Por Aristóteles Cardona Júnior -@propalando
"Agrotóxico é um nome bonito criado pela indústria. O certo é veneno!"
Esta frase foi proferida por um agricultor em conversa recente no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolina. E está coberto de razão. Estamos falando de veneno. Mas tudo faz parte de uma grande jogada de manutenção do controle sobre a agricultura brasileira e mundial.
O Brasil hoje é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. São derramados em solo e água cerca de 1 bilhão de litros deste veneno, em média, a cada ano. Esse número nos leva ao seguinte cálculo: são cerca de 5 litros para cada brasileira e brasileiro por ano.
O nicho do mercado movimenta cerca de US$ 48 bilhões de dólares em todo mundo, sendo 16% desse valor só no Brasil. São 6 as empresas transnacionais que comandam este processo: Syngenta, Bayer, Basf, Monsanto, Dow e Dupont. Juntos são responsáveis por mais de 2/3 de todo o mercado. O cálculo não inclui os lucros auferidos com outros produtos do pacote, como as sementes transgênicas, produzidos em sua maioria por estas mesmas empresas.
E as consequências?
Apesar de ser um tema pouco pesquisado, considerando a sua dimensão e relevância social, o que existe aponta claramente para as terríveis consequências para o solo, alimentos, água e, principalmente, para a saúde humana.
Além disso, os profissionais de saúde são pouco preparados, em geral, para identificar e conduzir casos decorrentes do uso do agrotóxicos, sejam eles agudos ou crônicos.
E o contexto geral?
O Brasil passa hoje por um dito e exaltado desenvolvimento econômico que há tempos não se via. Inegável. Mas cabe uma importante reflexão: De que desenvolvimento estamos falando? Mesmo numa perspectiva puramente econômica, o que temos hoje é um país cada vez mais dependente da exportação de commodities (matérias prima), em detrimento de produtos com maior valor agregado, com maior intensidade tecnológica. Quem fala isso é o IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Segundo o banco Credit Suisse, em 2010, as commodities representaram cerca de 69% do valor das exportações brasileiras (leia aqui). O detalhe é que parte destas commodities são de produtos diretamente relacionados com o alto consumo de venenos em nosso país, como a cana-de-açúcar e a soja.
Para onde rumar?
A luta contra os agrotóxicos, em especial no Brasil, é, invariavelmente, uma luta contra o agronegócio. Não é preciso nem aprofundar as análises para compreender que ambos, agronegócio e indústria química, estão interligados.
Mudar não é um desafio fácil, afinal, o uso dos venenos nas plantações faz parte de uma cultura já bastante arraigada.
É perceptível, e eu tenho sentido isso aqui pelo Sertão, que muitas vezes as pessoas conhecem as consequências. Muitas até já sofreram e/ou sofrem os resultados óbvios do uso do veneno. A questão é que pouco conhecem ou são estimulados a trabalhar com práticas sustentáveis e saudáveis. A idéia que domina é a de que é praticamente impossível produzir sem venenos agrícolas.
E o campo da Agroecologia tem muito a oferecer nesta questão.
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Há hoje um importante flanco de resistência que é a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida com seus diversos Comitês espalhados Brasil afora. Têm dado conta de articular e construir ações que atentem para a resistência necessária e a importância desta luta. Um indicativo do acerto desta Campanha pode ser visto na gigantesca campanha lançada pelo agronegócio em todas as grandes emissoras de TV hoje que aponta para uma "mudança na imagem do Agro no país" e traz o lema "AGRO - um Brasil cresce forte e saudável".
Para mais informações sobre a campanha, acessem dois sítios:
http://mpacontraagrotoxicos.wordpress.com/ (mantido pelo MPA)
http://www.mst.org.br/taxonomy/term/551 (no sítio do MST)
Um ótimo caderno de textos também foi construído pela Campanha e pode ser acessado em:
Para entrar em contato com a Secretaria Operativa Nacional da Campanha o e-mail é:
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