor que comandará as mudanças na UFRJ até 2015 e orçamento que este ano é de R$ 1,724 bilhão.

O DIA, os candidatos Alcino Câmara Ferreira Neto, Ângelo da Cunha Pinto, Carlos Antônio Levi da Conceição e Godofredo de Oliveira Neto expuseram propostas e discutiram temas polêmicos como as cotas nos cursos de graduação, adesão ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), transferência de cursos para o Fundão e recuperação de prédios históricos, como o Palácio Universitário incendiado mês passado.


ODIA: O Plano Diretor da UFRJ prevê a mudança de todos os cursos para o Fundão. O senhor é a favor?


Angelo: Não, agora. Primeiro é preciso melhorar a infraestrutura dos prédios da Cidade Universitária e consolidar o campus de Macaé, para pensar na transferência das unidades isoladas para o Fundão. Se alguma quiser ir para lá, será recebida de braços abertos.

Carlos Levi: A concentração das atividades acadêmicas na Cidade Universitária permite que se explorem ganhos para a formação dos alunos por conta da proximidade com diferentes áreas do conhecimento, além de maior racionalidade de recursos compartilhados. Pelo Conselho Universitário, ficará a critério dos conselhos das unidades de fora do Fundão a decisão de quando e em que condições se daria a mudança. 

Alcino: Sou a favor de que haja todo espectro de cursos no Fundão no longo prazo. Não significa que não haverá cursos em outros espaços, como o Centro do Rio e a Praia Vermelha. Nem significa que todos irão para o Fundão nesta década. Há problemas de transporte e dotação de infra-estrutura que têm de ser resolvidos antes. Ademais, há problemas de concepção de curso. É impensável que Astronomia se desloque de onde se encontra. 

Godofredo: A decisão deve ser das unidades e centros. Não pode ser tomada pela reitoria. Não há condições no Fundão para receber todos os cursos. Uma medida como essa implicaria colapso da Ilha, já saturada nas vias de circulação e acesso. Devemos propor revitalização dos campi da Praia Vermelha, Macaé, Xerém e unidades como Faculdade de Direito, o Observatório do Valongo, IFCS e unidades hospitalares.

Qual sua posição sobre cotas e Enem como alternativa ao vestibular?

Angelo: O Conselho Universitário acertou ao reservar 20% das vagas para a rede pública e Faetec, deixando de fora colégios federais, universitários, militares e de aplicação, e não levando em conta critérios etnorraciais. O Enem é um avanço para democratizar o acesso ao Ensino Superior. Se aperfeiçoado, estimulará reestruturação do Ensino Médio. 

Carlos Levi: O acesso às vagas das universidades federais pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) com base no desempenho no Enem, embora ainda não seja o ideal, tem forte caráter democratizante e estimula a mobilidade nacional de estudantes. A grande batalha deve ser pela ampliação das vagas nas universidades públicas para aumentar as chances de contingente de jovens sem acesso à universidade.

Alcino: Sou a favor de cotas sociais e de exame de seleção sequencial ao longo do segundo grau (Ensino Médio). Acho que o Enem toca num ponto importante que é adicionar novos elementos à avaliação do estudante, mas ainda apresenta problemas sérios inclusive de segurança.

Godofredo: Somos favoráveis às cotas sociais. A participação em um exame nacional, ou mesmo regional, é importante e uma meta a ser atingida. A meta é adotar no futuro uma prova mais abrangente territorialmente para o nosso ingresso, com participação ativa da UFRJ, e que incorpore questões discursivas como previsto pelo MEC. 

Que avaliação o senhor faz do Reuni, o programa de expansão das universidades federais?

Angelo: O Reuni foi um dos melhores programas do MEC. Permitiu a interiorização das universidades federais e levou à expansão de vagas, principalmente nos cursos noturnos de Licenciatura. Deve-se lutar para que não termine neste ano.
 
Carlos Levi: O Reuni reorientou a política de ampliação do Sistema de Ensino Superior, resgatando o protagonismo das universidades federais na expansão de vagas com garantia de qualidade, nos cursos de graduação.

Alcino: Ajudou a mitigar mas não resolveu o problema de vagas nem de infraestrutura na UFRJ. Em outras universidades, parece que a expansão da infraestrutura conseguiu atender a expansão. Na UFRJ não foi assim.

Godofredo: A UFRJ recebeu recursos federais, a maior quantidade de sua história, para construir prédios, laboratórios, abrir vagas de professores e técnicos para novos cursos e otimizar os existentes. Apesar disso, não produziu os resultados esperados, particularmente em relação à infraestrutura. 

Quais serão suas primeiras ações como reitor?

Angelo: Aprovar junto ao Conselho Universitário que todos passem a publicar em seus sites relatórios anuais das atividades acadêmicas e de pesquisas, e a aplicação dos recursos. Reimplantar a avaliação do corpo docente e das unidades. Tomar medidas para qualificar profissional técnico-administrativo.

Carlos Levi: Rever os atuais processos de gestão acadêmica e administrativa para aproximá-los das necessidades da universidade. Implantar superintendências de Políticas Estudantis e de Interiorização, vinculadas ao gabinete do reitor, responsáveis pelas ações de apoio à permanência dos estudantes, e de consolidação dos campi em Macaé e Xerém.

Alcino: Conversar com a bancada federal do estado para regulamentar a autonomia universitária. Chamar empresas presentes no campus para estabelecer política de convivência. Empreender uma cruzada em favor da qualidade nos ensinos Médio e Fundamental. Decidir o destino do espaço ocupado pelo Canecão e definir o cronograma e regras da Estatuinte Universitária.

Godofredo: Construção de creches nos campi e prédio, o ‘CCS 2’. O Complexo Hospitalar precisa ser redimensionado. Buscar recursos para construção de hospital. A integração dos currículos deve ser incentivada. Implementar Gestão Planejada de Meio Ambiente e de Sustentabilidade. Incentivar a descentralização com autonomia orçamentária às pró-reitorias.

Como recuperar os prédios tombados?

Angelo: Buscar recursos com empresas para recuperação do Palácio Universitário. Cabe ao reitor atual avaliar a situação dos prédios, para que tragédias não se repitam.

Carlos Levi: O Palácio Universitário vinha sendo recuperado. Temos que reconstruir a capela. Em condições graves estão o Hospital Escola São Francisco de Assis, cujas obras, com apoio do BNDES, iniciam em breve, e o imóvel na Pr. da República 22, cedida ao Iphan, que vai recuperá-lo.

Alcino: Fazer cruzada de apoio na sociedade, ter bons projetos de restauração e pedir recursos. Fazer levantamento da infraestrutura física para ver onde há ameaças de incêndio, desabamento e chamar o governo federal para assumir responsabilidades.

Godofredo: Recuperar o Palácio, com representantes da comunidade universitária, o Escritório Técnico da Universidade (ETU) e o Iphan. Prédios da universidade agonizam pela ausência do ETU, que sofreu desmonte. Será revitalizado.

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