Para além de Copenhague: justiça climática


Deu nos jornais: ``Bangladesh lidera o Índice de Risco Global do Clima e nenhum país desenvolvido está na lista dos países mais afetadas por eventos climáticos extremos``. Continua a nota do último dia 8/12: ``600 mil pessoas morreram em consequência direta de mais de 11 mil eventos climáticos extremos entre 1990-2008, mostra o Índice de Risco Global do Clima - 2010``.

O relatório do clima desenvolvido pela organização Germanwatch foi liberado na terça-feira (8), durante a conferência da ONU sobre mudanças climáticas em Copenhague, na Dinamarca.

Essa notícia demonstra claramente que os efeitos do aquecimento global não são tão ``democráticos`` assim. São os países, regiões e populações mais pobres que vêm sendo mais atingidos pelas mudanças climáticas; apesar de serem os que menos emitem CO2 (afinal, mesmo na imagem de que estamos todos no mesmo barco, temos, nele, os passageiros de primeira, segunda e terceira classe e, assim como o Titanic, poderá não haver botes de salva-vidas para todo o mundo).

Se voltarmos os olhos para o Brasil, em que pese o grande impacto ambiental que poderá vir a ser a perda de 40% da floresta amazônica, é o Nordeste que poderá se tornar a região mais afetada já que, com o aquecimento, a evaporação aumenta e a disponibilidade hídrica diminui. O que pode transformar o semiárido numa região árida: um quase deserto, com perda de até 80% de nossa área agricultável.

Tudo isso explica o surgimento, no seio dos movimentos indígenas, sociais e ecológicos de um Fórum Alternativo pela Justiça Climática, que denuncia, em Copenhague, o capitalismo - com sua lógica de acumulação cada vez mais destrutiva - como o responsável maior pela atual crise planetária e rejeita a adoção dos chamados mecanismos de mercado como solução. Basta se verificar que, apesar de Kyoto ter adotado o mercado de carbono (onde empresas e países compram o direito de poluir ao financiarem atividades ``sustentáveis`` nos países em desenvolvimento), as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), ao invés de diminuírem, só fizeram aumentar desde então.

Portanto, para além do debate de metas de emissões (que são absolutamente necessárias e urgentes) e do financiamento (para mitigação e adaptação), o que está em cheque, nesse momento de crise civilizatória, são: tanto o modo de produção capitalista - que, ao transformar tudo em mercadoria, submete a natureza à sua lógica produtivista/consumista - como o modo de vida que lhe é subjacente. Sua expressão máxima, o american way of life, se estendido para toda a população mundial, exigiria a existência - como se possível fosse - de pelo menos quatro planetas Terra.

Trata-se, portanto, de contrapor a esse modelo, aquilo que os indígenas andinos denominam de ``Bem Viver", que, nas palavras de Evo Morales, significa estar ``em harmonia com os outros seres humanos e com nossa Mãe Terra``. Construir uma nova sociabilidade que possa vir a ser ecologicamente sustentável, socialmente igualitária, étnica e culturalmente diversa e politicamente democrática é o desafio que se coloca para a humanidade neste momento. Estaremos à altura dele?


JOÃO ALFREDO TELLES MELO
advogado, professor e vereador pelo PsolL em Fortaleza

0 comentário(s):

Postar um comentário

Deixe sua sugestão, crítica ou saudação juntamente com seu contato.

 

© 2009-2012 movimento contestação