Hanrrikson de Andrade
Especial para o UOL NotíciasNo Rio de JaneiroAs diretivas de segurança da comitiva do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para a visita à Cidade de Deus, neste domingo (20), na zona oeste do Rio de Janeiro, causam opiniões divergentes entre os moradores e líderes da comunidade. O esquema montado pela equipe da Casa Branca inclui o uso de agentes do serviço secreto dos EUA e atiradores de elite do Destacamento Anti-Terror do Exército brasileiro posicionados em lajes de casas localizadas em pontos estratégicos. Mas há moradores que prometem não permitir a entrada de oficiais em suas residências.É o caso da professora Regina Antunes, 59, dona de uma creche que funciona em frente à praça do Lazer, na avenida José de Arimatéia, que deve servir de passagem para a limousine presidencial. Ela conta que, durante esta semana, três pessoas (dois policiais, um civil e outro militar, e uma mulher representando a Casa Branca) tentaram convencê-la a cooperar com o esquema de segurança articulado pela comitiva americana. Como a moradora antecipou que não permitiria em hipótese alguma o uso de sua laje como ponto estratégico de observação, os oficiais teriam ameaçado obrigá-la a ceder por meio de uma ordem judicial.ANÁLISES
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"Eles desrespeitaram o meu direito, a minha propriedade. Eu poderia até liberar, dependendo da conversa deles, mas resolveram me ameaçar e agora é que eu não quero mais conversa. Eu estou revoltada com essa situação", disse.Regina, que é favorável à visita de Obama, já pensa até em organizar um protesto simbólico para domingo. Ela pretende comprar narizes de palhaço e distribui-los entre os moradores que vivem a mesma situação. "Se der certo, vai ser um protesto pacífico, pois é assim que estamos nos sentido: como palhaços. Eu gosto do Obama, quero muito que ele venha aqui, mas desde que haja respeito com os moradores da Cidade de Deus", reclama.A aposentada Ivonete Ferreira, 62, também diz que não aceitará ceder sua laje. Ela mora em um dos pontos mais estratégicos: uma casa praticamente em frente ao Odylo Costa Neto, o centro de atividades cuja quadra poliesportiva será usada como palco principal do evento. Ela afirma que alguns oficiais a procuraram na última quarta-feira (16), mas a conversa não evoluiu. Um coordenador da unidade educacional adiantou ao UOL Notícias que a comitiva americana quer colocar um atirador de elite na laje de Ivonete, pois de lá se tem uma visão privilegiada de todo o centro Odylo Costa Neto. "Pode ser o Obama, o Lula, não importa. Na minha casa, ninguém entra", afirma.Cufa reclama de arrogância
A Cufa (Central Única das Favelas), entidade mais representativa em toda a Cidade de Deus (e outras comunidades, em geral), não participará da organização do evento de recepção a Obama. Pelo Twitter, um dos criadores da Cufa, Celso Athayde, disparou contra os "mensageiros da Casa Branca", segundo palavras do próprio. "Obama, continuo te amando. Mas não dá pra aceitar o comportamento arrogante dos mensageiros da Casa Branca. (...) Respeite a CDD", publicou ele nesta sexta-feira (18). Apenas o grupo de grafiteiros da Cufa participará do evento.Obama e EUA geram amor e ódio entre a população do Rio de Janeiro
O rapper MV Bill, que também é um dos criadores da Cufa, tinha desistido de participar da recepção a Obama antes mesmo da decisão da entidade, pois participará do projeto social Aglomerado. Segundo Athayde, no dia da visita do presidente americano, a Central Única das Favelas só abrirá às 17h. "Chegaram ao absurdo de pedir pra ter somente quatro pessoas dentro do espaço da Cufa", reclamou ele. "São abusos e exageros na favela. Estão querendo fazer um zoológico", respondeu ele a um usuário que perguntara o motivo do rompimento.Algumas mensagens depois, Athayde complementou: "A gota d'água foi quando a Casa Branca se recusou receber as lideranças comunitárias, esse foi um dos motivos da nossa saída" (sic). Assustada com o volume e o conteúdo das mensagens, a própria Embaixada americana ligou para o produtor de hip hop: "A embaixada acaba de ligar reclamando de mim. Lamento amigos e amo vocês, mas meu compromisso é com a favela. Não expulsem os moradores domingo", disse.De acordo com o conteúdo das críticas de Athayde, a Casa Branca estaria disposta a esvaziar as ruas da comunidade no domingo e revistar qualquer pessoa que venha a sair de sua residência, até mesmo crianças. A embaixada americana não se pronunciou a respeito.
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