Não há limites para a violência contra a mulher

Número e a gravidade dos casos indicam que há um longo caminho a percorrer em se tratando de transformação cultural

No início da semana retrasada, duas irmãs, de 16 e 15 anos, foram assassinadas em Cunha, no interior de São Paulo. Segundo a apuração da polícia até o momento, a motivação do crime seria ciúmes. O suspeito, conhecido da família das vítimas, teria “matado por amor”. Apaixonado por uma das irmãs, ele se viu obrigado a assassiná-la para assegurar sua atual companheira de que a relação dos dois não estava em risco.

Na semana anterior, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o último recurso apresentado pela defesa do jornalista Pimenta Neves, condenado em 2006 a 19 anos de prisão pelo assassinato de Sandra Gomide. O crime aconteceu há mais de uma década, em circunstâncias onde o “passional” também foi um elemento. Pimenta Neves e Sandra haviam rompido um namoro de 4 anos.
Nos dez anos entre um crime e outro, muita coisa mudou: o País tem hoje uma legislação específica para tratar de violência contra mulher, delegacias especializadas e uma mobilização intensa da sociedades civil organizada em torno do tema.

No entanto, as similaridades entre os dois casos e estatísticas País afora deixam claro como as mulheres ainda são extremamente vulneráveis, sujeitas a altas doses de violência, num contexto de aparente pouca transformação concreta.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, em 2011, a cada 46minutos uma mulher é vitima de violência doméstica no Estado. No Rio de Janeiro, o Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgou dados que registram 4.589 estupros ao longo de 2010. Em média, 12 ocorrências por dia.

As informações da pesquisa realizada em todo território nacional pelo DataSenado, também sobre violência doméstica, reiteram elementos presentes nos dois casos mencionados. De acordo com as entrevistadas, em 66% das ocasiões as agressões foram perpetradas pelos seus maridos ou companheiros. Embriaguês e ciúmes aparecem como os motivos mais citados entre as mulheres vítimas de algum tipo de violência.

A Lei Maria da Penha é uma grande conquista no campo da garantia de direitos e proteção das mulheres. Mas mesmo diante de uma lei que é dura e vem sendo aplicada com contundência, o número e a gravidade dos casos indicam que há um longo caminho a percorrer em se tratando de transformação cultural. Não seria exagero dizer que hoje, infelizmente, ainda toleramos a violência contra a mulher.

Fonte: Portal IG

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