Teoria da Conspiração, Redes Sociais e o futuro de estruturas offline



Passou despercebida a notícia do londrino THE GUARDIAN (17/março/2011) – “Revealed: US spy operation that manipulates social media” - sobre o serviço de inteligência americano e as redes sociais FACEBOOK e TWITTER . Vale a leitura.
A matéria relata que o exército americano estuda secretamente formas de manipular as redes sociais.
As implicações desta informação são muitas. As redes sociais são territórios livres? É possível haver manipulação? Os usuários ingenuamente aceitariam esse controle indireto?
Pode parecer mais uma paranóia da teoria das conspirações. Tantas outras já foram levantadas no passado. A mais emblemática era o debate sobre efeito subliminar nas propagandas de televisão – isto foi debatido à exaustão nas décadas de 70 e 80 nas escolas de comunicação social. Agora o “efeito subliminar” é outro: como controlar a opinião pública via redes sociais.
É importante entender como é feito o processo. Apesar da produção de conteúdo ser descentralizada, a gestão operacional das redes sociais está nos EUA. Uma empresa de engenharia de software poderia realizar inserções nas redes sociais com propaganda pró-americana. Parece uma tentativa primária demais, mas não pode ser subavaliada.
Segundo o Guardian, o serviço a ser fornecido por esta empresa americana é descrito como um gerenciamento online de perfis (falsos, obviamente) com até 10 identidades. Não está claro como essas identidades falsas iriam conseguir seguidores que confiem nessa fonte.
Há outro risco, a figura do discurso coletivo. Uma empresa com conhecimento de usos das redes sociais poderia gerenciar discussões que levem a um consenso sobre opiniões e até sobre fatos políticos. Quem trabalha com o assunto na prática, sabe que essa manipulação não tem uma fórmula trivial. É muito difícil manipular as opiniões nas redes. Motivo pelo qual várias corporações líderes no mercado de consumo têm feito incursões tímidas nesses novos territórios.

Manipulação de opiniões nas redes sociais

Obviamente não é tão simples como parece. Quem frequenta a rede verifica que há pouco consenso e muita anarquia. Seria ingenuidade acreditar que é possível criar consenso, sem a presença do contraditório em processos em rede.
Quem mantém um Blog, por exemplo, percebe que os próprios comentaristas se digladiam ao redor de temas simples (onde aparentemente havia consenso).
Por outro lado também não se pode ignorar um fato: o sistema de redes sociais tem sua base operacional nos EUA. Em caso de um evento extremo, qual a garantia que a manipulação mais simples não será realizada: a retirada do ar das redes sociais.
A simples retirada do poder de acesso aos milhões de usuários já é um tipo de manipulação. Mais um motivo para haver um equilíbrio entre as mídias on e offline.
Essas incertezas em relação à manipulação das redes sociais mostram o quanto é importante manter as estruturas offline profissionalizadas.

*Ramiro Gonçalez é Professor de Inteligência de Mercado e Mídias da FIA e Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Autor do livro: “Que Crise é Essa?” . Também edita o blog ‘Que Mídia É Essa?’.

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