Marcelo Freixo: “É muito importante quando o crime é cortado dentro do estado”

Entrevista concedida em 23 de fevereiro de 2011, para a matéria da nona edição da Revista Vírus Planetário, “Operação do milhão”, sobre a violência e segurança pública do Rio de Janeiro, abordando a operação policial no Complexo do Alemão, Complexo da Penha e Vila Cruzeiro e a operação Guilhotina.
foto por Caio Amorim
Marcelo Freixo é professor de história, militante por Direitos Humanos há 20 anos e deputado estadual pelo PSOL no Rio de Janeiro desde 2007. Depois de instalar e presidir a CPI das Milícias que indiciou 225 envolvidos e apresentou 58 medidas concretas para combater a máfia miliciana, Freixo teve seu pedido de abertura da CPI das Armas aceito um dia antes da abertura da Operação Guilhotina. Nessa entrevista, o deputado conta quais os objetivos da CPI e faz uma avaliação da segurança pública no estado do Rio.
Por Mariana Gomes
Vírus Planetário: Qual é o objetivo da CPI das armas?
Marcelo Freixo: O objetivo da CPI das armas não é atingir a milícia especificamente, é investigar o
tráfico de armas, munições e explosivos no Rio de Janeiro. Até que ponto existe a possibilidade
de fragilidade nas nossas fronteiras, como os organismos deveriam agir articulados, se agem
ou se não agem. É pegar, por exemplo, esse armamento que foi apreendido no Complexo do
Alemão e fazer uma grande investigação pra saber de onde ele veio, e em qual momento ele
deixou de ser legal e se tornou ilegal.

Essa operação guilhotina agora que tem vários policiais envolvidos com o tráfico de armas,
essas pessoas vão ser investigadas pela CPI inevitavelmente, que já foi aprovada e está só
esperando sua composição pra instalação. Eu acho que a CPI vai contribuir muito para o Rio
de Janeiro, porque o grande problema da segurança pública é a arma, o armamento específico
daqui do Rio. O Rio não é o estado com maior número de homicídio, com maior número de
tráfico, o maior número de roubo. O que modifica a segurança pública do Rio de Janeiro, que é
a pior, é o tipo de armamento. Então, uma CPI pra investigar o que tem de específico no Rio de
Janeiro em relação a isso é fundamental, é uma contribuição do parlamento para a segurança
pública.

Vírus Planetário: Qual você acha que foi o objetivo principal da operação guilhotina? Você acha que teve
alguma coisa por trás?

Marcelo Freixo: Não, a operação guilhotina foi ótima, não tenho nada contra, acha que ela tem que
continuar e terminar, inclusive, pois ela não está concluída. Acho que ela pode ir além do
que foi, tem outros braços sendo investigados, é muito importante quando o crime é cortado
dentro do estado. Uma operação que leva a indiciamento o chefe da Polícia (Allan Turnowsky)é
uma operação importante, não dá pra imagina que não seja. Se descobre que o braço direito é
envolvido com o tráfico. Infelizmente, precisou ser feito pela Polícia Federal, porque os nossos
órgãos de corregedoria não têm a independência que deveriam ter, então, precisa-se de uma
outra polícia para apurar as irregularidades da polícia no Rio de Janeiro. Mas, enfim, pelo
menos foi feito e eu acho que foi bem feito e ainda precisa ser completado, ainda tem muita
coisa pra ser concluído nessa operação.

Vírus Planetário: O que deve se esperar da Martha Rocha?
Marcelo Freixo: A Martha é uma pessoa que tem um histórico muito positivo dentro da Polícia,
não tem nenhum problema, é uma pessoa conhecida de muito tempo, que sempre teve
uma concepção de segurança bastante avançada e no seu discurso de início, ela afirmou a
importância de fortalecimento das corregedorias, ela está certa nesse princípio. Agora, não
são pessoas isoladas que vão resolver esses problemas. É claro que quando você coloca uma
pessoa incompetente ou com algum tipo de envolvimento, o problema piora. Mas uma boa
pessoa não vai resolver sozinha, você precisa, evidentemente, ter políticas públicas. Você
precisa de uma corregedoria independente, de investimento em uma corregedoria, de um
salário melhor para a policia, de uma outra formação para esse policial.

Há uma série de medidas que estão para além das pessoas escolhidas, que precisam ser tomadas, senão essas
pessoas não têm como agir. As boas pessoas precisam ser acompanhadas de boas políticas. Se
isso não for feito, o Rio de Janeiro vai continuar com uma situação muito precária na área de
segurança.

Vírus Planetário: Qual a relação que se faz entre a operação policial de novembro/dezembro 2010 no
Conjunto de favelas do Alemão e Vila Cruzeiro e a operação guilhotina?

Marcelo Freixo: Nós tivemos a operação guilhotina; se certas mudanças não forem feitas, nós vamos
ter operação canivete, operação alicate, vai continuar tendo operação, porque vão ser
necessárias, uma vez que a estrutura vai estar comprometida. Nós temos que ter uma reforma
da polícia muito profunda. Se isso não for feito, novas operações virão, novos escândalos,
velhos personagens.

Vírus Planetário: Você acha que da mesma forma que o Lula argumentou que não sabia do mensalão, o
Cabral, o Paes e o Bethlem que a gente sabe que podem ter algum envolvimento com os alvos
das investigações da operação guilhotina e dizem não saber. Qual é a sua opinião sobre isso?

Marcelo Freixo: Os cargos da segurança pública são cargos políticos, então foi de responsabilidade
política a escolha. É claro que você desconhecer determinadas coisas, mas no Rio de Janeiro,
na segurança pública, todo mundo se conhece, todo mundo sabe quem é quem. É difícil
alguém ser surpreendido com alguma coisa, a gente sabe quem é quem há muito tempo.

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