Uma década para as mulheres, cem anos para a sociedade

Se o século XX foi o das mulheres, como afirma o historiador britânico Eric Hobsbawm, o que nos reservaria o futuro? Já é possível vislumbrar o que teremos no século XXI a partir dessa primeira década que se completa agora?
Ouso fazer algumas especulações e, confesso, quase preces.
Os últimos cem anos foram das mulheres porque nós alteramos radicalmente nossa posição na sociedade. Se é verdade que sempre trabalhamos, agora ocupamos cada vez mais os espaços de decisão e de poder. Ampliamos nosso acesso ao ensino formal e já somos maioria nas universidades. Controlamos a natalidade, mas continuamos lutando para ter o direito sobre o próprio corpo – em parte do mundo, inclusive no Brasil, o aborto ainda não é legal. A violência também se mantém e a noção de posse sobre a mulher permanece como um dos últimos bastiões onde o machismo pode se agarrar.
Nós ainda não alçamos todos os vôos nem atingimos todas as metas – verdade seja dita. E será que é isso que precisamos fazer? Até que ponto queremos a igualdade dentro dessa mesma sociedade, tal qual ela está configurada? É na competitividade que vamos viver, ou seja, dentro dessa lógica construída pelos e para os homens?
A primeira década do século XXI mostra que sim.
O debate pode parecer muito abstrato, mas existem exemplos muito práticos de sua aplicabilidade. Elegemos a primeira mulher presidenta do Brasil. Pois bem. Isso ocorreu com pautas feministas? A postura de Dilma Rousseff é absolutamente divergente daquela que já conhecemos ou ela encarna os mesmos valores e feições dos políticos de sempre?
A resposta, acho, é que até aí, nada de novo. Se simbolicamente é muito forte termos uma mulher ocupando tal cargo, é também sintomático que ela o faça da mesma forma que todos os seus antecessores, ou seja, os homens.
Eu espero, sinceramente, que o século XXI seja marcado por um novo pacto de convivência entre a humanidade.
E é possível pensar assim. A mudança impetrada pelas mulheres foi tamanha que conseguiu chacoalhar todas as relações estabelecidas. Já não se fazem mais famílias como antigamente. O sexo não é pecado, tampouco o divórcio. A maternidade mudou. Tudo mudou. E isso está diretamente relacionado com a libertação feminina.
Afinal, não estaria na hora de construirmos outros parâmetros? Se estamos pegando nossos destinos nas mãos, por que não fazer diferente? É claro que a simples entrada das mulheres nos diferentes espaços por si só já altera a ordem das coisas. Mas não é suficiente para mudanças estruturais que precisamos encarar caso queiramos que a humanidade siga existindo.
A começar pela nossa relação com o meio ambiente e o próximo. Se o século XX foi das mulheres, o século XXI poderia ser de todos, igualmente juntos.


 Escrito por Maíra Kubík Mano às 07h48

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