O massacre em Realengo e os primeiros movimentos da mídia




*Texto publicado às 13h (7/4).

Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos chamado entra em uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, mata 11 crianças, fere muitas outras. Um policial militar entra na escola e acerta um tiro na perna do rapaz, que se mata com um tiro na cabeça. No momento em que este post é escrito, as informações complementares ainda são desencontradas. Mas o início da cobertura jornalística já mostrou muito do que serão os próximos dias.
As primeiras informações falavam em 13 mortos e 22 feridos. No meio da manhã já era feita a correção: 11 mortos (incluindo Wellington) e 17 feridos. Mesmo assim, os portais da Globo (G1), da Record (R7), da Band (E-band), da Folha de S. Paulo e do Estadão continuaram por muito tempo com as informações antigas. Não priorizaram a internet, claramente, deixando a velocidade de seus portais abandonada. E não em favor da qualidade da informação, pelo contrário: números continuaram errados.
*Após o meio-dia números foram atualizados para 11 crianças mortas, além do atirador.
Na televisão, pudemos assistir cenas non sense de mau jornalismo na manhã e no início da tarde desta quinta-feira. Em primeiro lugar, na TV aberta só a Globo seguiu acompanhando ao vivo os desdobramentos do fato. Record e Band seguiam normalmente com suas programações, entrando apenas com flashes. Porém, a própria Globo pouco mais fez do que enrolar para segurar audiência. Jornalismo ao vivo é diferente de enrolação. Não usou o tempo de cobertura para aprofundar os debates necessários em um momento assim.
Na TV a cabo, destaque para a Globo News, que passou cada minuto reforçando preconceitos ao buscar relacionar o ataque a um possível HIV do assassino e a uma possível religião muçulmana. Foi feito de tudo para relacionar a comunidade muçulmana na fronteira brasileira com o massacre. Roupas que teriam sido usadas pelo atirador, carta deixada por ele (e não divulgada aos telespectadores) e entrevista desconexa de sua irmã adotiva foram usadas como argumento para questionar a forma como Wellington conseguiu as armas, dando a entender a todo instante que seriam fornecidas pelos muçulmanos. O islã foi retratado como “elemento ideológico que professa o massacre de infiéis”.
Em casos de violência extrema, a mídia brasileira costuma clamar por mais repressão policial. Já que não pode pedir mais policiamento dentro das escolas (com exceção de detectores de metais e policiamento nos acessos, já pedidos pela Globo), a mídia desfere ataques contra muçulmanos. E deverá seguir assim.
Minha previsão é que os próximos passos serão no sentido de reforço desesperado desses preconceitos e de aprofundamento do preconceito, do conservadorismo moral e do fundamentalismo religioso anti-islâmico. Além disso, perfis e mais perfis aparecerão: quem foram as vítimas, quem foram os heróis, quem foi o criminoso. A novelização da tragédia, com personagens rasos, retos, sem a profundidade e a complexidade que caracteriza as pessoas reais.
Além disso, os debates fundamentais não serão feitos: de que forma a lógica da Educação brasileira estimula e dá base para que situações assim ocorram? Como se dá e como se pode evitar a violência nas escolas? De que forma a valorização dos professores a o aperfeiçoamento das escolas podem modificar essa lógica? Sim, porque esse não é um caso isolado, é apenas o mais chocante das diárias manifestações nas escolas da violência social como um todo. Mais: por que tantas armas nas mãos das pessoas? Por que fábricas de armas patrocinam campanhas eleitorais? De que forma a própria mídia estimula a resolução violenta e individual dos conflitos sociais?
Postado por Alexandre Haubrich


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