Meu sentimento de revolta é imensurável e, incontáveis são os fatores que me causam esta revolta.
Na quarta feira (dia 22 de dezembro) a noitinha, meu pai e minha mãe se acidentaram de moto. Me revoltou o fato de ter feito diversas correrias, meu irmão e eu ao saber do ocorrido, e ainda assim chegamos ao local do acidente antes da ambulância que prestaria socorro. Me revoltou o fato de o meu irmão ter de ajudar a colocar minha mãe na maca, pois não havia médico socorrista, apenas o técnico em enfermagem e o motorista. Me revoltou o fato de ouvir o técnico dizer a minha mãe que reclamasse com o Tarcísio, pelos buracos nas rua, pelos quais a ambulância passava e a faziam gemer de dor, devido a várias costelas quebradas em razão do acidente.
Me revolta e me envergonha o fato de ter tido a oportunidade de passar a noite com a minha mãe na emergência do Hospital Municipal, devido ao fato da mesma não estar abarrotada, como de costume. Me envergonha o fato de ter mentido para os porteiros, para pode entrar e esperar a minha mãe sair do bloco cirúrgico.
Me revolta o fato de ver a minha mãe dividir um quarto de 2x4m com mais duas pacientes. Entretanto, uma ganhou alta na véspera de Natal, e outra entrou no seu lugar a noite, surtando desde então. Me envergonha ter de fazer um escândalo naquele hospital, e assim conseguir a remoção de quarto para que a minha mãe pudesse ter um pouco de sossego para se recuperar. Me envergonha ter conseguido um colchão ortopédico e confortável para a minha mãe, por conhecer “alguém” no hospital. Foi nesta noite que eu entendi aquelas pessoas que tanto eu criticava, que pagam para furar a fila de um atendimento no serviço público. Mas me envergonha ainda mais cogitar passar por cima da minha própria ética para ver a minha mãe receber um atendimento, no mínimo, de qualidade. Sem dúvidas, eu venderia a minha alma para ver ela bem e se recuperando com dignidade. Mas isso sim, me envergonha, pois não deveria ser assim.
Me revolta e me envergonha pagar um convênio de saúde privada, e não poder fazer o mesmo para minha mãe. Mas o pior, que o direito a saúde é garantido pela constituição... deveria, ao menos. Bom, agora felicidade também é direito garantido pela constituição: logo, posso processar o Estado por não ter esse direito devidamente assistido, não é mesmo?!
Esses últimos dias, não foram fáceis, muito pelo contrário, me sinto frágil e impotente. Me revolta estar impotente, e me envergonha viver em meio essa realidade.
Me revolta ter de escrever para mostrar esse meu sentimento, e me envergonha a ser a única a me manifestar.
Não me interessa comover ninguém, mas rezo a Deus que alguém faça alguma coisa, nem que seja escancarar a sua revolta, como eu.
Caríssimos políticos, hipócritas representantes da nossa sociedade que aumentaram os seus próprios salários. Saibam que eu não vou esquecer disso. Não mesmo.
Por MARIA,L.P.
Galera,
ResponderExcluirobrigada pelo apoio na divulgação do texto e da idéia!
Grande abraço!