Identidade Latino-Americana

Desde que aprendemos a ler, nos é apresentada uma cultura mastigada como única verdade universal. A América Latina é um continente colonizado. Um novo tipo de colonialismo, que dispensa exércitos e ocupações, armas e bombas. Somos uma colônia econômica, política e cultural dos países imperialistas da Europa e América do Norte. Como um brinquedo que fica velho, vamos passando de mão em mão.

O neocolonialismo faz com que nosso inimigo tenha nossa cara, nosso idioma, nossa cor de pele, nossa religião… Um inimigo sem exército é quase impossível de ser identificado… Não há política neocolonial se não existem fatores internos que a permitam existir.
Para vencer, o colonialismo precisa convencer o povo oprimido de sua inferioridade. Nosso opressor nos ensina que, para ser civilizados, de fato, temos de falar seu idioma, absorver sua cultura e história, agir como ele. Repetem a mesma estratégia usada para dominar nossos antepassados indígenas, impondo seus métodos de produção, seu idioma, sua religião, seu meio de vida e a sua noção de civilização.
As camadas médias da população são o principal receptáculo dessa ideologia. A universidade (até pouco tempo de acesso exclusivo da burguesia) é o mais profundo instrumento dessa dominação e são destinadas a formar consciências adaptadas ao sistema. Sob a farsa da liberdade catedrática estão escondidos as ideologias que legalizam a entrega: a monocultura, o desenvolvimentismo, a tecnocracia, o câmbio-livre, liberalismo. Foi assim que se formaram nossas elites intelectuais, sem qualquer relação com a maioria do povo ou com os interesses da sociedade. Uma elite híbrida, sem personalidade sempre disfarçada  de apolítica e sob a objetividade, a indiferença e a inteligência.
O analfabetismo e o colonialismo pedagógico é uma violência contra os povos. Uma violência cujo maior objetivo é fazer com que dominados não tomem consciência dela. Os meios de comunicação de massa substituem as armas bélicas são mais eficazes do que o napalm. A televisão, o rádio, o cinema, os jornais, revistas, são instrumentos para despolitizar o povo, vender o ceticismo, o escapismo. A serviço das corporações (90% dos meios de comunicação da América Latina são de propriedade de empresários [fonte: Documentário Ao Sul da Fronteira]), desenvolve um complexo de inferioridade sobre tudo que é nativo. Após a fase da dominação econômica e política, estes instrumentos representam o golpe final sobre a nossa cultura. Obviamente, não é nada contra nosso meio de vida, nada contra nossa soberania e nossa cultura nativa. It’s just business, beibi. It’s all business.
Somos uma pátria dividida para garantir dos interesses das corporações estrangeiras. Temos a mesma história de exploração e opressão e ainda assim nos viramos uns contra os outros, exatamente como nossos colonizadores desejam. As intrigas entre os países da América Latina criam rachaduras na muralha de nossa resistência, permitindo a infiltração da ideologia inimiga, que só deseja extender seu domínio por mais 100 anos, em um ciclo infinito.  A cada dólar investido na América Latina, os países colonizadores levam quatro. E é por isso que qualquer país que ouse desafiar o poderio norte-americano se torna inimigo. Qualquer que desagrade a s políticas neoliberais, quaçquer um que desafia a lógica do capitalismo se torna um inimigo. Mas inimigo de quem, cara-pálida?
Os Estados Unidos invadem países, torturam presos, proibem Cuba de fazer negócios. Países da Europa saquearam a áfrica e são responsáveis por grande parte dos problemas enfrentados por aquele continente. Os Espanhóis e Portugueses dizimaram nossos índios e deturparam nossa cultura. Ainda assim, nossos maiores inimigos são Hugo Chávez, Evo Morales, Cristina Kishner, Fernando Lugo, Rafael Correa e Fidel Castro? Até quando vamos engolir essas mentiras que só servem pra nos ludibriar?
Sentimos vergonha da nossa condição de subdesenvolvidos mas nos orgulhamos de quem nos condenou ao subdesenvolvimento. Ao invés de lutar para mudar nosa condição, escolhemos lutar para parecer cada vez mais com os responsáveis por ela.
Porque, mesmo diante de todos esses FATOS, insistimos em assimilar e disseminar uma cultura que nos foi enfiada CU acima?
Como é possível que um japonês tenha sido presidfente do Peru? Ou como conceber que  indígenas vivessem às margens do sistema, ainda que representassem 80% da população Boliviana? Compare a aparência dos opressores e dos oprimidos. Com quem nos parecemos mais? Ainda assim, nos orgulhamos de nossos traços  franceses, italianos e ingleses. Que putaria é essa? Versão tropical e em massa da Síndrome de Estocolmo?
Óbviamente não é fácil superar mais de 500 anos de descontrução de identidade latino-americana, mas assim como todas as desconstruções sociais, não é impossível. Não é o sangue europeu que corre em minhas veias. Sinto-me 100% latino americano. A única relação da história dos países dominantes com a nossa é o fato de eles terem enriquecido as custas da escravização de nossa gente. É preciso ser muito burro alienado pra não entender que, do Rio Grande ao Estreito de Magalhães, somos um só continente, um só povo. Nossa história é a mesma. Nosso destino é um só. A luta do povo Latino Americano é a luta pela recuperação de sua dignidade humana, que sempre  foi negada por nossos colonizadores. Essa é a nossa guerra. O bailan todos o no baila nadie.
Soy loco por ti América.
PS: Texto baseado no documentário La Hora de Los Hornos. Download aqui (necessário fazer cadastro no portal)

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