Forças Armadas, um centro de formação de bolsonaros

A resposta racista a uma pergunta de Preta Gil colocou novamente em destaque o deputado federal Jair Bolsonaro, já notório por suas declarações homofóbicas. Multiplicaram-se os repúdios às declarações do deputado, e cresce a pressão contra ele. Mas ainda há uma incompreensão sobre quem é Bolsonaro e o que ele representa.

Algumas reações de quem viu sua entrevista foram “Ele é louco?” ou “Quem vota nesse cara?”. É importante responder a essas perguntas, porque a resposta a elas passa por uma das mais importantes instituições do país. Bolsonaro não é louco, e nem é o único a sustentar essas ideias. Seus eleitores não são desavisados, e ele não foi eleito por acaso. Bolsonaro representa as Forças Armadas e tem uma base eleitoral sólida entre os militares.

Ele não é apenas um reacionário, é um tipo específico de reacionário. Há deputados reacionários eleitos por suas igrejas, deputados reacionários eleitos pelo agronegócio. Deputado reacionário eleito pelas Forças Armadas, Bolsonaro é o único. Não por acaso, é deputado pelo Rio de Janeiro, estado com a maior concentração de militares do país. Enquanto mantiver essa base de apoio, o que diz a opinião pública não lhe importa.

Suas principais “bandeiras”, a homofobia, o machismo, o saudosismo da ditadura e o desprezo pelos direitos humanos são parte integrante da filosofia oficial das Forças Armadas (não é o caso do racismo – este fica por conta do Bolsonaro mesmo –, mas é natural que ele floresça em conjunto com essas outras “ideias”).

Exército, Marinha e Aeronáutica são abertamente homofóbicas e proíbem o ingresso e permanência de homossexuais assumidos em seus quadros. São abertamente machistas, e impedem que mulheres militares cheguem aos postos de oficiais generais. As três forças glorificam abertamente o golpe de 64 e o que chamam de “combate à subversão”.

O desprezo pelos direitos humanos, embora não conste explicitamente em documentos oficiais ou regulamentos, está ainda mais arraigado. A doutrina militar brasileira considera a violação aos direitos humanos indispensável ao êxito militar. A tortura é tema obrigatório nos cursos de formação de praças e oficiais e não raras vezes as aulas são práticas (alguns exemplos, entre os casos que vieram a público: http://migre.me/49bxy,http://migre.me/49byk, http://migre.me/49bAy, http://migre.me/49bJ0).

As canções entoadas no quartéis são uma das expressões mais típica da mentalidade que os comandantes buscam transmitir às tropas. Nelas constam versos como: “Interrogatório é fácil de fazer, você pega o suspeito, bate nele pra valer”, “O soldado é o guerreiro, que mata o guerrilheiro, com a faca entre os dentes, esfola ele inteiro” ou ainda “Na aldeia inimiga, vou matar quem estiver, seja velho ou criança, aleijado ou mulher”.

A identificação dos militares com esse conjunto de ideias não é automática. Nada implica que quem ingressa na carreira militar concorde com essas posições. Muitos continuam a discordar mesmo após anos de serviço. Mas há um esforço institucional para adequar os militares a essa ideologia. Dos colégios militares à Escola Superior de Guerra, passando pelo treinamento dos recrutas, há mecanismo, explícitos ou não, para reproduzir esse ideário.

Incubadas no interior de um órgão estatal supostamente subordinado ao governo civil, difundidas com apoio de verbas públicas, essas concepções atingem o conjunto da sociedade. Se não eliminarmos o criadouro, outros bolsonaros virão. E não só no Parlamento. A modernização das Forças Armadas Brasileiras – no sentido de uma ruptura com suas tradições conservadoras e autoritárias – é indispensável para a consolidação da democracia no país.

http://riscossablog.wordpress.com/2011/03/31/a-formacao-de-bolsonaros/

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